A companhia de dança contemporânea, Cia do Mato traz uma nova roupagem para o espetáculo “Mudança”, que sofre inspiração da poesia homônima de Clarice Lispector. A apresentação já faz parte do repertório de obras mantidas pelo grupo. Chico Neller responsável pela cia faz a direção artística com iluminação de Espedito di Montebranco, trilha sonora de Jonas Feliz e figurino de Jane Rosa. Agora em forma de roteiro, os integrantes trazem dentro das linguagens artísticas um longa-metragem sul-matogrossense dirigido pela empresa Vaca Azul. O objetivo é atingir a reflexão e questionamento do público: “qual é o seu lugar?”, “quão frágil pode ser uma mudança?”.
Contemplado pela Lei Aldir Blanc, o espetáculo será apresentado de maneira online afim de garantir a segurança de todos. O filme, que foi um projeto também contemplado pelo FMIC 2019, estreia no dia 25 de Abril no canal do Youtube da Cia do Mato e terá mais duas exibições, uma em 16 de Maio e outra em 06 de Junho. O filme é parte da comemoração de 20 anos da Cia do Mato que ainda apresenta os espetáculos “Monólogos da Dor” e “Tempos Idos”, ambos sem datas confirmadas.
Chico Neller esclarece que poema de Clarice é só uma inspiração para as vertentes criadas pela cia há anos e agora com este novo formato. “Talvez tenha sido o nosso primeiro trabalho que tem um trabalho de corpo, mas não está preso. Ele transita em outras áreas da arte para tentar trazer esta sensação inspirada da poesia Mudança. Não é limitado como se tivesse rótulo, mas ela transita em todas as áreas porque não tem como ficar em um lugar só, nem o ballet clássico fica”, reflete.
Para ele este é um sonho transformado em filme. Ele explica que a Cia do Mato é um constante trabalho coletivo e autônomo de cada integrante. “Este interprete criador acontece com cada um cuida disso. Por isso, os deixo livres para eles criarem a partir da base de inspiração. Eu tenho a mão pesada e um lugar muito confortável nas minhas criações, então não interfiro. Tenho tentado há muitos anos sair dos lugares de conforto, de sair dos trabalhos bonitos que me incomodam para trabalhos que deixem algo, que seja para refletir”, revela.
Chico Neller destaca que falou para o cineasta Helton Perez usar da própria autonomia para criar o filme e é o mesmo que fala para os integrantes do grupo. “Deixa claro que o importante não é acertar e sim fazer que assim você vai separando o que quer para si das experiências e o que você não quer. Quero ver como é cada um deles falando. São três visões diferentes, a minha, dos intérpretes e agora do cineasta. Para mim o mais difícil é ver algo que não concordo e não colocar a mão, mas tenho acreditado na leitura do outro, e procuro entender o trabalho que fiz pelo olhar de outra pessoa”, pontua.
Neller queria que o filme fosse para o Autocine em Campo Grande e ainda pretende fazer isso acontecer, mas por enquanto é tudo online. Um dos integrantes da Cia do Mato, Halisson Nunes, fala da provocação positiva do diretor aos intérpretes de assinar os trabalhos contribuindo com uma pesquisa corporal individual de cada um. “O que permite a cada bailarino sentir a poesia da obra de formas diferentes e essas diferenças acabam se conectando no resultado final, seja do filme ou no espetáculo”, analisa.
(Texto: Rafael Belo)