Em USF, combate à pobreza menstrual ganha espaço e mostra que problema existe

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A menstruação é algo natural para a maioria das mulheres, e por conta disso muitas têm um estoque de absorvente em casa. Porém, poucos sabem, mas existe uma parcela da população que não tem condições de comprar o produto de higiene íntima e precisa improvisar para passar pelo período; isso é chamado de pobreza menstrual. Pensando em ajudar a combater essa realidade, estagiárias do Curso de Medicina que atuam na USF (Unidade de Saúde da Família) do bairro Mata do Jacinto, em Campo Grande, tiveram a iniciativa de arrecadar absorventes e disponibilizar às pacientes por meio de um dispenser de PVC confeccionado por elas. 

A ação nasceu durante uma atividade proposta por dois enfermeiros da unidade, entre eles o profissional Welton Félix. “Tive a ideia de fazer alguma coisa contra a pobreza menstrual, queria aplicar de alguma forma na unidade, mesmo que aqui não tenha tanta vulnerabilidade, mas eu acho que é algo importante para as mulheres. Conversei com outro enfermeiro e tivemos a ideia de contar com a ajuda dos acadêmicos de medicina que abraçaram a ideia”, explicou. 

Um dos acadêmicos que ficaram responsáveis pelo trabalho foi Maitê Lopes Senger, 19, que cursa o terceiro semestre de Medicina. Ela não fazia ideia de que a situação atingia tantas mulheres. “Essa conversa despertou nosso interesse, fomos pesquisar sobre o tema e descobrimos que são mínimos os lugares no Brasil e no mundo que oferecem absorventes de forma gratuita. Para algumas mulheres é inviável gastar R$ 12 por mês, que é a média por ciclo menstrual. Com isso, elas usam paninhos ou até miolo de pão. Sendo um item básico de saúde, decidimos tentar ajudar o máximo de mulheres possível”, ressaltou.  

Em seguida, surgiu um novo desafio, os jovens precisavam distribuir esses absorventes de forma fácil e com baixo custo. “Iniciamos uma campanha de arrecadação de dinheiro e absorventes em nossas redes sociais que foi muito bem aceita e várias pessoas colaboraram com a causa que até então nem conheciam. Então começamos a pensar em como distribuir, que foi quando surgiu a ideia do dispenser que precisava ser algo barato e duradouro. Por isso, usamos o cano de PVC, deixamos mais acolhedor com desenhos e escrita para pegarem o quanto as mulheres precisarem. Foi deixado no banheiro da unidade para evitar qualquer tipo de constrangimento para elas”, disse Maitê.

O dispenser está no banheiro feminino da USF Mata do Jacinto e, segundo o enfermeiro Welton, a ação deu tão certo que os absorventes acabam rapidamente. “Na primeira vez que a gente colocou, uma semana depois já estava vazio e é um dispenser grande. Hoje em dia, a gente vai colocando de dez em dez.” 

Porém, essa é a única USF que tem a distribuição dos absorventes gratuitos. A vontade dos acadêmicos é de que o projeto vá para outros locais. “Nós já estamos no processo para expandir o projeto para outras unidades”, reforçou Maitê.

Isadora Farias, 18, também cursa Medicina, faz estágio na unidade e contribuiu com a arrecadação de absorventes. Segundo ela, conhecer a realidade de mulheres que não têm condições de comprar absorvente comoveu a futura médica. Eu fiquei muito chocada. Eu acho que é muito importante esse projeto e espero que ele seja implantado não só lá na Mata do Jacinto, mas em todas as unidades básicas de saúde e hospitais”, disse.  

De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas) Mulheres, 12,5% das meninas e mulheres no mundo se encontram na pobreza menstrual, e o alto custo dos produtos de higiene as impede de acessar meios adequados e seguros.

Na Câmara, projeto em tramitação

A vereadora Camila Jara (PT) protocolou na Câmara dos Vereadores, em Campo Grande, um projeto de lei que prevê ações de promoção da dignidade menstrual, de conscientização e informação sobre a menstruação, além do fornecimento gratuito de absorventes higiênicos pelo Executivo municipal. Segundo a parlamentar, uma política pública que pode beneficiar em torno de 72 mil campo-grandenses. 

“É muito triste e preocupante saber que nós estamos prejudicando nossas meninas e mulheres porque elas não têm acesso a um item básico de higiene que é o absorvente, nem nas cestas básicas que são distribuídas pelo próprio município ou pelo Estado não têm esse item. A gente vê que tem papel higiênico, sabonete, tem outros itens de higiene, mas o absorvente não vem”, disse Camila Jara.  

O PL foi protocolado no dia 28 de maio, Dia Internacional da Dignidade Menstrual, e deve ser colocado em discussão e votação nas próximas sessões. 

(Mariana Ostemberg)

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