Muito além da magnitude, Aquário do Pantanal vem para se fixar como centro de estudos

Aquário do Pantanal
Foto: Nilson Figueiredo

Por Kamila Alcântara e Michely Perez – Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul

Após quase 4 mil dias, 566 semanas, e 131 meses de 11 anos, hoje (28) finalmente será entregue Aquário do Pantanal, rebatizado para Bioparque Pantanal. Muito além da estrutura física grandiosa, assinada pelo renomado arquiteto Ruy Ohtake, o projeto arquitetônicoe promete ser referência mundial principalmente pelo potencial científico. Antes mesmo da sua inauguração oficial já serve como berço para diversos projetos e pesquisas. Dentre elas, está o desenvolvimento de um livro cominformações sobre os peixes localizados nos rios do Mato Grosso do Sul.

Segundo o coordenador do Laboratório de Ictiologia do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul), o biólogo Heriberto Gimenes Júnior, responsável pelo cuidado e povoamento dos peixes do Bioparque, o aquário já reproduziu mais de 60 espécies de peixes.

“O local que chamava de quarentena improvisada que mantinha os peixes para o Aquário do Pantanal, se tornou referência no manejo de peixes neotropicais, principalmente das espécies do Pantanal. Hoje, o laboratório funciona como um Centro de Pesquisa. Nós reproduzimos mais de 60 espécies de peixes, incluindo as ameaçadas de extinção, vamos lançar um livro sobre peixes do Pantanal daqui a duas semanas, então são vários produtos que já nasceram deste laboratório”, destacou.

Na questão do número de espécies em extinção que existem no Bioparque, o especialista destaca o Cascudo Viola, uma raia, tem vários peixes tetras, que são espécies ornamentais, além de Cascudos Amazônicos.  Quem for visitar o aquário, também poderá encontrar jacaré, jabuti, lobinho e sucuri.

“Espécies raras no laboratório temos 25, no Aquário serão 220 espécies. Nossa equipe hoje é composta por 11 profissionais, dentro dela temos os biólogos, que são responsáveis pela parte de comportamento, manejo, reprodução. Já os zootecnistas são responsáveis pela parte de nutrição, então tem todo um estudo de cardápio
para cada espécie de peixes, para atender as necessidades de cada animal, o médico veterinário, atua na biossegurança do plantel, então ele faz a identificação e tratamento de patógenos, então juntando toda essa equipe a gente faz o manejo adequado”, pontuou.

Lançada em 2011, o projeto tem assinatura do arquiteto Ruy Ohtake – que morreu em novembro passado, aos 83 anos e sem testemunhar a construção concluída. Acumulando “imprevistos”, a obra estimada em R$ 230 milhões, quase três vezes mais cara que o valor inicial, recebeu atenção do TJMS (Tribunal de Justiça), TCE (Tribunal de Contas do Estado), MPE (Ministério Público Estadual), OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e PGE (Procuradoria-Geral do Estado).

Alguns problemas no caminho

É bem provável que os mais jovens não entendam o quanto esse projeto impactou o Mato Grosso do Sul no ramo turístico, político e social. Por isso, é válido lembrar um pouco de quando tudo começou e, ainda, alguns empecilhos: Foi com a assinatura da Ordem de Serviço, pelo então governador André Puccinelli, na noite de 23 de maio de 2011, em um evento especial no local onde a edificação seria colocada, dentro do Parque das Nações Indígenas, nos altos da Avenida Afonso Pena.

“Queremos mostrar o estado para o mundo. Ninguém mais tira a marca Pantanal da gente”, afirmou André para imprensa da época. Em seu segundo mandato, ele assinava o início do projeto que marcou [negativamente] sua gestão estadual.

Inicialmente, a inauguração seria em 2013, mas por muito tempo avistamos apenas o esqueleto futurista cortando o Parque. Uma das principais promessas de campanha para reeleição, só em maio de 2019 que o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) anunciou a retomada da obra, focada no cumprimento de todas as medidas legais para execução.

Tudo sendo vistoriado e analisado por órgãos de controle financeiro. Nesse meio tempo, dos primeiros 12,5 mil peixes capturados, cerca de 10 mil morreram nos tanques, quando eram cuidados pela Anambi. Na responsabilidade do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul), os animais repovoaram os tanques.

Ainda em 2014, a empresa Cataratas do Iguaçu S/A ganhou a licitação para administrar o espaço, após a conclusão das obras. O grupo paranaense já administra pontos turísticos como o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro; o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, em Pernambuco; o Aquário do Guarujá, em São Paulo; e as cataratas de Foz do Iguaçu. Na época do contrato, a empresa estimou que os ingressos custariam de R$ 21 a R$ 30. Só que há poucos dias da inauguração, Cataracas desistiu do contrato e tudo ficará a cargo da Seinfra (Secretaria de Estado de Infraestrutura), que estuda a gratuidade da entrada nos primeiros quatro meses.

Atualmente

Segundo o portal Aquário Transparente, a retomada da obra foi realizada em três fases: a primeira foi de levantamentos, a segunda de formalização dos memoriais descritivos relacionados aos serviços necessários à conclusão do aquário (etapa burocrática de processos licitatórios), e a terceira, em andamento, de acompanhamento, fiscalização e gerenciamento de contratos. Secretário estadual, Eduardo Riedel, responsável pela Seinfra, recebeu a incumbência de entregar a obra antes do término do mandato tucano.

“E está lindo, é um orgulho ter participando de todo este projeto e que agora dia 28 conseguiremos entregar para o Mato Grosso do Sul. Quero dar os parabéns as empresas que trabalharam aqui e a toda a equipe técnica que participou diretamente neste empreendimento”, pontuou.

Nas redes sociais, Reinaldo Azambuja comentou que o novo nome amplia o conceito do que representa uma obra de tais magnitudes no Estado.

“O novo nome confere ao aquário uma dimensão maior do que a turística, imprimindo um conceito científico, educacional e de conscientização que o nosso Pantanal tanto precisa. Todos sabem a minha opinião sobre essa obra, mas já que ela foi iniciada e nela foram investidos recursos públicos, nosso dever era concluir o empreendimento”, declarou.

Além de enriquecer consideravelmente a oferta turística de Campo Grande e Mato Grosso do Sul, o aquário promete oferecer uma atração de entretenimento cinco estrelas. O Aquário vai utilizar tecnologias inovadoras, bem como técnicas interativas e interdisciplinares para garantir que os alunos tenham uma experiência acadêmica agradável.

O local será transformado em uma importante ferramenta de conservação de animais aquáticos e de pesquisa. Em uma escala mais universal, o Aquário do Pantanal vai oferecer a oportunidade única para estudantes, cientistas e pesquisadores se aprofundarem sobre questões ambientais e a biodiversidade brasileira. Tanto que, as primeiras visitações serão oferecidas excursões de alunos de escolas públicas e, só depois, para o público em geral.

Segundo o diretor-presidente da Fundtur-MS (Fundação de Turismo de Mato Grosso do Sul), Bruno Wendling, a abertura do Bioparque Pantanal vai impactar positivamente no turismo do Estado, redefinindo a oferta turística de Campo Grande e desmistificando a falsa ideia de que a Capital não possui atrativos suficientes.

“A atenção vai começar a ser voltada para a nossa, vejo alguns resultados que poderemos ter é que os turistas tanto do Estado, do Brasil e de outros países que vinham para o nosso Estado e iam direto para Bonito ou o Pantanal, agora devem ficar alguns dias em Campo Grande. Ele vai poder visitar o Bioparque e aproveitar tudo o que a nossa Cidade Morena tem a oferecer, como a sua rica gastronomia, a sua diversidade de parques e apropria beleza da cidade”, destacou.

Por meio da expectativa de aumento na procura turística, Wendling pontua que ainda no primeiro semestre deste ano, novas rotas aéreas devem ser implementadas em Campo Grande e no Estado. Além disso, destacou que uma pesquisa já está sendo realizada para identificar se existe a necessidade de implementação de novas rotas no transporte rodoviário para atender neste novo momento.

“Com o aumento de fluxo fica mais fácil para que a gente consiga captar novos voos, já teremos novidades principalmente no meio deste ano teremos novos destinos sendo atendidos, fruto do nosso trabalho do Decola MS que já vem sendo feito a quase cinco anos, mas entendo que esse destaque possibilitando o aumento de turistas facilita a negociação de novos voos”, revelou.

Legado arquitetônico de Ohtake em MS

Imponente, a estrutura instalada nos altos da avenida Afonso Pensa já chamava a atenção da população e de turistas antes mesmo da entrega. Trata-se de umas das obras do arquiteto Ruy Ohtake, uma das figuras mais importantes da arquitetura brasileira. Ele morreu no dia 27 de novembro de 2021 em São Paulo, após ser diagnosticado com mielodisplasia, um tipo de câncer de medula.

Antes de sua morte, o arquiteto, que tinha como característica a incorporação de formas geométricas definidas e linhas arredondadas em seus projetos, chegou a destacar que além de ponto turístico, o Aquário será referência para o Pantanal, com um banco de dados para estudos científicos servindo de base para formação de dissertações de mestrado e teses de doutorado. Nas suas poucas entrevistas sobre o tema, o arquiteto disse que chegou a visitar a construção de 15 em 15 dias em sua fase inicial.

“Se perguntarem qual o meu melhor projeto, digo sempre que é o que está em andamento. Que filho você mais gosta? Arquiteto é mais ou menos parecido. Nós temos que nos habituar em ser um pouco mais ousados”, disse em entrevista para Altair Santos.

Ele foi o responsável por mais de 300 obras entre as que se destacam o Expresso Tiradentes, o Hotel Unique em São Paulo e hotel Royal Tulip, em Brasília, o Instituto Tomie Ohtake, o Parque Ecológico Tietê e até a Embaixada do Brasil em Tóquio.

Abastecimento de água

O sistema de abastecimento de água é realizado mediante 3 entradas de alimentação de água doce, sendo elas: água da concessionária do município, poço que atende o parque das nações indígenas.

O sistema possui um tanque reservatório principal com capacidade de 930 m³ que recebe três entradas de alimentação, que passa antes por um filtro de carvão. Esse reservatório conduz a água para os emissores de ultravioleta (lâmpadas UV) que alimentam a rede de abastecimento, instalada em sistema de looping, atendem todos os aquários através do tanque de tratamento e retorna para o reservatório entrando pela superfície gerando uma recirculação da água.

A alimentação dos aquários será automática, por eletroválvulas que receberão sinal das boias de nível instaladas nos tanques de tratamento. Para transportar 5 milhoes de litros de água, foi necessário o apoio da Sanesul, Águas Guariroba e Corpo de Bombeiros Militar, que trabalharam na “força-tarefa” por vários dias.

Segundo o major Aldinei, os caminhões-pipa dos bombeiros fizeram inúmeras viagens com a água, que eram retiradas de pontos diferentes da cidade.

“Cada caminhão-pipa comporta cerca de 30 mil litros de água. Então, foram várias viagens, durante dias de trabalho, porque é necessário esperar a liberação das concessionárias de água, para que não prejudicasse o abastecimento em Campo Grande”, explicou o major para O Estado MS.

Qualidade do ar

Além da qualidade da água, o tratamento do ar também foi ampliado com o gás de Ozônio que é um agente oxidante que destrói qualquer agente patogênico e matéria orgânica existente na água. Este sistema compõe o tratamento químico-biológico de todos os aquários. O sistema possui dois geradores de ozônio com capacidade de 250 g/h cada. Os equipamentos instalados no aquário recebem o preparo de ar atmosférico antes de entrar nos geradores.

Eles estão conectados a uma única linha de distribuição central de ozônio por todo o prédio que, através de tubulação específica, será conduzido para Câmaras de Contato instaladas para cada um dos Aquários compondo o sistema de tratamento químico-biológico. A manutenção do fluxo de Ozônio será efetuada através de sistema automatizado através de atuadores pneumáticos e válvulas solenoides que são acionadas a partir de leituras por Sensor de ORP (Potencial de ÓxidoRedução). A Câmara de Contato foi fabricada em material plástico com paredes internas revestidas com resina resistente à corrosão em presença de  Ozônio.

Iluminação

O Sistema de Iluminação dos Aquários, visa manter um ambiente confortável e valorizar a beleza dos peixes e suas cores além de ser fundamental para a fotossíntese das plantas aquáticas ornamentais e permite aos visitantes a visão correta do ambiente submerso fluvial. Os aquários externos não possuem sistema de iluminação, estes serão iluminados indiretamente pela iluminação do paisagismo do jardim interno.

Já nos aquários internos, todos os quadros elétricos estão montados, instalados e interligados, através de uma infraestrutura de eletrocalha e eletrodutos. Esses quadros têm a finalidade de fazer o controle da iluminação de cada aquário localmente ou através da central de controle e operação com supervisório.

Proteção animal

Visando ampliar a proteção dos animais já existentes no Bioparque, uma equipe técnica prestará todos os cuidados veterinários necessários e com tratamento individualizado. Além disso, animais que ingressarão nas instalações do aquário deverão passar por um protocolo de quarentena. Recuperar do stress do transporte, considerando que o próprio stress diminuiu a imunidade do peixe. Observar o comportamento do peixe, se está se alimentando bem, observar sinais e anomalias, tratar uma doença ou infecção.

É também necessário permitir que o peixe engorde antes de entrar em um novo ambiente (exposição). Tudo isso, para eliminar ou mitigar o risco de inserir nos aquários de exposição um peixe doente portador de algum parasita que pode desencadear um surto e em casos mais graves dizimar todos os peixes no aquário onde ele for inserido.

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