Eles são fofinhos, temperamentais, metódicos e “independentes”, ou, pelo menos acham que são. Quem é tutor de um sabe que nós estamos falando sobre gatos. Os felinos têm ganho cada vez mais espaço nos lares brasileiros, e o que tudo indica é que eles se tornarão os “reizinhos” dos lares brasileiros, desmistificando o ditado popular que diz que “o melhor amigo do homem é o cachorro”. Uma pesquisa realizada pelo IPB (Instituto Pet Brasil) indicou um crescimento de 8,1% entre 2013 e 2018 no número de gatinhos como pets nas casas brasileiras, o dobro do registrado com cães.
Para entender este fenômeno conversamos com apaixonados por gatos. “Gateira” de carteirinha, a jornalista Elci Holsback, de 36 anos, se descobriu protetora com sua história de resgaste e amor pelos bichanos. “Hoje tenho sete meus. Quando mudei para minha casa, levei dois, mas aí apareceu uma gata prenha no portão, que ia pedir comida. Morria de dó dela e amansei até recolher para parir segura. Ela acabou ficando. Depois abandonaram 3 ninhadas no meu portão em datas diferentes. Acabava que um ou outro não achava lar, ou era doente. Eles são minha companhia, carinhosos e companheiros e ao mesmo tempo independentes e inteligentes, e adoro isso neles.”
Especialista no assunto e também apaixonado, o médico- -veterinário Naelton de Oliveira Alves explica que a mudança de comportamento é um dos fatores que impulsionam essa nova escolha. “O aumento crescente das atividades diárias das pessoas as tem impedido de estarem presentes na rotina básica de alguns animais de estimação. Além disso, as cidades vêm crescendo verticalmente, e o espaço físico das residências se reduzindo, impossibilitando a presença dos maiores grandalhões ou dos mais agitados dentro de casas menores. E, ainda, o estilo de vida tem mudado e muitos optam por animais antes, ou no lugar, dos ‘filhos humanos’. Uma pesquisa da revista ‘Exame’, de 2016, mostrou que 73% das pessoas consideram seus pets como membros da família, filhos ou bebês”, disse.
Por serem extremamente adaptáveis, os gatos se encaixam melhor na rotina de seus tutores, o que não aconteceria no caso dos cachorros, por exemplo. “Os brasileiros não conseguem viver sem um companheiro de patas fazendo parte da família, e os felinos têm conquistado espaço por serem mais independentes, com hábitos de higiene mais ‘evoluídos’, e por se adaptarem bem a ambientes pequenos, que, aliado ao fato de serem companheiros dedicados, explica o grande aumento na adoção desses animais”, pontua.
Na casa de Myrian Beatriz, de 53 anos, cuidadora de idosos, o amor pelos gatos é tanto que eles chegam a ser batizados com nome dos tutores para continuar o legado da família. “Desde cedo, meus filhos pegam gatinhos abandonados nas ruas e levam pra casa. Chegamos a ter mais de 18 ‘peludinhos’ e a paixão por gatos sempre existiu em casa por conta disso. Inclusive, uma das duas gatinhas que temos em casa, a Marinha, ela tem esse nome porque ela tem uma paixão por mim que é indescritível, os olhinhos dela brilham quando me veem. Eles se sentem tão bem em casa que parece que nós é que estamos invadindo o espaço deles e não eles convivendo conosco”, brinca.
Assunto polêmico entre os “gateiros” e os que preferem cachorro é o porquê de uns serem mais queridos que os outros, porém o zootecnista e professor da Uniderp Diogo Cesar Gomes da Silva nos ajuda a entender isso com um pouco de ciência.
“De fato, os gatos possuem aspectos comportamentais e biológicos bem distintos dos cães, e é exatamente aqui que explicamos o fenômeno dos gatos nas famílias humanas. Os gatos, comparativamente, se ajustam melhor a uma demanda humana contemporânea. Cidades com espaços cada vez mais reduzidos, rotinas de vida intensas, pouco tempo disponível para passeios, cuidados gerais e interação, associados com um animal que possui um ciclo de sono-vigília de dar inveja, fazem do gato um companheiro mais atraente aos olhos de muitos. Os gatos se adaptam melhor ao ritmo moderno, toleram mais a solidão, os poucos momentos de contato social, possuem facilidades higiênicas, requerem menor espaço e menos rotinas com passeios e demais demandas”, explica.
Mesmo assim, Diogo Cesar comemora os avanços nos debates sobre o tema, já que, num passado não tão distante, os gatos eram temidos e sofriam com sensos comuns enraizados no preconceito. “Se observarmos a sua história em paralelo à nossa, nota-se que a relação social com os felinos é uma relação distante e de coexistência, com toques de preconceitos e crenças populares. Mas este cenário está mudando, os gatos finalmente estão sendo enxergados como merecem, suas individualidades estão sendo esclarecidas pela ciência, pelo conhecimento popular e, progressivamente, as pessoas estão entendendo que os felinos são animais sociais, capazes de grande afeto e relações sociais intensas e harmônicas com as pessoas”, finaliza. (Texto: Michelly Perez)