ONGs vivenciam onda de abandono de animais durante pandemia da COVID

ONGs vivem onda de abandono
Foto: Divulgação/Cão Feliz

A COVID-19 provocou uma alta no número de animais abandonados durante a pandemia. Não há dados oficiais da Prefeitura da Capital sobre isso, mas há o trabalho das ONGs (Organizações Não Governamentais), que dizem que os chamados de socorro diários dobraram. Para piorar a atuação limitada das entidades, a demanda cresce enquanto as doações diminuem.

A presidente-fundadora da ONG Cão Feliz, Kelly Macedo, contou ao jornal O Estado Online que os pedidos de resgate para animais de rua subiu 90% desde o início da pandemia.

“O que eu mais queria, o que eu peço a Deus todos os dias é que as pessoas se conscientizem e parem de jogar os animais na rua como se fossem lixo”, desabafou. “Com a desculpa da pandemia [para abandonar os animais], a demanda de animas abandonados aumentou 90%.”, completou.

Foto: Reprodução/Instagram

A gravidade da situação é mostrada em números: a ONG está com 147 animais sob seus cuidados. Outros 69 são de responsabilidade da entidade, mas estão em lares temporários até que sejam doados. A marca é inédita na história da entidade, que atua desde 2013.

“Nós tínhamos muitos animais nos lares, mas no abrigo mesmo, nunca tivemos 147 animais. Agora, estamos no limite, não podemos resgatar nenhum animal pela lotação e pelas dívidas geradas em clínicas veterinárias”, contou.

Além de acolher os animais abandonados, a Cão Feliz também recebe os cachorros vítimas de maus-tratos e que são resgatados pela Decat (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Ambientais e de Atendimento ao Turista). Atualmente, são 39 no abrigo.

A onda de abandono de animais na pandemia também foi sentida na ONG Pedacinho do Céu. A vice-presidente da entidade, Tereza Bandeira, explicou que antes da pandemia, eram atendidos cerca de dois a três pedidos de resgate de animais por dia. Agora, são pelo menos seis.

“Todos os dias a gente recebe pedido de socorro, mas não conseguimos atender porque o espaço está lotado e o número de doações diminuiu”, disse.

Além disso, um pedido de socorro nem sempre se trata de um único animal, como explicou Bandeira. “Por exemplo, já recebemos um pedido para resgatar uma ninhada. Então, imagina: um pedido que vira cinco [animais], seis [animais]”, detalhou.

Ela avalia que a cultura de deixar cães e gatos em “segundo plano” é o que elevou o aumento de abandono nas ruas.

“Existe uma cultura local que o animal é aquele que fica lá fora, amarrado”, exemplificou. “No primeiro problema que a família enfrenta, o que as pessoas pensam é se livrar do peso extra, que é o animal”, comentou.

A Pedacinho de Céu atua há cerca de 10 anos, mas só foi oficializada há três anos. Atualmente, os integrantes da entidade cuidam de 110 animais na sede e contam com mais de 20 lares temporários, também de responsabilidade da ONG.

 

Doações escassas

A atuação das ONGs (Organizações Não Governamentais) sempre foi limitada por depender de doações e a pandemia da COVID-19 secou de vez o que chegava até as entidades.

Na Pedacinho do Céu, Tereza Bandeira afirmou que houve queda de 50% das arrecadações, o que chegou a zerar os estoques de ração da ONG em julho. “Nós nunca tínhamos ficado sem ração”, contou.

A mesma situação de baixa nas doações ocorreu na Cão Feliz, como explicou Kelly Macedo. “Nossas doações caíram em torno de 40% a 50%, de tudo, financeira, de ração”, afirmou.

Macedo reforçou que a entidade não recebe qualquer ajuda dos poderes, sobrando assim os amigos que acreditam no projeto e doam.

 

Recolhimentos pelo CCZ

Questionada pela reportagem, o CCZ (Centro de Controle de Zoonoses) informou que houve queda no número de recolhimentos de animais neste ano em comparação com 2019. Como exemplo, o centro informou que o número de animais recolhidos naquele ano foi 45% maior do que o percentual de 2020.

A média era de 204 animais recolhidos por mês em 2019 enquanto neste ano, são cerca de 170 recolhimentos por mês. O Município não tem uma estimativa de animais abandonados nas ruas.

“É necessário ressaltar também que nem todos os chamados ao CCZ resultam diretamente em recolhimentos, uma vez que só são retirados das ruas aqueles animais que apresentam comportamento agressivo, aparentam estar doentes ou que invadiram algum imóvel”, informou.

 

Educação para conscientizar

A necessidade de políticas públicas para conter o abandono de animais foi tema da conversa entre o jornalista João Flores e a professora universitária e presidente da Comissão de Bem-Estar animal do CRMV-MS (Conselho Regional de Medicina Veterinária de Mato Grosso do Sul), Eliane Vianna da Costa e Silva, no O Estado Play. A especialista apontou que a causa do abandono é a educação e que tratar as consequências não é o bastante.

“A causa não está nos animais abandonados, está em quem abandona e por quê abandona”, afirmou. Ela ainda destacou os motivos do abandono. “A crueldade é uma distorção psicológica humana, mas não é a razão do abandono somente. […] isso advém da coisificação dos animais”, disse.

O CRMV-MS já atuou na capacitação de professores da rede pública municipal para tratar do bem-estar animal com as crianças em função de uma lei que incluiu o tema como matéria de escola para o ensino fundamental. Em maio deste ano, o projeto de lei 10.048/21 foi aprovado pela Câmara Municipal como atividade extracurricular. Silva defende este trabalho para solucionar o problema.

“A gente precisa educar as crianças não só para lidar bem com cachorro, gato, mas também com peixe, bovino, cavalo porque a gente é um estado rural”, destacou.

 

A entrevista completa pode ser conferida no O Estado Play

 

Redes sociais

Mais informações podem ser obtidas nas redes sociais da Cão Feliz e da Pedacinho de Céu.

 

 

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