DESVENDANDO
Alguma vez você já sentiu dor em um músculo de determinada região, que, ao palpar, percebeu um ponto mais rígido, como se fosse um “caroço”, que desencadeia dor ao toque, ou tem sensação de agulhada?
Pois é, esse ponto doloroso e, às vezes, duro é denominado de “ponto gatilho” (PG). A dor pode se estender, a partir do ponto gatilho, para uma região mais distante, chamada de dor referida. Esse quadro de dor regional com ponto de gatilho, é definido como síndrome dolorosa miofascial. A palavra miofascial é a junção de mio = músculo e fascial = fascia.
Músculo sabe-se bem o que é, mas o que é fascia?
Fascia é um tecido esbranquiçado, que observamos recobrindo os músculos, entre as fibras musculares, ligando os músculos aos ossos, dando-lhes sustentação, firmeza e auxiliando nos movimentos. Todos os órgãos têm fascia na sua constituição, que contribuem para a fixação e função.
O ponto de gatilho é a região do complexo músculo e fascia que se encontra contraído gerando dor ou agulhadas no local.
Porque ocorre a síndrome dolorosa miofascial?
QUAIS AS CAUSAS?
As causas são múltiplas. A má postura no trabalho, por exemplo, permanecer por tempo prolongado em uma posição (digitando ou fazendo outro trabalho manual), leva à contratura dos músculos que estão sendo exigidos para aquela posição, ou traumatismos locais que levam à contusão muscular, quadros de estresse físico (sobrecarga de trabalho do músculo) ou emocional (ansiedade/ depressão).
Porém, pode estar relacionada com doenças sistêmicas, infecciosas, inflamatórias ou malignas.
QUAIS OS SINTOMAS?
Esses pontos gatilhos podem ocorrer muito frequentemente, na região lombar (lumbago), no pescoço, na cabeça, na face, nos braços ou nas pernas.
Esses pontos são dolorosos espontaneamente ou ao toque com os dedos, podendo se estender a pontos distantes do PG, que, à palpação do trajeto da dor, sentimos a região endurecida e dolorosa, denominada de “banda rígida”.
A dor pode ocasionar a limitação dos movimentos, sensação de perda de força muscular e cansaço local. Às vezes, pode ocorrer vermelhidão ou palidez local, com percepção de calor ou frio na região acometida, além de formigamento. Alterações do sono, distúrbios emocionais, alteração do ritmo intestinal podem ocorrer concomitante e agravar o quadro. Não há exames laboratoriais e radiológicos específicos para o diagnóstico desta síndrome.
Porém, o médico deve fazer uma avaliação criteriosa, com exame geral do paciente, em busca de possíveis doenças associadas.
TEM TRATAMENTO?
Sim. O primeiro passo é identificar o que está gerando a síndrome miofascial e, a partir daí, estabelecer medidas de controle do elemento gerador.
A avaliação postural do indivíduo durante a consulta, bem como conhecer a sua postura no trabalho e em casa, podem ajudar a identificar o fator desencadeante e propormos correções posturais.
Possíveis problemas psicológicos e ou psiquiátricos devem ser identificados e tratados de forma conveniente. O tratamento e controle de doenças associadas são de importância para o tratamento. O tratamento pode ser no local acometido, por meio de massagens que estimulam o ponto gatilho e, com isso, ocorre o relaxamento da miofascia, ou de outra modalidade de relaxamento do complexo miofascial.
Podem ser ainda realizados tratamentos locais, como agulhamento, acunpuntura e aplicação de pomadas anti-inflamatórias. O uso de medicações sistêmicas, como miorelaxantes e anti-inflamatórios é útil para minorar o sofrimento.
O tratamento fisioterápico analgésico e de reabilitação e fortalecimento do grupo muscular acometido trazem um alívio da dor. Em geral, as atividades físicas bem orientadas e continuadas, em busca de condicionamento físico, seguido de alongamentos musculares, trazem uma melhora importante para os casos cônicos.
O diagnóstico e tratamento adequado da síndrome miofascial é de grande relevância para não permitir que a dor se torne crônica.
E-mail: [email protected].
Site: www.institutoreumato.com.br.
Professor titular da Famed da UFMS, professor do curso de pós-graduação de Saúde e Desenvolvimento do Centro-Oeste, da UFMS; coordenador do programa de residência médica em reumatologia, do Humap/ Ebserh/UFMS; titular da cadeira 23, da Academia Brasileira de Reumatologia.
Acesse as redes sociais do O Estado Online no Facebook e Instagram.