Da gravata do presidente Lula à ida ao show da Ivete do governador Eduardo Leite

Tiago Botelho
Foto: Arquivo

Não é de hoje que venho falando que estão transformando a política em um local chato. As pessoas, ao invés de se preocuparem com o que realmente importa na política ficam agarradas a fatos tão pequenos que acabam diminuindo o seu real sentido. No início do ano, um fato qualquer, como comprar uma gravata, ganhou negativamente repercussão nacional. Janja, a primeira-dama, comprou, na Europa, uma grava ao presidente Lula de R$ 1,1 mil. Pronto, o tema rodou as redes sociais e as manchetes de jornais. Até hoje não entendi o problema de um presidente comprar uma gravata, mas, na verdade, não é para se entender. É apenas a direita tentando atacar a esquerda. Tipo aquelas brigas no colégio em que um chama o outro de bobo, sem muito motivo, e o tendeu se arma. Quero só deixar registrado que eu também acho caro uma gravata de mil reais e não a compraria, mas o presidente comprou e deveria estar tudo bem. 

Na semana que passou, foi a vez de a esquerda pegar um fato totalmente desconectado para criticar Eduardo Leite. O governador esteve com o namorado no show da Ivete em SP, após seu Estado, o RS, ser atingido por um ciclone extratropical. Eu, no lugar dele, confesso que não iria, mas usar esse fato para o tornar uma pessoa cruel e insensível frente a uma catástrofe natural não me parece proporcional. 

O que os dois fatos possuem em comum? Bem, apesar de bem diferentes, para mim, a tacanhice e a tentativa de rebaixar a política a um nível tão pequeno que parcela de ambos os lados (esquerda e direita) se perdem em suas críticas. Lula e Eduardo Leite possuem muitos pontos para serem criticados, além da compra de uma gravata ou uma ida ao show, no fim de semana. Minha percepção é que caímos em um local raso e pequeno na política brasileira, parece que quanto mais superficial mais engajamento ganha e, portanto, vale a pena criticar qualquer coisa. O ponto negativo de tudo isso é que, enquanto estamos perdendo tempo discutindo ou lendo a compra da gravata e a ida ao show deixamos de focar em temas que realmente importam. 

Você pode me dizer: mas a política é isso, professor. Discordo. Para mim, a política é algo muito maior. Não quero dizer que você não possa discordar do valor da gravata ou da ida ao show, claro que pode, mas o quanto isso ganha repercussão frente a outros temas mais importantes é que me assusta. Como sair desse cenário? Confesso que não sei, mas uma coisa que sempre tento fazer é pegar fatos correlatos da direita e da esquerda e ver como algumas atitudes acabam se assemelhando e o quanto precisamos revê-las. 

Como exemplo, usei o caso da gravata e da ida ao show, mas poderíamos usar inúmeros outros fatos. Refletir a respeito dos nossos comportamentos, em especial nas redes sociais, pode nos mostrar o quanto replicamos práticas que muitas vezes criticamos no outro lado, mas que estamos fazendo de forma muito parecida.

“O ponto negativo de tudo isso é que, enquanto estamos perdendo tempo discutindo ou lendo a compra da gravata e a ida ao show deixamos de focar em temas que realmente importam”.

Por Tiago Botelho.

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