Coluna: Entre Linhas, com Gabriel Pollon
Em live recente, o presidente em exercício atacou os brasileiros que escolheram possuir e/ou portar uma arma de fogo, os adjetivando, dentre outras coisas, de “covardes”.
Em uma rápida análise, podemos observar que a mensagem se destina apenas a uma fatia da população, qual seja, brasileiros que escolheram possuir ou portar arma de fogo, frise-se, obedecendo critérios legais, tais como ter mais de 25 anos, residência fixa, não possuir antecedentes criminais, ter ocupação lícita, comprovar aptidão técnica para possuir ou portar o equipamento, além de aptidão psicológica, o que se comprova mediante teste psicotécnico
Não bastasse o postulante à aquisição de arma de fogo no Brasil ter de passar por um longo processo burocrático, uma vez autorizada a compra, este se depara com aviltantes 71,58% do valor final de pistolas, rifles e afins, a título de tributos, segundo levantamento realizado pelo IBTP (Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação). Apesar disso, o segmento tem gerado empregos, renda e, com isso, receitas fiscais.
É importante salientar que a estratégia de rotular adversários políticos até sua desumanização já foi utilizada na história e o resultado foi o de seis milhões de judeus mortos, dentre eles, mulheres, idosos e crianças.
Diante disso e, em que pesem as obscuras relações do mandatário maior da República com a criminalidade comum, temos, de um lado, cidadãos que escolheram possuir uma arma de fogo legalmente e que estão sendo perseguidos politicamente e, de outro, a criminalidade em geral, que sempre se armou, ao arrepio da lei.
Não é preciso fazer muito esforço para constatar a hipocrisia na fala do presidente, uma vez que este nunca abriu mão de seus seguranças armados, aliás, este somente abriu mão de seguranças armados quando na visita ao Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, local onde nem mesmo a polícia entra – talvez ali tenha ocorrido um “diálogo cabuloso”.
Nesse sentido, é possível perceber que não se trata do pronunciamento de um pacifista em defesa de um mundo sem armas, pois, como pudemos demonstrar, o que se pretende é retirar as armas dos brasileiros que as adquiriram legalmente. Já os “cupinchas” seguem armados, sem serem importunados, afinal, “o amor venceu”.
Portanto, é necessário que a opinião pública rechasse esses ataques, pois em um país livre e democrático não deve haver espaço para declarações do tipo “temos que extirpar o bolsonarismo”, “quem usa arma é covarde”, o que vai muito além da bravata, sendo um método de construção de narrativa, no sentido de se validar todo tipo de violência contra o oponente político, o que sempre resulta em morticínio.
“É importante salientar que a estratégia de rotular adversários políticos até sua desumanização já foi utilizada na história e o resultado foi o de seis milhões de judeus mortos, dentre eles, mulheres, idosos e crianças”, diz Gabriel Pollon.
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