Com nicotina salinizada, cigarros eletrônicos tornam-se a cada dia uma preocupação crescente de saúde pública. Os dispositivos causam dependência e podem desencadear doenças respiratórias, cardiovasculares e até câncer.
“Os cigarros eletrônicos acabaram se disseminando entre adultos como uma opção ‘cheirosa’ aos cigarros convencionais e entre jovens como a ‘febre do momento’. O que a população precisa saber é que esses dispositivos eletrônicos não são inofensivos”, afirma Carla Tatiane Rodrigues Soares, gerente de Prevenção e Controle do Tabagismo da SES.
“Cigarros eletrônicos e aditivos: sabores e aromas que promovem e perpetuam a dependência de nicotina”, esse é o tema da campanha lançada pelo Ministério da Saúde e pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca) em alusão ao Dia Mundial sem Tabaco, lembrado em 31 de maio.
Apesar da proibição, os DEFs (Dispositivos Eletrônicos para Fumar) podem ser facilmente encontrados trazendo riscos à saúde. Esses dispositivos muitas vezes vistos como inofensivos, contêm nicotina sintética e na forma de sais diluídos em líquido, e outras substâncias tóxicas.
“O dia de hoje não é um dia menor. Não é um dia para a gente celebrar nada porque temos muita luta ainda, muito trabalho para salvar vidas, para impedir que essa situação acometa tanto a saúde das pessoas, com tanto impacto nos sistemas nacionais de saúde do mundo como um todo”, destacou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
O ministro pontua que o uso de dispositivos eletrônicos é visto como um novo desafio na luta contra o tabaco. “Quando a gente compara o uso desses dispositivos aqui no Brasil e em países que liberaram a utilização e tentaram regulamentar de alguma forma, chega a ser quatro, cinco, seis vezes maior, proporcionalmente, a utilização”, alertou.
A campanha alerta para o papel dos aditivos na atratividade sensorial e no modo como mascaram os danos dos produtos, dificultando a cessação do vício. “Os produtos de nicotina e de tabaco são altamente viciantes e prejudiciais. Cigarros eletrônicos e aditivos são formas de atrair mais as pessoas para o tabagismo. É necessário reforçar com a sociedade que produtos fumígenos, em todas as suas formas, fazem mal à saúde”, destacou o Inca, em nota.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), para cada ano do triênio 2023/2025, foram estimados 32.560 novos casos de câncer de traqueia, brônquio e pulmão no Brasil. Conforme o diretor executivo da Fundação do Câncer, Luiz Augusto Maltoni, os cigarros eletrônicos representam uma ameaça crescente à saúde pública no Brasil.
“Com embalagens chamativas e sabores atrativos, esses dispositivos mascaram seus malefícios e seduzem uma nova geração ao vício da nicotina. Dados do Ministério da Saúde revelam que 70% dos usuários de cigarros eletrônicos têm entre 15 e 24 anos”, disse Maltoni.
O Lenad (Levantamento Nacional sobre Álcool e Drogas), recém divulgado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, mostra que mais de 77% dos usuários de vape disseram que o produto não os ajudou a parar de fumar cigarros convencionais. “O que enfraquece o principal argumento da indústria do tabaco de que os cigarros eletrônicos seriam uma alternativa para se parar o tabagismo”, diz a Fundação do Câncer.
Aumento de fumantes no Brasil
O Brasil registrou, em 2024, o primeiro aumento no número de fumantes adultos em quase duas décadas. De acordo com levantamento divulgado pelo Ministério da Saúde, o índice passou de 9,3% para 11,6% em um ano, após uma trajetória de queda desde 2007.
A pesquisa foi feita nas capitais e no Distrito Federal. O aumento é considerado inédito na série histórica e preocupa autoridades da área. Entre os homens adultos, o percentual subiu de 11,7% para 13,8%. Já entre as mulheres, o crescimento foi de 7,2% para 9,8%.Segundo o Ministério da Saúde, houve um aumento relativo de 25% na proporção de fumantes adultos.
A diretora do Departamento de Análise Epidemiológica e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis, Letícia de Oliveira Cardoso, afirmou que o alerta já havia sido identificado em 2023, entre jovens de 18 a 34 anos.
“Agora esse crescimento aparece na média geral. Precisamos retomar medidas mais duras e efetivas, principalmente voltadas ao público jovem, que voltou a fumar”, disse.
O estudo também avaliou o uso de cigarros eletrônicos. Em 2024, 2,6% dos adultos das capitais declararam usar esses dispositivos, número estável em relação ao ano anterior, que registrou 2,1%. Para o ministério, mesmo em estabilidade, o dado indica tendência de crescimento. “É o ponto mais alto desde que começamos o monitoramento, em 2019”, afirmou Cardoso.
Ações educativas, fiscalização e cessação do tabagismo
Mesmo com a proibição da comercialização, importação e propaganda desses produtos pela Anvisa desde 2009, a venda ilegal ainda ocorre com facilidade, o que reforça a necessidade de fiscalização e informação contínua à população sobre a nocividade do produto e sobre as terapias de cessão do tabagismo disponíveis no SUS.
“Para quem deseja abandonar o vício da nicotina, seja de cigarro comum, cigarro eletrônico ou outros fumígenos, a opção é procurar a unidade básica de saúde mais próxima para realizar, mediante avaliação médica, as terapias de cessão do tabagismo disponíveis no SUS”, orienta a gerente de Prevenção e Controle do Tabagismo da SES, Carla Tatiane Rodrigues Soares.
De acordo com a SES, em 2023 foram realizadas diversas apreensões de dispositivos eletrônicos para fumar em Mato Grosso do Sul. Somente naquele ano, mais de 2.600 unidades foram recolhidas em ações de fiscalização. Em 2024 já foram realizadas ações em todo o Estado, como campanhas educativas em escolas da Rede Estadual de Ensino, dentro do PSE (Programa Saúde na Escola), e entre profissionais de saúde, promovendo ambientes escolares mais saudáveis e orientando sobre os riscos do uso dos cigarros eletrônicos.
As ações incluem ainda o “Protocolo de 5 Ações”, lançado pela SES em maio de 2024 para orientar municípios no enfrentamento à comercialização e ao consumo desses produtos.
“É direito do consumidor exigir de responsáveis por estabelecimentos comerciais, bares, restaurantes e casas noturnas, que espaços coletivos fechados ou parcialmente fechados, ainda que na calçada, estejam livres da fumaça tóxica do cigarro eletrônico”, ressalta o fiscal da SES, Matheus Pirolo.
De acordo com a Coordenadoria Estadual de Vigilância Sanitária da SES, a multa para quem distribui, armazena, transporta, faz propaganda ou comercializa cigarros eletrônicos; e para quem franqueia a comercialização realizada por ambulantes em seu estabelecimento comercial, pode chegar a até R$ 30 mil, além da apreensão do produto proibido e da interdição do local por até 90 dias.
Para denunciar a venda de cigarros eletrônicos, ou a permissão de venda realizada por ambulantes em estabelecimentos comerciais, bares, restaurantes e casas noturnas, a população pode entrar em contato com a Vigilância Sanitária pelo telefone 0800 647 0031 ou pelo 136.
Confira, a seguir, o que acontece com o organismo do fumante ao parar de fumar:
– após 20 minutos, a pressão sanguínea e a pulsação voltam ao normal;
– após duas horas, não há mais nicotina circulando no sangue;
– após oito horas, o nível de oxigênio no sangue se normaliza;
– após 12 a 24 horas, os pulmões já funcionam melhor;
– após dois dias, o olfato já percebe melhor os cheiros e o paladar já degusta melhor a comida;
– após três semanas, a respiração se torna mais fácil e a circulação melhora;
– após um ano, o risco de morte por infarto do miocárdio é reduzido à metade;
– após 10 anos, o risco de sofrer infarto é igual ao das pessoas que nunca fumaram.
Governo gasta até cinco vezes mais do que a indústria do cigarro lucra
Ainda relacionado ao Dia Mundial sem Tabaco, a OMS (Organização Mundial da Saúde) lançou o projeto “Desmascarando a indústria do tabaco”. No último dia 28, o Inca lançou o estudo A Conta que a Indústria do Tabaco Não Conta em que aponta que para cada R$ 1 de lucro da indústria do tabaco, o governo federal gasta R$ 5 com doenças causadas pelo fumo.
“O estudo do Inca mostra a origem dos recursos dessas estratégias que a indústria do tabaco utiliza. É uma indústria que vive de morte, sofrimento, adoecimento e gera um custo para a sociedade brasileira. Cada R$ 156 mil que a indústria do tabaco utiliza em estratégias de marketing e mídias sociais para pagar influencers, para agir em ações judiciais, equivale a uma morte. Esse é um recurso que está carimbado com morte”, revela André Szklo, um dos autores da pesquisa.
Por Inez Nazira
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