Curtume evita o aviso-prévio coletivo após fim de interdição
Segue ainda a novela burocrática que envolve a licença ambiental do curtume da Qually Pelles, uma empresa que, após a interdição por dois dias chegou a cogitar um aviso prévio coletivo de 370 funcionários. Um desfecho que não ocorreu graças a uma liminar concedida em segunda instância, capaz de permitir o retorno das operações do empreendimento, que vivia em 2020 um momento de aumento de produção, de contratações, até viver uma “perseguição implacável” do poder público.
“A ditadura ambiental, feita sem critério, não pode promover a miséria e desassistência a famílias que contam com um emprego formal. É preciso bom senso e equilíbrio para se garantir o desenvolvimento econômico e o respeito ao meio ambiente”, fala ‘o químico industrial especialista em gestão ambiental, Roney Gomes, responsável técnico que acompanha de longa data a novela burocrática que envolve a licença.
À espera de um “de acordo” das autoridades municipais, o Grupo Qually Pelles, alega manter a mesma linha de trabalho, voltada para a excelência de uma “recicladora de lixo animal”, termo que conceitualmente a própria diretoria define o curtume como atividade.
Diante do impasse, como sempre fez, a empresa se dispõe a atender qualquer exigência normativa, que forem referentes ao que prega o Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e legislação nacional de meio ambiente. “Nós queremos trabalhar, ajudar a economia de Campo Grande crescer, prosperar, com geração de renda, empregos e destaque em um mercado que Mato Grosso do Sul pode mostrar protagonismo”, cita o fundador do grupo, o pecuarista Jaime Vallér.
Alívio para virada judicial que garantiu empregos na pandemia
De acordo com gestão do curtume, conforme informação passada a reportagem, o risco aos postos de trabalho gerados, seria por conta dos lucros cessantes, e perda milionária na interrupção das atividades. O desemprego, caso se confirmasse, não afetaria apenas aos trabalhadores e suas famílias, mas causaria um enorme prejuízo significativa a toda uma região da Capital, segundo contou o comerciante Celso Silva.
“Grande parte dos clientes são funcionários do curtume e o prejuízo seria muito grande. Não apenas para mim, mas também para outros comerciantes da região”, relatou o dono de uma mercearia no Jardim Inápolis, um dos polos mais atendidos com emprego pela empresa.
Beneficiado com a reativação do local que trabalha, José Silva conta que o sentimento foi de alívio, principalmente por conta das dificuldades que, ele e outros teriam, para arranjar um novo emprego em ano de pandemia. “Com o mercado de trabalho parado, perderíamos a esperança de uma recolocação e, muitos aqui têm experiência apenas nesse tipo de trabalho”, diz.
Quem também define a importância do retorno da produção da empresa é o presidente da Associação dos Moradores do Jardim Inápolis e Núcleo Industrial. “Acredito que 30% da população do Jardim Inápolis e Núcleo Industrial dependem do cortume. São pessoas humildes que teriam sua sobrevivência comprometida. É uma empresa muito correta com seus funcionários e também muito acolhedora. Sem essa fonte de renda o próprio bairro enfrentaria dificuldades”, pontua também com a visão de alguém que possui comércio nessa área.
Entenda o caso
Com duas décadas de atividade em Campo Grande, o Qually Pelles é um dos ícones do seu segmento na região Centro-Oeste. Não apenas pelo crescimento que atingiu na produção ao longo dos anos, mas pela capacidade de lidar com impactos no solo e água, por meio de tratamento técnico de vanguarda do seu descarte.
Por isso até, no episódio que gerou a recente interdição, a diretoria do grupo enfatizou duas coisas: uma referente ao entrave burocrático para a renovação da licença ambiental e outra quanto ao próprio status de alta qualidade que possui em fertirrigação.
O processo que serve para adubagem de terras e correção de solo, com insumos do redescarne, é feito no curtume com monitoramento especializado, métrica oficil e retorno contínuo de informação desse atendimento a propriedades rurais de Campo Grande. Locais que autorizam a destinação desse material e que se beneficiam do resíduo de uma das fases da produção de couro na “recicladora de lixo animal”.
Na sexta-feira, 19 de junho, um caminhão de fertirrigação foi apreendido em procedimento administrativo da Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano). Medida que gerou encaminhamento ao Ministério Público Estadual e causou em 29 de junho a interdição.
A alegação da investigação é que o grupo estaria com despejo irregular de líquido poluente em área não autorizada, tese contestada pelo pela empresa, que, na justiça, teve acatada uma liminar para retorno de suas operações, no quarta-feira, 1º de julho. “Cumprimos todas as exigências ambientais, por isso recorremos quanto à interdição”, enfatiza o advogado da Qually Peles, Arlindo Murilo Muniz.
Representando um alento para 370 famílias, a volta do curtume aconteceu em tempo de se evitar uma demissão em massa no curtume. E ocorre na esperança que a trama burocrática envolvendo o empreendimento tenha em breve uma final que respeite a geração de emprego e renda na Capital. Principalmente porque, a empresa provou em 2020, que poderia ajudar a cidade a superar os traumas sociais e econômicos da covid-19.
(Texto: Dirceu Martins)