Segundo análise realizada pela FGV, 36% da população brasileira está nesta situação
Por Rafaela Alves [Jornal O Estado]
Se uma família não tem acesso regular e permanente à alimentação, em quantidade e qualidade adequadas, ela está em situação de insegurança alimentar. Com o percentual crescendo nos últimos anos e, principalmente, com a pandemia da COVID-19, a importância da merenda escolar aumentou. Inclusive, em Campo Grande, segundo a nutricionista-chefe da Semed (Secretaria Municipal de Educação), Michelli Ignácio, a quantidade de merenda feita diariamente teve de ser maior, nessa volta às aulas, depois de dois anos de ensino remoto.
“Depois da pandemia as crianças vieram com mais fome e a gente teve que aumentar a quantidade feita. Inclusive, diretores me ligaram falando que teve que aumentar e que as crianças estão com mais fome. Reflexo da pandemia e reflexo também de ficar em casa e de muitas vezes não ter essa alimentação completa”, explicou.
A equipe de reportagem de O Estado foi até a Escola Municipal Fauze Scaff Gattass Filho e acompanhou a distribuição da merenda escolar. Segundo o diretor, Jaconias Cardoso, na escola há diversas famílias que estão vivendo em situação de vulnerabilidade e que por isso entende a importância da merenda, tendo em vista que para algumas crianças é a principal refeição do dia.
“Se não a única refeição que essa criança faz no dia. Então nós sempre nos preocupamos com a merenda para que essas crianças tenham essa alimentação rica em nutrientes, sempre seguindo um cardápio que é feito por nutricionista, até mesmo para que essas crianças possam se alimentar pelo menos uma vez ao dia de forma digna.”
“Muito nos alegra, porque assim, é ver a alegria dessa criança quando ela tá comendo. A gente entende que a escola não é só local onde a criança vem pra aprender só pensando no pedagógico e sim um local onde ela se sente acolhida em todos os aspectos, tanto no quesito de seguranã quanto de suas necessidades básicas, como a de alimentação”, disse.
Conforme dados da Semed, são feitas, aproximadamente, 83.920 refeições por dia, isso nas escolas urbanas, como é o caso da Fauze Scaff, que tem apenas uma refeição por turno escolar. “Já nas Emeis (Escolas Municipais de Educação Infantil), onde são realizadas quatro refeições, as crianças recebem até a janta, e o total diário passa das 76 mil refeições. Em toda a rede municipal são aproximadamente 185 mil refeições por dia”, contabilizou a nutricionista.
Na Favela Morro do Mandella, na Capital, onde famílias vivem em situação de vulnerabilidade, a merenda escolar só não é a única refeição das crianças porque a comunidade se ajuda, segundo Gilvana Mara, 46 anos, que mora com mais seis pessoas, dois adultos e quatro crianças, em um dos barracos. “Não chega ao ponto da criança comer apenas na escola, porque um vai ajudando o outro aqui. Mas ajuda porque a gente sabe que elas se alimentaram na escola”, disse.
A líder da comunidade, Greciele Naiara, 27 anos, reforçou que não deixa que as famílias cheguem ao ponto de os filhos terem apenas a refeição da escola como alimento. “Eu corro atrás de ajuda para que isso não ocorra. Aos sábados, mesmo, pela manhã, a gente distribui pão, em média 400 unidades e ainda 200 marmitas, onde são priorizadas as crianças, gestantes, idosos e morador de rua”, ressaltou.