Primeira professora indígena do Estado relembra o início da educação nas aldeias
Aos 90 anos, Angelina da Silva Vicente carrega o reconhecimento de ser a primeira professora a lecionar em uma aldeia no interior do Estado. Nascida em Nioaque, foi aos 14 anos que começou a levar o conhecimento para as crianças. Contudo, há 50 anos o destino a trouxe para Campo Grande, onde trabalhou na Funai (Fundação Nacional do Índio) até alcançar a aposentadoria.
“Nos mudamos para Nioaque quando eu era criança porque meu pai conseguiu um emprego lá nos Correios, minha mãe era lavadeira e eu e meus irmãos começamos a estudar”, relembra.
A primeira contratação não demorou a chegar: aos 14 anos Angelina foi escolhida para ser professora para o povo terena, na aldeia em que nasceu, e começou a dar aulas. Anos mais tarde, em 1970, a oportunidade de voltar para a Capital Morena e ela foi remanejada para a Funai.
Atualmente, Angelina é casada com Leopoldo Vicente, 90 anos. O casal que se conheceu ainda em Nioaque, quando ele servia o Exército no município, compartilha as histórias, alegrias e vivências de um casamento que perdura por quase 60 anos e de onde surgiram quatro filhos, netos e bisnetos.
Com uma vida marcada pelo trabalho na lavoura, o seu esposo, Vicente, auxilia Angelina em um projeto realizado na casa do casal, localizada na Aldeia Urbana Água Bonita. No local, oferecem sopa, alimentos, roupas e até cursos de bordado e artesantos para ajudar na renda das mães da aldeia.
“Eu cedi a minha casa, pequena, mas de coração grande”. Vicente e Angelina criaram os filhos na Cidade Morena. Contudo, ambos afirmam que, apesar de tantos anos na cidade, a saudade da aldeia sempre vai ficar em seus corações.
“Aqui nós vivemos muito bem, somos como uma grande família. Eles nos ajudam, nós ajudamos eles, sempre pensamos em comunidade. Nossos filhos estudaram aqui, cresceram. Mas a aldeia também faz falta”, relembra Angelina com um sorriso no rosto.
(Texto de Beatriz Magalhães)