Aldeias indígenas do interior do Estado vivem surto de casos de COVID-19

Militares
Reprodução/Poder360

Além de Dourados, outros municípios também estão apresentando número cada vez maior de infectados

Mesmo com algumas flexibilizações sendo anunciadas nos últimos dias que indicam
que a pandemia está cada vez mais controlada em todo o Estado, nos municípios do interior aldeias indígenas vivenciam momentos de terror com um aumento diário no número da população com o novo coronavírus. Segundo informações apuradas pelo jornal O Estado, além de Dourados, as cidades de Caarapó, Tacuru, Paranhos, Sidrolândia, Aquidauana e Japorã são algumas das que apresentaram um crescimento significativo da doença.

Conforme boletim divulgado pelo DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena), atualmente
156 pessoas se encontram infectadas, sem contar os casos suspeitos. De acordo com Liliane Silva, enfermeira da DGVS (Diretoria-Geral de Vigilância em Saúde), a informação desses novos casos chegou até a SES (Secretaria de Estado de Saúde) por meio de denúncias, tanto da imprensa como de lideranças das próprias aldeias: “No dia 26 de outubro tomamos conhecimento dos casos em Dourados via imprensa. Em relação aos
outros municípios, recebemos denúncias das próprias lideranças das aldeias afetadas.
Houve um atraso das inserções das notificações nos sistemas oficiais, por isso não tivemos
acesso. O prazo máximo para inserir essas notificações é de 24h”, disse a servidora.

Até a presente data, segundo os números divulgados peloDSEI, o município com maior
incidência de casos é Dourados, com 89 pessoas infectadas. Logo depois se encontram
Tacuru, com 28, e Paranhos, com 18. Japorã possui 6 infectados, ao passo que Sidrolândia
possui apenas 2, e Aquidauana 1. Porém uma fonte que prefere não se identificar informou a O Estado que, apenas nos últimos oito dias, foram 20 os casos positivos apenas em Caarapó, na Aldeia Te’yikue.

Dentro das aldeias afetadas, o clima é de tensão. Capitão Neco, líder da Aldeia Jaguapiru,
conta que os casos em sua comunidade surgiram de uma hora para outra: “Famílias e crianças ficaram doentes. Começamos a fazer mais testes, e descobrimos que existiam vários assintomáticos entre nós”, disse o Capitão, que lidera essa aldeia em Dourados.

Apesar do aumento atípico de casos, o líder assegura que toda a comunidade está se vacinando: “A grande maioria dos adultos maiores de 18 anos já se vacinou com as duas doses. Agora está faltando a vacinação dos adolescentes, de 12 a 17 anos. Não sei como vai ser a situação com as crianças”, complementa Neco, que afirma que a comunidade está bem receosa, e o que pode fazer como líder é orientar todos a usarem máscara, álcool gel,
lavar as mãos frequentemente, e se vacinar.

Em relação à conscientização e ao recebimento de material para a prevenção contra
a doença, o líder aponta certa dificuldade: “Existe muita burocracia para chegar até a comunidade. Muitas vezes chega tarde demais, precisa morrer alguém para as coisas aparecerem, e mesmo assim não é o suficiente. E ainda existe a questão da falta de água, que é um problema antigo por aqui”, finalizou o Capitão.

Ainda de acordo informações do DSEI, a provável causa do surto seja a falta de cuidados
com a retomada das atividades e a “falsa” sensação de que a pandemia acabou. “O vírus está circulando ainda. Precisamos usar máscaras e evitar aglomerações”, completou.

Conforme divulgado pela SES, o surto em Dourados, Paranhos e Tacuru começou nas escolas, envolvendo tanto alunos quanto professores. Em ofício enviado ao DSEI e à Sesai,
a SES reforça a preocupação de casos existentes na faixa etária de 12 a 17 anos, em que
a porcentagem de vacinação com a primeira dose ainda se encontra em 50,6%. Como forma de combater o surto, a SES solicita aos órgãos responsáveis a redução do prazo entre as doses da vacina para 21 dias, ao contrário das oito semanas aplicadas no momento.

Secretaria de Saúde em alerta

Em contato com o Secretário de Estado de Saúde, Geraldo Resende, a informação recebida é de que a notícia deixou a equipe em alerta: “Estamos muito preocupados. Logo que
soubemos dos casos em Dourados já entramos em contato com o DSEI e com a Sesai
(Secretaria de Saúde Indígena) para tomarmos uma providência. Fiquei sabendo ontem
dos surtos em novas regiões, e já estamos nos movimentando para evitar que isso se espalhe para o resto do estado. Estamos falando com o Ministério da Saúde, porque se isso não for resolvido logo pode representar uma ameaça muito maior com o tempo”, completou. O risco à saúde mundial se apresenta quando ocorrem as mutações do vírus, que podem evoluir para uma variante que não é reconhecida pelas vacinas produzidas até agora.

Responsabilidade federal

De acordo com Resende, o estímulo à vacinação e a disponibilização da terceira dose de
vacina é a saída. Porém, ainda segundo ele, a responsabilidade da vacinação em indígenas é do governo federal: “Nós não começamos antes as ações nas aldeias porque estávamos
aguardando a autorização do Ministério da Saúde. Tanto em relação à testagem como em
relação à vacina”, completa.

Quanto à atuação do Estado, Geraldo se mostra tranquilo quanto aos esforços dispensados: “Nunca fomos omissos com a população. Não deixamos faltar o que estava ao nosso alcance”, completa.

Por meio da assessoria, o MPF-MS (Ministério Público Federal em Mato Grosso do Sul)
comunicou o acompanhamento do cenário: “O MPF possui procedimentos instaurados para
acompanhar as ações dos órgãos competentes quanto à prevenção e ao combate da
COVID-19 nas aldeias do Estado. Essa situação do aumento recente de casos está sendo
tratada no bojo dos referidos procedimentos. Até o momento, foram realizadas reuniões e
expedidos ofícios solicitando informações”, relatou o órgão.

Texto de Clara Rockel

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