A população brasileira finalmente terá um banco de dados genético para chamar de seu. Com o apoio do Google Cloud, o serviço de nuvem da empresa americana, e dos laboratórios da empresa brasileira Dasa, a iniciativa de mapear o genoma brasileiro é das cientistas Lygia Pereira e Tábita Hünemeier, do Instituto de Biociência da Universidade de São Paulo.
Intitulado DNA do Brasil, o estudo terá duração de pelo menos 10 anos e será conduzido em três etapas que tratam da coleta, armazenamento e análise das informações. “O objetivo é entender, de fato, quem é o brasileiro e recontar a história do País através do estudo do genoma”, diz Haroldo Gali, executivo de vendas do Google Cloud.
Durante a próxima década, mais de 15 mil pessoas terão suas salivas coletadas. Desse total, apenas 3 mil participantes participarão do estudo de fato. A razão é financeira. O custo do sequenciamento genético ainda é alto e a pesquisa segue em busca de mais investimentos.
A falta de aporte financeiro atrapalha e contribui para o atraso do Brasil no desenvolvimento de estudo genético de sua população. Países como China e Estados Unidos já computaram dados de mais de 1 milhão de pessoas. A diferença por lá é que o processo de sequenciamento é mais barato e leva apenas 10 minutos para ser feito em centros de pesquisa ligados à Universidade de Harvard e ao Instituto de Tecnologia de Massachusetts. O tempo médio por aqui é de 24 horas.
A pesquisa será feita em duas frentes. Uma consiste em observar os genes brasileiros para entender as diferenças genéticas da nossa população com outros povos. Isso poderia auxiliar a indústria farmacêutica, por exemplo, a produzir medicamentos mais efetivos para atuar nas particularidades do organismo brasileiro.
Outro objetivo tem caráter mais social e histórico. A ideia é construir uma árvore genealógica genética para entender cada ponto do DNA dos brasileiros. De onde eles vieram, quais tribos indígenas têm seus genes representados,
Para fazer isso, o primeiro passo é realizar o sequenciamento genômico dos participantes do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA), organizado por universidades federais de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Rio Grande do Sul, Espírito Santo e também pela Fundação Oswaldo Cruz. Após a coleta, o material biológico é transformado em dados informacionais e armazenado em servidores virtuais.
A colaboração do Google vem nessa parte. A gigante de Mountain View, através da divisão Google Cloud, firmou um acordo com as cientistas e vai ceder espaço e capacidade de armazenamento de dados na nuvem. Cada um dos 3 mil genomas analisados pode contar mais de 500 GB de dados. Em uma conta simples, seria necessário espaço para salvar 1,5 milhão de GB de informações (ou 1,5 petabyte).
Para manter a segurança das informações, o Google, que já presta serviços para a Dasa, garante que não terá qualquer acesso ao material. A companhia também informa que os dados serão anonimizados (eles não indicarão qual pessoa contribuiu com cada amostra coletada) e criptografados.
(Texto: Exame)