Variações climáticas contribuem diretamente para o aumento dos casos de doenças respiratórias

O movimento no Upa do Universitário na tarde de ontem (16) - Foto: Nilson Figueired
O movimento no Upa do Universitário na tarde de ontem (16) - Foto: Nilson Figueired

Nova frente fria avança em Mato Grosso do Sul e promete mudanças a partir desta quinta-feira (17)

 

Mato Grosso do Sul segue sob a influência de um sistema de alta pressão atmosférica, que mantém o tempo estável em todo o Estado. No entanto, conforme a previsão da Cemtec (Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de MS), nesta quinta-feira (17) uma frente fria deve avançar sobre o território sul-mato-grossense, provocando queda nas temperaturas, com mínimas previstas entre 5°C e 7°C.

As variações climáticas, especialmente a chegada do tempo seco e as mudanças bruscas de temperatura, são fatores que contribuem diretamente para o aumento dos casos de doenças respiratórias, como a SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave). Durante períodos de baixa umidade do ar, as vias respiratórias se tornam mais sensíveis e propensas a infecções, principalmente em crianças e idosos. Além disso, o ar seco favorece a concentração de poluentes e alérgenos no ambiente, agravando quadros como rinite, sinusite e asma, o que eleva a procura por atendimentos médicos.

De acordo com dados da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), ao longo deste ano já foram registrados 2.156 casos de SRAG em Campo Grande. A faixa etária mais afetada é a de crianças entre 1 e 4 anos, que somam 405 ocorrências.

“Apesar do aumento recente nos casos de SRAG em crianças, já é possível observar sinais de estabilização ou interrupção desse crescimento em Campo Grande. No entanto, os índices de incidência ainda permanecem elevados, o que exige atenção contínua. Atualmente, 13 crianças aguardam por um leito hospitalar, sendo seis da Capital e sete oriundas do interior do Estado”, informou a Secretaria.

Os registros vêm apresentando queda nas últimas semanas. Na semana epidemiológica 26 foram contabilizados 91 casos; na semana 27, o número caiu para 66; e, por fim, na semana 28, foram registrados 59 casos. Em visitas a algumas unidades de saúde, a equipe do jornal O Estado constatou uma redução na demanda por atendimento médico.

Durante a apuração, foi possível verificar baixa movimentação em algumas unidades. Na USF (Unidade de Saúde da Família) Dr. Antônio Pereira e no CRS (Centro Regional de Saúde) Tiradentes, poucas pessoas aguardavam atendimento. Já no PAI (Pronto Atendimento Infantil), o fluxo também era reduzido.

Na região do bairro Universitário, as USFs Universitário e Itamaracá somavam cerca de 30 pessoas ao todo. A UPA Universitários concentrava o maior número de pacientes entre as unidades visitadas, mas ainda assim apresentava movimento abaixo do habitual.

A Sesau reforça a importância de que pais e responsáveis sigam rigorosamente os protocolos de biossegurança e evitem expor as crianças, especialmente as menores de um ano, a locais com aglomeração, como forma de prevenir novos casos e reduzir a pressão sobre a rede pública de saúde.

A jovem Nívea Barbosa, de 24 anos, relata que sofre com os efeitos do tempo seco.“Toda vez que muda o tempo, eu fico doente. A sinusite ataca e eu fico mal mesmo. Quando o tempo está seco, piora ainda mais, fica difícil de respirar. É sinusite, rinite, vem tudo junto”, conta.

Previsão do tempo

Para esta quinta-feira (17), a atuação de um novo sistema frontal poderá alterar novamente o tempo em algumas regiões. Segundo o meteorologista Vinícius Sperling, essa frente fria deve provocar aumento da nebulosidade e possibilidade de pancadas de chuva fraca em áreas isoladas do Estado. “Pode haver chuva fraca especialmente nas regiões sudoeste e sul, como nos municípios de Porto Murtinho, Amambai, Ponta Porã e Iguatemi. A previsão de chuva é pontual e não se estende a outras regiões do Estado, onde a frente fria deve apenas aumentar a cobertura de nuvens”, explicou.

O destaque maior será a queda acentuada nas temperaturas, principalmente na sexta-feira (18). Na região sul do Estado, os termômetros devem marcar entre 5°C e 7°C, com possibilidade de valores ainda mais baixos em áreas rurais. Para Campo Grande, a massa de ar frio deve atingir o pico entre sexta e sábado, com mínimas entre 10°C e 12°C.

Nas regiões sul, cone-sul e Grande Dourados, as mínimas vão de 6°C a 11°C, com máximas entre 19°C e 22°C. No sudoeste e Pantanal, a previsão é de mínimas entre 6°C e 15°C, e máximas de 19°C a 25°C. Já nas regiões do bolsão, leste e norte, as mínimas ficam entre 12°C e 16°C, e as máximas podem alcançar os 31°C. Em Campo Grande, as máximas devem oscilar entre 23°C e 26°C. Os ventos mudam de direção, passando a soprar do sul, com intensidade entre 40 km/h e 60 km/h, com possibilidade de rajadas ainda mais fortes.

Segundo Sperling, essa frente fria não deve ser tão intensa quanto as que atuaram no início do inverno e no começo de julho. “As temperaturas caem, mas não de forma tão brusca como nas frentes anteriores. Além disso, a ausência de chuva significativa mantém as máximas em elevação nos dias seguintes”, pontua o meteorologista.

E para a próxima semana, a previsão indica predomínio de sol e poucas nuvens, sem expectativa de chuva. Esse sistema inibe a formação de nuvens e, aliado à presença de ar seco, contribui para grandes amplitudes térmicas, com variações que podem ultrapassar os 20 °C entre as temperaturas mínimas, registradas ao amanhecer, e as máximas, observadas à tarde.

Além disso, os níveis de umidade relativa do ar permanecem baixos, principalmente nas horas mais quentes do dia, com índices entre 15% e 30%, o que configura situação de alerta para a saúde. Por isso, as autoridades recomendam atenção redobrada com a hidratação e a exposição prolongada ao sol. Esse cenário, de calor intenso e baixa umidade, também favorece a ocorrência de incêndios florestais.

Diferença na estação de um ano para outro

O cenário contrasta com o mesmo período do ano passado, quando o estado enfrentava os efeitos de um forte El Niño. “Junho de 2024 foi o pior mês da série histórica em relação aos focos de calor, com registros intensos de incêndios florestais na Amazônia e no Pantanal, que chegaram a encobrir o céu de Mato Grosso do Sul com fumaça por vários dias consecutivos. As chuvas, na época, foram escassas, e o ar extremamente seco agravou o problema”, pontuou o meteorologista.

De acordo com os dados compilados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), em junho do ano passado, Mato Grosso do Sul registrou 2.737 focos de calor, o maior número já observado para o mês desde o início da série histórica, em 1998. Já em junho deste ano, foram contabilizados apenas 135 focos, o que representa uma redução de 95%.

Em julho de 2024, o Estado também bateu recorde para o mês, com 1.419 focos de calor registrados ao longo dos 31 dias. No entanto, ao comparar os primeiros 15 dias de julho de 2024 e 2025, observa-se uma queda de 67%, enquanto no ano passado foram registrados 417 focos, neste ano o número caiu para 122.

“Agora, com a neutralidade do oceano Pacífico, ou seja, sem influência de El Niño ou La Niña, o clima se mantém mais próximo da média esperada para o período”, explica Vinicius. Ainda assim, os cuidados com a saúde continuam sendo fundamentais diante da baixa umidade e da possibilidade de novos focos de incêndio.

 

Por Inez Nazira

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