Para garantir durabilidade da Ponte Bioceânica, gelo é misturado ao concreto

Foto: Toninho Ruiz
Foto: Toninho Ruiz
Prefeito de Porto Murtinho garante que população tem mudado a rotina para enfrentar o calor
A construção da Ponte Bioceânica, que ligará o Brasil ao Paraguai e se estenderá até o Chile, está enfrentando um grande desafio devido às altas temperaturas na região, que frequentemente superam os 41ºC, com sensação térmica de até 45ºC. Para garantir que a estrutura seja durável e resistente, os engenheiros responsáveis pelo projeto adotaram uma técnica inovadora: a mistura de gelo ao concreto utilizado na obra.
Em entrevista ao Jornal O Estado, o Gerente de Producao do Consorcio Binacional PYBRA, o engenheiro Douglas Pereira, confirmou que na obra da Ponte Bioceânica, estão sendo utilizados até 120kg/m³ de gelo para garantir uma aplicação de concreto entre 22-24 graus, mesmo em climas acima de 42 graus. Para isso, contam com uma fábrica de gelo para atender à demanda de 60 mil m³ de concreto durante toda a obra e cita, que a mistura se assemelha com a receita de um bolo.
“No caso do bolo, a mistura é levada ao forno e ganha calor, aumentando de volume. Já o concreto gera uma reação exotérmica que também aumenta seu volume. Durante esse processo, o concreto encontra restrições que geram tensões que ele não suporta, causando fissuras. Por isso, precisamos controlar a elevação da temperatura e do volume. Em obras grandes em regiões quentes, usamos gelo para substituir a água na receita do concreto”, pontuou.
Segundo o MOPC (Ministério de Obras Públicas e Comunicações), a mistura ajuda a controlar a hidratação do concreto, evitando problemas como fissuras e endurecimento prematuro, que podem ser causados pelo calor excessivo.
A aplicação de gelo é uma prática consolidada em grandes obras, e no caso da Ponte Bioceânica, ela é essencial para garantir a resistência e durabilidade do material, especialmente em uma região onde as condições climáticas são imprevisíveis e extremas.
Clima extremo
De acordo com o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), o município de Porto Murtinho, onde está localizada a ponte, registrou temperaturas extremas nos últimos dias, incluindo a maior do país em 16 de janeiro, com 40,4ºC e sensação térmica de 45ºC. Essa onda de calor tem sido recorrente, com o município liderando as cidades mais quentes do Brasil.
Para o Jornal O Estado, Nelson Cintra, atual prefeito de Porto Murtinho onde a ponte está sendo construída indica que não somente a obra está sofrendo alterações no modelo de construção, mas também indica que a população tem buscado alternativas para lidar com as altas temperaturas.
“A população está correndo do sol, aproveitando as sombras das árvores. A cidade tem um histórico de calor então, a população já está mais acostumada, claro que temos casos de pessoas idosas que estão procurando atendimento, pois estão incomodadas com o calor”, explicou.
Questionado sobre o andamento da obra da ponte ele garante que as equipes seguem trabalhando em pleno vapor e que os serviços estão sendo finalizados dentro do cronograma previsto. “A obra está avançando, a parte boa é que não estamos tendo tantos dias de chuva e por isso, o trabalho está fluindo bem. Já estamos com homens trabalhando na construção do acesso à ponte”, confirmou.
Desafios e desenvolvimento regional
Além dos desafios técnicos, a Ponte Bioceânica tem grande importância para o desenvolvimento econômico sul-mato-grossense. Ao conectar o Brasil ao Paraguai, ela facilitará o transporte de mercadorias entre os países do Mercosul, abrindo novas oportunidades para o agronegócio e o turismo.
A construção da ponte não só promete transformar a logística entre Brasil e Paraguai, mas também pode atrair turistas para a região, que já é conhecida por sua beleza natural. A combinação de infraestrutura moderna com os atrativos naturais do Pantanal pode impulsionar ainda mais o turismo local, ampliando as oportunidades econômicas para as comunidades.
Impactos no agronegócio 
A Ponte Bioceânica representa um avanço significativo para o agronegócio brasileiro, especialmente em Mato Grosso do Sul. A redução dos custos logísticos em até 30% é uma das principais promessas do projeto, o que pode trazer grandes vantagens para os produtores rurais, permitindo que seus produtos se tornem mais competitivos no mercado internacional.
A nova rota rodoviária também permitirá um acesso mais rápido aos portos do Chile, encurtando em até 12 dias o tempo de navegação para os mercados asiáticos, em comparação com as rotas tradicionais.
O projeto também inclui a construção de trechos essenciais da rodovia no Paraguai, como o Picada 500, que está passando por uma transformação notável. A aplicação de primer asfáltico nas camadas de solo-cimento foi realizada recentemente, o que traz grandes expectativas para a futura estrada, como destacou o fotógrafo Toninho Ruiz: “A Rota Bioceânica começa a mudar de cor, e os moradores locais estão entusiasmados com os avanços”. O projeto no Paraguai tem a conclusão prevista para 2026, e visa melhorar a conectividade entre os oceanos Atlântico e Pacífico, fortalecendo ainda mais a integração regional e a competitividade nas exportações.
Com todas essas obras e melhorias, a Ponte Bioceânica se configura como uma peça fundamental para o futuro econômico e logístico da região, unindo os países da América do Sul e criando novas oportunidades de comércio, turismo e desenvolvimento sustentável.
Investimentos e avanços nas Obras
A construção da Ponte Bioceânica está sendo realizada por um consórcio binacional, e conta com 65% da obra já concluída, com investimentos significativos do governo paraguaio, totalizando R$ 575,5 milhões.
A estrutura terá 1.294 metros de extensão, divididos em três trechos, com uma parte estaiada de 632 metros sobre o rio Paraguai. A obra incluirá faixas de rodagem amplas, ciclovias e calçadas, além de um sistema de mastros que servirá como portais simbólicos entre os dois países.
No lado paraguaio, o processo de pavimentação da estrada que dará acesso à ponte também está avançando, e a licitação para a pavimentação de 3,8 quilômetros já foi iniciada. No Brasil, o acesso à ponte, que ligará a BR-267 à estrutura, está em fase de execução, com a obra orçada em R$ 427 milhões e a previsão de conclusão para 2026.
Uso de Gelo também está sendo aplicado na Capital
Segundo o engenheiro civil Sidicley Formagini, 1° vice-presidente do Crea-MS (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Mato Grosso do Sul), o modelo de construção com o uso de gelo também está sendo aplicado na Capital e o principal benefício é a segurança estrutural.
“Com a adição do gelo, ao invés de aplicar o concreto a 35ºC, a gente tem feito em Campo Grande a aplicação na ordem de 18ºC a 20ºC. Isso dá uma diferença de quase 18ºC de temperatura, então a ideia é a de colocar gelo para que as reações químicas se processem de forma correta e não haja uma diferença muito elevada entre o centro do concreto e a fase externa, melhorando a segurança estrutural do elemento”, explica.
O especialista alerta ainda de que não basta apenas colocar o gelo no concreto é necessário uma análise detalhada sobre o
“A primeira etapa é colocar o gelo, mas antes precisa de um estudo para ver  qual é a temperatura inicial em que o concreto é obrigado, em função do tipo de cimento e da espessura da camada de concreto e por último, eu tenho que monitorar para ver se o estudo prévio vai estar de acordo com a temperatura dentro do bloco”, explicou.
Suelen Morales e Michelly Perez

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