Estações ferroviárias da Capital agonizam à espera do futuro

Locais vivem como centros de usuários de drogas e moradores de rua

Sem transportar passageiros desde 1996, a rede ferroviária de Mato Grosso do Sul apodrece. E o retrato mais fiel do abandono sofrido são as duas únicas estações que permanecem de pé em Campo Grande. Pelo menos por enquanto. 

Sejam tombadas pelo patrimônio histórico, como a área da Rotunda, na região central, ou simplesmente uma tentativa de reviver esse meio de transporte, como a parada do Trem do Pantanal, no Indubrasil, região oeste, o abandono é a tônica. E, como o tempo provou, as promessas de reforma acabaram sendo vazias. 

Uma placa amarelada e enferrujada na BR-262 é o único indício de que uma esburacada e suja rua é o destino para quem busca conhecer os destroços do que seria a parada de Campo Grande do Trem do Pantanal. O termo destroços não é mera figura de linguagem. Salvo o simpático logo que indica o que era para funcionar alí, todo o resto que foi reformado ou construído pode considerar condenado. Na chegada, a cabine destruída, já faltando a chancela, dão as boas-vindas ao lado de simpáticos cavalos e até um pônei, soltos por moradores vizinhos para pastarem e, involuntariamente, evitarem que o cenário se transforme em um matagal. 

Logo no corredor de acesso à área interna, com cuidado para não encostar no corrimão enferrujado, o “perfume ambiente” é de carniça, fruto dos animais mortos jogados em todo o terreno. Dentro do prédio, com pedaços do teto já faltando, é necessária mais atenção para não pisar nos pedaços de piso, concreto e vidro espalhados pelo chão. Nos banheiros, já não existem mais pias, vasos sanitários e torneiras. Na plataforma, tomada por pichações, a desolação é total: até mesmo a antiga estação do Indubrasil foi completamente destruída por um incêndio. 

“Isso parece cenário de filme de terror”, resumiu a dona de casa Ivani Mendes, 61 anos, vizinha do prédio abandonado. Ela se mudou para o lugar há alguns anos, vinda do interior, e descobriu por que o aluguel era mais barato que em outros locais do bairro, escolhido por ser próximo do trabalho encontrado por seu marido. “Desde que mudamos já escutamos relatos de tudo: gente usando droga aí dentro, relações sexuais, rituais macabros… De vez em quando aparecem gritos”, completou. 

Para quem esperava barulhos de locomotivas e viajantes, o Trem do Pantanal tem um presente sem expectativa de futuro. O último respiro foi em 2009, quando convênio realizado entre o governo do Estado e a União criou uma linha de passageiros entre Campo Grande e Miranda, passando por Aquidauana, primordialmente turística, chamada oficialmente Pantanal Express. Estava prometido que iria até Corumbá em 2011, mas isso não aconteceu. A construção da hoje abandonada estação custou R$ 740 mil. O projeto foi inaugurado em 9 de maio de 2009 e contou até com a presença do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva na viagem inaugural. 

O sonho de reviver o trajeto que virou até tema de música, contudo, foi terminando pouco a pouco até 2015, deixando a malha ferroviária à mercê do sucateamento e a bagunça instaurada sobre de quem afinal é a responsabilidade por uma eventual recuperação. Ferroviárias são de responsabilidade federal, segundo a Constituição Brasileira. Mas o ramal sul-mato-grossense é de responsabilidade da Rumo Malha Oeste, que adquiriu o trecho em 2016. A empresa não respondeu ao jornal O Estado sobre possível recuperação da estação do Indubrasil. E mesmo com os planos das gestões Reinaldo Azambuja (PSDB) e Jair Bolsonaro (sem partido) de recuperar os trens no Estado, por enquanto não passam de projetos, sem qualquer estimativa oficial de recuperação, deixando o prédio à mercê da destruição.

(Confira a matéria completa na pág.A6)

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