Por Bruna Marques – Jornal O Estado MS
O lema “saúde em primeiro lugar” não é brincadeira, mas o brasileiro vem tratando como se fosse. Só nos últimos três anos, a cobertura vacinal contra o sarampo, a caxumba e a rubéola (Tríplice Viral D1) caiu mais de 20% (de 93,1% no ano de 2019 para 71,49% em 2021).
São dados do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), com base nas informações disponibilizadas pelo PNI (Programa Nacional de Imunizações), do Ministério da Saúde, que correspondem a mais uma preocupação que a COVID-19 trouxe.
Parece contraditório, mas a própria doença pandêmica nos fez “esquecer” de tomar outros imunizantes que não fossem apenas contra o coronavírus. Resultado? O deficit de vacinação que o país atualmente enfrenta – e o perigo para nossas crianças.
Por conta dos números, a médica pediatra e professora do Idomed Sandra Coenga alerta que a problemática sanitária pode levar pequenos a descobertas e exposições a doenças de grave seriedade, como sarampo e meningites.
Importante frisar: ambas as enfermidades que não só têm cura, mas que podem ser facilmente evitadas por meio das vacinas. “O sarampo já voltou a aparecer em áreas onde essa cobertura estava baixa. Assim vai ser com meningites, varicela, caxumba e tantas outras. Uma boa cobertura vacinal para conferir proteção tem de estar em torno de 90% ou mais”, explica a pediatra.
Para evitar o reaparecimento dessas doenças, o cumprimento do calendário vacinal, principalmente na primeira infância, é fundamental, segundo a médica. Com as vacinas, é possível que o organismo produza anticorpos para doenças como pneumonias, difteria, tétano, meningites, paralisia infantil, diarreia por rotavírus – que pode levar à morte por desidratação grave, febre amarela, sarampo, caxumba, coqueluche, varicela, hepatites A e B.
“Na primeira infância, é muito importante que as crianças recebam todas as vacinas que previnem contra doenças para que elas construam suas próprias defesas e produzam os anticorpos necessários”, afirma Sandra Coenga. Vacinação para adultos O médico infectologista e professor do Idomed Cláudio Querido Fortes explica que, com a queda no número de crianças vacinadas, é mais improvável que se alcance uma imunidade de rebanho para algumas infecções, como sarampo, varicela, difteria, coqueluche, entre outras.
“Isso aumenta as chances de ocorrerem surtos, o que colocaria em risco os adultos que não se vacinaram na infância ou que não fizeram os reforços recomendados na vida adulta. Vale lembrar que essas viroses comuns da infância, quando ocorrem nos adultos, habitualmente, são bem mais graves”, finaliza Fortes.
Apesar de estar muito relacionada à infância, a vacinação não é só para crianças. Adultos também devem ser imunizados. O médico infectologista e professor do Idomed Cláudio Querido Fortes explica quais são as vacinas que os adultos devem receber nesta etapa da vida e em qual época elas devem ser aplicadas.
Na vida adulta, qual a importância da vacinação? Cláudio Querido Fortes – Sem dúvida alguma a vacinação é muito importante na vida adulta. Aqui nós temos três situações distintas: uma é que o adulto tem de fazer os reforços das vacinas que não conferem imunidade duradoura, como é o caso da difteria e do tétano.
Outra situação é em relação aos vírus que se modificam anualmente ou, até mesmo, com intervalos menores, como é o caso da gripe e, agora, o Sars-CoV-2. A terceira situação se relaciona com a imunossenescência, ou seja, os adultos idosos se tornam mais vulneráveis a desenvolver doenças como pneumonia.
Daí a necessidade da vacina contra o pneumococo nos idosos e, também, têm um maior risco de fazerem uma recrudescência do vírus varicela- -zoster, o que se torna menos provável com a vacina para herpes- -zóster. Além das vacinas para doenças reemergentes, como foi o caso da febre amarela silvestre em áreas que não eram de risco anteriormente, existem as infecções emergentes, como Sars-CoV-2, e agora, talvez tenhamos vacinação para a varíola do macaco.
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