Campo Grande 122 anos: O Evangelho da Cidade Morena segundo um pernambucano

Marcelo Tenório
Foto: Valentin Manieri

Desde 1999 na Capital, padre que foi da polêmica à glória enaltece a cidade que adotou. E onde foi adotado

Um pernambucano filho do agreste que escolheu Campo Grande e, devidamente condecorado filho da terra, não admite que falem mal da Cidade Morena.

Assim, de maneira direta, o padre Marcelo Tenório, 56 anos, define sua trajetória na Capital. Desde 1999 diocesano da Paróquia São Sebastião, no bairro Monte Carlo (região norte), e da Capela Nossa Senhora Auxiliadora, na região central, ele não economiza na saudação à cidade que escolheu para viver.

“Sinceramente, Campo Grande é: ou falar bem ou se calar. A cidade é tão boa, as suas maravilhas são tão intensas que o que tiver de desfavorável não vem ao caso”, disse Tenório.

Mas, até chegar a esse amor incondicional pela Cidade Morena, o padre passou por uma longa estrada. Seja literalmente nos caminhos que a vida lhe direcionou, seja pela fama recebida entre os campo-grandenses.

Tenório alcançou relativo destaque nacional na corrida eleitoral de 2018, quando declarou publicamente apoio ao atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Na ocasião, assim como seu candidato, usou suas redes sociais para emitir opiniões que acabaram se voltando contra ele, como a defesa das armas de fogo e até das bebidas alcoólicas.

Mesmo que a fama repentina não tenha vindo por motivos ideais, ele próprio admite que, dois anos depois, a redenção aconteceu, quando encabeçou a beatificação do italiano Carlo Acutis, um jovem que evangelizava pela internet e morreu aos 15 anos de leucemia, em outubro de 2006. Exatos quatro anos depois, uma criança campo-grandense teria se curado ao tocar as roupas com o sangue do europeu. O Vaticano aceitou as evidências e criou-se o padroeiro da rede mundial de computadores.

“Campo Grande segue livre de algumas das questões de outras capitais, como o trânsito, e uma coisa muito interessante que eu encontrei aqui foi não ver pobreza extrema”.

Percorrendo caminhos pelo mundo milagre

“Ele (Carlo) fazia a evangelização de jovens na internet e possuía um relacionamento muito íntimo e interessante com o Brasil, mesmo nunca estando aqui. Só que aqui ele acabou ficando bem conhecido e ocorreu este milagre com o Mateus (garoto que sofria de problema no pâncreas e teria sido curado ao tocar na relíquia de Carlo)”, disse Tenório.

Foi o ponto alto de uma trajetória iniciada em 1988. Foi quando o irmão de Tenório, Expedito, veio para Campo Grande e assumiu uma paróquia nas Moreninhas (região sul). No ano seguinte o padre mais famoso da Capital veio visitá-lo.

Daqueles distantes anos de 1980, o pernambucano guarda poucas recordações. Uma cidade ainda com muitas ruas de terra, distâncias ingratas para os bairros e um clima interiorano, mesmo já sob a condição de capital de estado. “Minha impressão não foi lá essas coisas”, disse.

O tempo foi passando, padre Marcelo, como é chamado, rodou pelo Brasil e até a França antes de decidir seguir os passos do irmão. E se estabelecer na Cidade Morena. Dez anos depois, as mudanças que ele encontrou o assustaram. Mas foi um susto bom causado pelo progresso. “Vi uma cidade bela, mudada, um lugar belíssimo, não era mais aquela cidade que eu havia conhecido. Não é difícil para amar, basta o primeiro olhar”, disse.

Mesmo pegando o jeito para conquistar os corações campo-grandenses, Tenório vê o clima interiorano se despedindo a cada ano que passa. O caminho para se tornar a metrópole desejada por muitos está trilhado, mas o padre ainda vê detalhes importantes quando comparada às suas andanças e até a sua cidade natal.

“Embora tenha seus problemas como toda cidade tem, Campo Grande segue livre de algumas das questões de outras capitais, como o trânsito, e uma coisa muito interessante que eu encontrei aqui foi não ver pobreza extrema. Você não via gente pobre no semáforo pedindo, mendigando, favelas, não se via. No Nordeste isso era muito presente, você para o carro e já acumula pedintes. Alguns dizem que foi colocado debaixo do tapete, eu não sei, mas a impressão que dava quando a gente chegava é de que a vida era muito boa, muito agradável, com uma possibilidade muito boa de desenvolvimento”, concluiu.

 

(Texto de Rafael Ribeiro)

 

Confira o caderno de Aniversário de Campo Grande. 

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