A dependência do cigarro mata mais de 8 milhões de pessoas por ano. O que é preciso fazer para se livrar desse mal?
O Dia Mundial Sem Tabaco é lembrado em 31 de maio e é mais do que necessário reforçar que em tempos nos quais a Covid-19 continua levando quem amamos e admiramos, os perigos ficam mais latentes para quem é fumante.
“O vírus da COVID-19 ataca todo o organismo, tem a porta de entrada nos pulmões. Um pulmão danificado pelo fumo estará de portas abertas para o vírus, pois o tabaco danifica as defesas pulmonares além de também danificar o sistema vascular, pois ali o vírus age também. Enfim o tabagista facilita o estrago do coronavírus no organismo da pessoa que fuma”, elucida a médica pneumologista e professora do curso de Medicina, Ana Maria Campos Marques.
O ato de fumar tem relação com mais de 50 problemas de saúde, entre eles vários tipos de câncer (pulmão, laringe, faringe, esôfago, estômago), doenças do aparelho respiratório e as cardiovasculares.
“Suas mais de 7000 substâncias liberadas pela combustão, provoca várias doenças, maioria dos cânceres, doenças cardiovasculares. Durante a gestação, altera o desenvolvimento do feto, doenças cerebrovasculares, os derrames, as dislipidemias, o diabetes, praticamente todas as doenças têm no cigarro um fator de risco ou de piora da evolução da doença. Fumar adoece todo o corpo, costumo dizer que um envenenamento em suaves prestações que traz sofrimento e empobrecimento das famílias, o custo é alto”, explica a docente.
A nicotina, substância existente no tabaco é uma droga de ação no cérebro. Ela leva ao aumento de dopamina nos circuitos de recompensa do cérebro. Ao fumar um cigarro, a pessoa sente prazer, chamado picos de prazer. “O tabagismo envolve também a dependência comportamental, como atender um telefone acendendo um cigarro, após o almoço preciso fumar etc. A terceira dependência que é a psíquica, ligada às emoções: se estou triste fumo, se estou ansioso”, revela.
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), a dependência do tabaco mata mais de 8 milhões de pessoas por ano. Embora cerca de 7 milhões dessas mortes resultem do uso direto do tabaco e seus derivados, 1,2 milhão são de não-fumantes. Indivíduos que, sem optar, ficaram expostos ao fumo passivo.
“Parar de fumar dói, precisa também mudar os comportamentos ligados ao ato de fumar. É preciso saber que isso é uma doença e tem tratamento e tomar a decisão ‘quero parar de fumar’, estabelecer uma meta e cumprir. Medicamentos não fazem milagre, apenas diminuem a dor da parada”, conclui.
Depois do cigarro, o retorno da saúde
O representante comercial, Rodrigo Guerra Teixeira, 44 anos, começou a fumar bem cedo, quando tinha 18 anos. O vício o acompanhou por 26 anos e a pouco mais de um ano ele conseguiu se livrar do cigarro. Antigamente já chegou a fumar uma carteira por dia e quando bebia a vontade pela “droga” se potencializava.
“Passado o tempo diminuí para três cigarros por dia, no fim estava em um. Nesse meio tempo tive três paradas, a primeira com uma pneumologista há uns dez anos. Tive que parar de beber, tomar, café, chá, refrigerante, tudo que tivesse cafeína, consegui parar por seis meses, depois voltei a fumar bem pouco, mas a bebida não voltei mais. Há uns seis anos tive um acidente de moto, fiquei trinta dias internado, daí parei de novo por seis meses. Foi um mal que veio para o bem”, relembra Rodrigo.
Rodrigo fumava o cigarro da marca Malboro, o maço custava R$ 10, fazendo a conta desde que ele começou a fumar, há 26 anos, ele fumou 28.470 cigarros, comprou 1.423 carteiras e gastou R$ 14.230. Além de economizar, ele evitou o cancelamento de 3.915 horas de vida desde que teve seu último problema de saúde. “Pelos estudos divulgados, tudo indica que se deixa de perder três horas de vida a cada cigarro fumado, fazendo-se uma conta rápida, da última parada para cá vão dar quase 3 dias de vida que eu ganhei”, explica.
O representante comercial lembra que parar de fumar não foi missão fácil. Ele precisou usar adesivos de nicotina receitados por uma pneumologista, aliado a um medicamento que tira a ansiedade.
“Ele funciona como se fosse um desmame do vício, interrompe-se o fumo de imediato e substitui pelo adesivo, que começa em doses maiores de gramas e vai diminuindo aos poucos. O cigarro tem muita armadilha e não se para fumando, a nicotina é uma droga muito forte”, esclarece.
Coincidência ou não, Rodrigo parou de fumar aos 43 anos, mesma idade que seu pai faleceu de câncer no pulmão. Pai de família ele se preocupa em dar bons exemplos para sua filha.
“Eu não consigo entender como caí nesse vício. Meu avô aos 56anos infartou na minha frente, ambos causado pelo cigarro, comecei fumando na faculdade, só nos finais de semana e quando me vi um ano depois estava comprando e fumando todo dia a noite. Para os amigos eu virei um ‘caretão’, não bebo, não fumo, mas enfim desse mal não sofro mais. Tenho filha pra criar e preciso dar o exemplo, pois não quero que ela fume e nem beba, pois acredito que isso não traga nenhum benefício ao seu humano, perde-se: saúde, dinheiro e tempo”, finaliza.
O que acontece se você parar de fumar (box)
Após 20 minutos, a pressão sanguínea e a pulsação voltam ao normal.
Após 2 horas, não há mais nicotina circulando no sangue.
Após 8 horas, o nível de oxigênio no sangue se normaliza.
Após 12 a 24 horas, os pulmões já funcionam melhor.
Após 2 dias, o olfato já sente melhor os cheiros e o paladar percebe melhor a comida.
Após 3 semanas, a respiração se torna mais fácil e a circulação melhora.
Após 1 anos, o risco de morte por infarto é reduzido à metade.
Após 10 anos, o risco de sofrer infarto será igual ao das pessoas nunca fumaram.
Programa de Tratamento do tabagismo no SUS
O Programa Nacional de Controle do Tabagismo é promovido pelo MS (Ministério da Saúde), através do INCA (Instituto Nacional de Câncer). Ele é difundido em todo o Brasil e trabalha com o tratamento do tabagismo. Em Mato Grosso do Sul o programa foi aderido pelo governo e em Campo Grande quem cuida desses pacientes é a Sesau (Secretária Municipal de Saúde).
De acordo com a Farmacêutica e gerente técnica do Programa de Controle de Tabagismo da Sesau (Secretaria Municipal de Sáude), Sandra Maria Marconcini, o programa foi bem-aceito pela população e durante a pandemia do novo coronavírus os atendimentos não deixaram de acontecer e estão trazendo resultados positivos.
“Atualmente não paramos de atender nossos pacientes desde quando a pandemia se estabeleceu no Brasil. Para não propagar mais o vírus estamos fazendo atendimento individual. Por conta da pandemia optamos pela modalidade individual. Dependendo da fase desse programa fazemos também atendimento remoto”, explica.
nar o acesso é livre e está localizado em 14 USF (Unidade de Saúde da Família). “O paciente fica um ano sendo acompanhado pela aquela unidade de saúde capacitada. Ele passa um mês por quatro semanas estruturais semanais, depois que ele conseguiu parar de fumar ele vai para as sessões de manutenção. Se precisar de apoio medicamentoso pode ser utilizado, mas ai fica a critério do médico. Caso não consiga parar de fumar da primeira vez pode voltar quantas vezes forem necessárias, não tem limite”, evidencia.
A adesão por tratamento em Campo Grande é de 60%. O público maior é o feminino da faixa etária de 40 a 60 anos. Os adolescentes ainda não tem essa consciência. “Fizemos um levantamento e vimos estamos muito bem na aceitação. Cerca de 33% da população conseguiu parar de fumar com a ajuda do programa”, finaliza.
USF (Unidade de Saúde da Família) que integraram o programa
• Dr. judson Tadeu Ribas – Aero Itália – Rua Rio Galheiros, 280 – Bairro Jardim Aeroporto
• Albino Coimbra Filho – Rua Terlita Garcia, 1.438 – Bairro Santa Carmélia
• Jardim Batistão – Rua Souto Maior, 1.935
• Dr. Alfredo Neder – Rua dos Recifes, 981 – Coophavila II
• Dr. Mauro Rogério de Barros Wanderley – Rua Santa Quitéria, 1238 – Bairro Iracy Coelho
• Dr. Ademar Guedes de Souza – Rua Wilson Mangini Marques, 153 – Mata do Jacinto
• Dr. Judson Tadeu Ribas – Rua Anacá, 645 – Bairro Moreninha III
• Benedito Martins Gonçalves – Rua Antônio João Escobar, 01 – Bairro Oliveira
• Dr. Benjamin Asato – Avenida Evelina Selingard, 1.008 – Bairro Parque do Sol
• Dra. Sumie Ikeda Rodrigues – Rua Delmiro Golveia, 427 – Bairro Serradinho
• Dr. Syrzil Wilson Maksoud – Sírio Libanês – Rua Tamer Gelelaite – Bairro Santo Amaro
• Dr. Antônio Pereira – Rua José Nogueira Vieira, 337 – Bairro Tiradentes
• Dr. Cláudio Luiz Fontanillas Fragelli – Rua Dois Irmãos, 701 – Jardim Noroeste
• São Francisco – Rua Ida Baís, 19 – Bairro Nova Lima
(Bruna Marques)