Com trechos que cortam o país de norte a sul, a BR-163 em MS completa amanhã (12) 50 anos desde a sua inauguração em 1969. Na ocasião, personalidades ilustres da política brasileira vieram ao então Mato Grosso para dar o ponta pé inicial a um dos maiores projetos de infraestrutura da época. O presidente Emílio Garrastazu Médici e o General João Batista Figueiredo, até então chefe do gabinete de Médici, mas que depois se tornaria chefe do estado brasileiro estiveram aqui.
Na ocasião, a expectativa era de que a rodovia auxiliasse na integração entre as porções norte e sul de Mato Grosso, impulsionando assim a economia nacional. Para relembrar tal acontecimento, que marcou a história do Estado e do país, o engenheiro civil Claudeir Alves Mata, um dos profissionais que participou de todo o projeto de execução, revelou para o Jornal O Estado particularidades que guarda na memória.
A inauguração, que havia sido planejada para acontecer em Nova Alvorada, teve que ser modificada devido à dificuldade de logística, já que o avião presidencial aterrizaria em Campo Grande. Além disso, a data também precisou ser alterada motivada pelo AL-5 (Ato Institucional Número Cinco).
“A cerimônia aconteceu em Campo Grande, onde hoje está localizado o Terminal Guaicurus, em frente a Sisep (Secretaria Municipal De Infraestrutura E Serviços Públicos) que era o início da BR-163, mas ela havia sido planejada para acontecer em Nova Alvorada. Tivemos também o fato da segurança e da questão de logística para levar o presidente até lá. Outro fator que teve que ser modificado foi devido ao AL-5 que marcou aquele ano”, relembrou.
Claudeir ainda relembra que o momento celebrava a inauguração de dois importantes trechos para o MS que, segundo ele, foi capaz de trazer transformação, inovação com o que havia de mais moderno no mundo da construção e a possibilidade de mostrar a região centro-oeste e o MS para investidores de todas as regiões do país.
“A rodovia ligou Campo Grande até o rio Paraná, através de Nova Alvorada, que era apenas um entroncamento no meio da estrada. O outro trecho ligava também Nova Alvorada com Rio Brilhante. Tudo isso, foi inaugurado simultaneamente durante o evento e abriu o desenvolvimento da região, a mais extrema do centro-oeste do Brasil. Após isso, vieram muitos investidores, pessoas que mudaram o cenário de produção do Estado, da pecuária extensiva para a agricultura e isso começou a gerar riquezas”, conta.
Mesmo que ainda jovem, Claudeir afirma que sentiu em pouco tempo a transformação das cidades e do território próximo à rodovia, que proporcionou, inclusive, a geração de empregos em locais onde até então, nem se quer existiam.
“Sou parte de uma geração privilegiada, que desde o início conseguiu fazer o que gostava, tínhamos como aferir a importância daquilo que estávamos fazendo e a gente recebia a remuneração para esse trabalho. Além disso, morei dois anos em Nova Alvorada e sentia na pele a pujança de tudo aquilo, toda aquela região ao redor da rodovia se refazendo. Alguns chegaram e começaram a plantar, outros investiam em produtos. Tudo isso, contribuindo para a geração de empregos”, relembrou orgulhoso.
Mesmo com todas as dificuldades e as demandas que precisaram ser sanadas na época, o engenheiro afirma que as dez empresas que participaram da execução estavam tão empenhadas, que o processo teve uma curta duração e em pouco tempo foi possível ver o trajeto finalizado.
“Até Cuiabá fizemos tudo isso em pouco tempo, um grupo de dez empresas no período de 1966 a 1974, construímos um total de 1.500 quilômetros de rodovias. Em dois anos construímos 1.100 quilômetros de rodovia saindo de Campo Grande. Ficamos muitas vezes longe de tudo, uma cidade era muito distante da outra e, mesmo assim, conseguimos fazer uma obra majestosa, com a tecnologia da engenharia da época”, afirmou.
Como seria o Brasil sem a BR-163?
Não haveria Brasil desenvolvido sem a BR-163, afirma Claudeir. “Não teríamos condições, não só o nosso estado, a 163 é fundamental. Hoje é totalmente inviável você competir com um custo de andar, por exemplo, 3 mil quilômetros porque fica muito alto. Esse é o caminho, isso deve ser prioridade zero, não podemos pagar fretes caros no mercado. É uma disputa muito grande, a gente tentar entrar em um mercado externo, como a Ministra Tereza Crisina está conseguindo, sem avançar em logística seria ilógico. A BR-163 foi um marco para a nossa história”, ressalta.
Ele ainda afirma que o país somente terá o crescimento que deseja se ações básicas como a valorização da engenharia nacional seja concretizada. “O Brasil só vai retomar o crescimento quando a engenharia tiver a importância que merece, tivemos importantes figuras como Manoel da Costa Lima, que em 1990, em função de uma necessidade que tinha de escoamento de produtos, construiu após muitos esforços entre 1902 a 1904 uma estrada precária, mas que atendia a demanda daquele momento. Precisamos voltar a lembrar de cada um desses profissionais e de todos os que um dia contribuíram para o nosso crescimento, as crianças, os jovens precisam ter a consciência sobre a história da nossa engenharia, que levou a que o país conquistasse tudo o que temos até hoje”, finaliza.
(Texto: Michelly Perez)