No bairro Maria Aparecida Pedrossian desde o início, é ele o exemplo que inspira e transforma as vidas da região
Jânio Batista de Macedo, 62 anos, é uma das pessoas mais conhecidas de Campo Grande. Não é para menos. Com uma carreira inteira dedicada ao ensino, o hoje professor aposentado foi o responsável pela educação de muitos dos políticos e figurões da Capital. Mas a trajetória desse mato- -grossense de Cáceres vai muito além disso. Há 38 anos morador do Maria Aparecida Pedrossian, na região leste, ou seja, desde a fundação do bairro, ele é responsável pela presidência da associação local de moradores.
Em um espaço amplo, de integração e com ótima infraestrutura, Jânio é quem coordena as dezenas de atividades oferecidas aos moradores, muitos de baixa renda. E olha que se oferece de tudo por lá. Assistência médica, jurídica, cursos de idiomas, biblioteca, aulas de esportes, dança… A lista é imensa. O sentimento é de orgulho pelo legado deixado desde que assumiu o local, há 15 anos.
“É um trabalho de dedicação, que não tem de envolver política. Eu tenho é de buscar o que é melhor para a minha comunidade. E isso independe de ideologia, de partido, de quem está no poder. Muitos líderes comunitários se deixam levar por esse caminho e não olham para os moradores, pois você fica preso”, disse Macedo.
O trabalho à frente da associação vai muito além de uma retribuição de Macedo para o bairro. É uma retribuição dele para a própria vida, como ele mesmo define. E, quando se fala da vida, o professor pode até desconversar, mas ele marcou a sua pela superação.
Professor Jânio chegou a Campo Grande em 1979. O objetivo era terminar o curso seminarista iniciado em Cuiabá e se tornar padre. Mas as oportunidades que uma nova capital oferecia foram mais tentadoras do que a vida de pároco. E ele decidiu seguir pela educação.
Sua trajetória na Capital teve uma pausa no início dos anos de 1990, quando voltou à terra natal e passou em um concurso da Universidade Estadual de Mato Grosso. Assim ficou até o início do novo século, quando decidiu voltar para Campo Grande a fim de trabalhar com política.
Mas os planos foram abortados. Em junho de 2000, Jânio foi acometido por um diagnóstico grave no intestino grosso. Ficou internado quase um ano na Santa Casa em decorrência da sequência de hemorragias. Saiu da Santa Casa com menos 50 centímetros de intestino e com uma bolsa de colostomia que usaria pelos três anos seguintes.
Sem o intestino, que foi totalmente retirado, restou para Jânio a aposentadoria compulsória. E ao invés do inevitável abatimento, o mestre acabou assumindo a Associação dos Moradores do Pedrossian, de forma voluntária. Antes constantemente fechada, o local hoje funciona com mais de 30 atividades permanentes, motivo pelo qual ele não só é reconhecido na cidade como em todo o Brasil, onde é palestrante convidado em eventos sobre comunidades e associações de bairro.
“Campo Grande é uma terra muito boa, formada por pessoas boas, com um espírito altruísta. Hoje me considero um campo-grandense de coração, com muito orgulho. Aprendi a amar este chão”, disse.
E o seu espírito altruísta, pelo menos no Maria Pedrossian, foi propagado. Os professores do local em sua maioria, foram alunos um dia. Como se propagando esse espírito de colaboração por um bairro melhor a todos, acabam voltando mesmo depois de até se mudarem.
“O trabalho voluntário é um serviço que contribui muito para o crescimento pessoal e a evolução como ser humano. Ocupar bem o tempo servindo à comunidade faz um bem à saúde e chegar à idade da maturidade sendo útil é um privilégio inenarrável”, completou Jânio.
“Campo Grande é uma terra muito boa, formada por pessoas boas, com um espírito altruísta. Hoje me considero um campo-grandense de coração”.
(Texto de Rafael Ribeiro)