Problemas de memória que afetam o dia a dia, dificuldade na fala e no raciocínio, desorientação no tempo e no espaço, alterações de humor e de comportamento. Esses são alguns dos sinais que podem indicar o diagnóstico de Alzheimer. A condição, que afeta principalmente pessoas acima dos 65 anos, é o principal tipo de demência no mundo e é responsável por aproximadamente 70% dos casos da doença. A estimativa é que cerca de 50 milhões de pessoas vivem com a doença, número que deve aumentar nos próximos anos, devido ao envelhecimento da população.
No Brasil, centros de referência do Sistema Único de Saúde (SUS) oferecem tratamento multidisciplinar integral e gratuito para pacientes com a doença, além de medicamentos que ajudam a retardar a evolução dos sintomas da condição, que afeta 1,2 milhão de pessoas e 100 mil novos casos são diagnosticados por ano.
A professora aposentada Mara Botelho conta com o SUS para o tratamento da mãe, Cléa Botelho, de 84 anos, que recebe atendimento especializado no Hospital Universitário de Brasília (HUB-UnB/Ebserh). A professora reforça a importância do SUS, já que, por consequência da idade de sua mãe, tem encontrado barreiras para o atendimento na rede privada de saúde.
“Hoje, com a idade que ela tem, 84 anos, a gente não consegue convênios. Já fizemos várias entrevistas, mas os convênios não a aceitam por causa da idade, e quando ela foi acolhida pela geriatria, que é uma equipe multidisciplinar, foi uma coisa muito boa”, relatou a professora, que se sente grata por conseguir atendimento de qualidade para sua mãe por meio do Sistema Único de Saúde.
“Nós acreditamos muito no trabalho do SUS, são médicos muito bem preparados, e para a gente foi um presente ter toda essa equipe nos ajudando a trazer a saúde dela. Então para mim é maravilhoso”, afirmou.
Além do serviço de geriatria, os centros de referência oferecem ainda um atendimento multidisciplinar aos pacientes. Nos casos de Alzheimer, além da pessoa com a doença, o hospital oferece apoio ao familiar idoso que cuida do paciente, já que o impacto do diagnóstico acaba afetando não apenas o paciente, mas toda a família.
O médico geriatra do Hospital Universitário de Brasília, Einstein Camargos, reforça que, além da atenção aos pacientes e suas famílias, o Governo Federal investe em capacitação para os profissionais.
“O Ministério da Saúde tem esses centros especializados que são inseridos dentro do SUS, também para atendimento do idoso de forma geral. A lógica funciona dentro do SUS, no nível primário, nível secundário e nível especializado, que somos nós. Claro, a gente também tem o objetivo de fazer o treinamento da própria equipe para atender esse perfil de pacientes. Então o centro faz cursos, eventos, aulas, seminários, faz pesquisa científica dentro da área da demência e outras áreas do envelhecimento com o objetivo de fortalecer e capacitar a rede como um todo”, destacou.
Sobre a doença
O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa, progressiva e ainda sem cura que afeta, majoritariamente, pessoas acima de 65 anos de idade. Ela pode comprometer diversas funções cognitivas, como memória, linguagem, raciocínio, humor, comportamento e percepção do mundo.
Os principais fatores de risco da doença são: idade; genética; baixo nível de escolaridade; obesidade; tabagismo; sedentarismo; diabetes; hipertensão e depressão não tratados ao longo da vida; baixa qualidade do sono; isolamento social; abuso de bebida alcoólica; traumatismo craniano; perda auditiva; e poluição do ar. Por isso, a estimativa é que é possível prevenir 48% dos casos de Alzheimer evitando o álcool e o cigarro, controlando doenças crônicas, cuidando da saúde mental e adotando um estilo de vida saudável, com a prática de atividade física e uma boa alimentação.
Para identificar o Alzheimer, é preciso estar atento aos sinais. O primeiro sintoma, e o mais característico, é a perda de memória recente. Com a progressão da doença, vão aparecendo sintomas mais graves como, a perda de memória remota (ou seja, dos fatos mais antigos), bem como irritabilidade, falhas na linguagem, prejuízo na capacidade de se orientar no espaço e no tempo.
O médico Einstein Camargos explica que o funcionamento do cérebro é alterado com a condição. “O organismo ele esquece, o cérebro esquece de comandar. Se ele esquece de comandar ele também esquece de comandar o que fala, o que vê, e ele também esquece de comandar o próprio organismo para produzir as coisas. Então ele para de produzir. Então ele fala: olha, não precisa mais produzir proteínas para os músculos, que eu já estou chegando ao fim da minha estrada. Não preciso mais construir pelos, músculos, gordura. Então o próprio cérebro, na sua insuficiência, vai deixando de controlar o organismo como um todo. E daí, por último, vem a questão do apetite, que reduz. Esse indivíduo vai entrando em fragilidade, às vezes ele vai ficando mais fraco, vai dificultando o andar, vai comendo menos e vai ficando mais fraquinho até falecer, que é o caminho habitual.”
O diagnóstico do Alzheimer é clínico e considera o conjunto de sinais e sintomas e a exclusão de outras causas. O tratamento com medicamentos pode aliviar ou retardar a progressão dos sintomas. Terapias cognitivas e mudanças do estilo de vida também ajudam. Se você conhece um idoso que apresenta os sintomas e sinais apresentados, procure um médico geriatra ou dique 136 para a Ouvidoria Geral do SUS.