Campo Grande 122 anos: “Aprendi tudo em sonho”

Paulina Ferreira
Foto: Valentin Manieri

Benzedeira do Buriti diz que dom é de família

Aos 75 anos e com dificuldades de andar, Paulina Ferreira da Costa não nega uma oração a quem bate à sua porta. A benzedeira que mora em Campo Grande há 34 anos recebe quem chega à residência situada no bairro Buriti com cordialidade e dedicação. Com uma vela acesa em um pires e um copo de água com ramo de uma árvore, dona Paulina faz sua reza. Nas orações ela roga a Deus para que afaste o mau- olhado de quem a procura para ser benzido.

A benzedeira também pede com carinho a São Bartolomeu para que leve, com o vento, tudo o que possa fazer mal. “Eu aprendi a benzer enquanto dormia, nos sonhos. Meu pai benzia, minha mãe, meus avós e até bisavós, então eu venho de uma família de benzedores”, salientou.

Dona Paulina desenvolveu seu próprio método de benzeção. Como sofre com artrose, hérnia de disco e bico de papagaio, ela pede ajuda para seus “pacientes” para preparar o que precisa. Mesmo com as dificuldades ela se mantém em pé, mas afirma que benzer “cansa a gente”.

A casa simples onde reside é agradável, ventilada e funciona também como uma loja de roupas usadas. No local ela vende inúmeros itens que são recebidos em doações de quem procura suas orações. O negócio ajuda a complementar a renda.

“Eu ganho muitas coisas de pessoas que eu benzo, e então consigo vender para ter mais um dinheiro. O que posso eu tiro e dou para alguns da minha família, é assim aqui, cada um ajuda com o que pode”, afirma.

 

Personalidade doce

A caridade é uma característica marcante de dona Paulina. Com uma personalidade doce, ela conta sobre ter pedido para aprender a benzer ainda quando criança. O motivo era ajudar as pessoas de alguma forma. Mesmo morando só, a benzedeira disse que está sempre acompanhada. Recebe visitas de amigos e vizinhos. “Tenho vizinhos muito atenciosos, nunca me deixam só. A minha vizinha, mesmo doente, faz questão de me ver sempre, e quando não consegue vir aqui ela me liga, para saber se está tudo bem. Mas em algumas vezes ela também pede para o filho me buscar, e então ele me leva até ela na cadeira de rodas”, comenta.

Com três filhos, nove netos, e um bisneto, dona Paulina conta que nunca fica sem falar com alguém da família, e usa o telefone celular para se comunicar com todo mundo.

“Eu venho de uma família muito grande. Ao todo éramos dez. Três já morreram, outros moram aqui no Estado, e uma irmã mora no Rio de Janeiro. Mas eu sou a única que benze. As outras irmãs fazem oração, mas sempre só eu que benzo”, lembra, dizendo que, por ligação, ela também se une às irmãs em oração para familiares em dificuldades. “Eu uso o celular, as pessoas sempre me ligam, mas não pelo WhatsApp, eu não sei usar isso”, conta ela bem-humorada.

Dona Paulina já benzeu de crianças a idosos, e afirma que é mais procurada por adultos. “Já benzi gente de tudo que é jeito e profissões”, destaca ela

 

Pandemia obrigou a pausar atendimentos

Durante a pandemia, a benzedeira deu uma pausa nos atendimentos, para se cuidar, mas retornou assim que pôde para poder fazer o que um dia pediu em oração, que é benzer.

Católica, Paulina diz que faz parte da Legião de Maria, e conta que, mesmo a igreja não gostando muito de quem benze, na comunidade ela não enfrenta este problema. Mesmo com dificuldades para ir à igreja, dona Paulina sempre recebe os irmãos da igreja, que a visitam para fazer o terço, no Natal ou Ano- Novo.

A aposentada pede para o campo-grandense mais fé em Deus e conta que foi muito bem acolhida quando chegou à Capital Morena. “Eu sou muito feliz aqui”, finaliza.

 

(Texto de Beatriz Magalhães) 

 

Confira o caderno de Aniversário de Campo Grande. 

6 thoughts on “Campo Grande 122 anos: “Aprendi tudo em sonho””

  1. Boa Tarde Gostaria de Saber o Endereço Dela Pode Me Enviar Por E-mail, Levar Minha Sobrinha Com Problemas de “Asma” Ela Esteve Internada Ontem Saiu Hoje..Desde Já Agradeço e Desejo a Paz de Jesus de Nazaré, Amém..

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