“Estamos na ‘Escolha de Sofia’, ou guardava dinheiro para o 13º ou deixava morrer gente”, diz presidente da Santa Casa

Profissionais afirmam que não receberam o 13º salário - Foto: Juliana Aguiar
Profissionais afirmam que não receberam o 13º salário - Foto: Juliana Aguiar

Santa Casa busca empréstimo para pagar 13º atrasado e paralisação de funcionários marca crise financeira do hospital

 

A Santa Casa de Campo Grande enfrenta uma grave crise financeira que resultou no atraso do pagamento do 13º salário de seus funcionários e na paralisação parcial das atividades nesta semana. Segundo a presidente da instituição, Arli Terra Lima, o hospital tenta viabilizar um empréstimo bancário para quitar o valor aproximado de R$ 14 milhões referentes ao benefício, enquanto busca na Justiça o reequilíbrio econômico-financeiro do contrato com o poder público.

Com o auditório lotado e sob protestos de funcionários que cobravam o pagamento, Arli afirmou que a situação é consequência de um desequilíbrio histórico entre o volume de atendimentos realizados e os recursos recebidos pela instituição.

Arli Terra Lima, presidente da Santa Casa de Campo Grande, conversou com profissionais na manhã desta segunda-feira – Foto: Juliana Aguiar

“Estamos na ‘Escolha de Sofia’: ou guardava dinheiro para o 13º ou deixava morrer gente na Santa Casa”, declarou, ao justificar a priorização de despesas assistenciais em detrimento da reserva financeira.

O  o termo “a escolha de Sofia” remete à sensação de ter que tomar uma escolha muito complicada em um ambiente de pressão e sacrifício.

Nesta segunda-feira (22), enfermeiros, técnicos de enfermagem, médicos e trabalhadores das áreas administrativa e de limpeza paralisaram parte das atividades. De acordo com os sindicatos, cerca de 70% do efetivo segue em operação, enquanto o restante participa de manifestações com caminhada, cartazes e concentração no saguão do hospital. Os funcionários reivindicam o pagamento imediato do 13º salário.

Ação judicial e aumento de repasse

Arli Terra lembrou que assumiu a presidência da Santa Casa em janeiro de 2023 e que, desde então, a instituição vem alertando órgãos de controle sobre o desequilíbrio contratual. Segundo ela, o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) acompanha a situação desde 2022. Neste ano, diante do agravamento da crise, a Santa Casa ingressou com ação judicial.

No último dia 17 de dezembro, o TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) determinou a ampliação do repasse mensal ao hospital, com aumento de cerca de R$ 3,3 milhões. A decisão, proferida em segunda instância pelo desembargador José Eduardo Neder Meneghelli, corrigiu o cálculo definido anteriormente pela 2ª Vara de Fazenda Pública e de Registros Públicos.

Apesar disso, a presidente explicou que o pagamento do 13º salário tradicionalmente ocorre com base em um repasse contratual do governo do Estado, previsto em acordo com a Fehbesul (Federação dos Hospitais Filantrópicos e Beneficentes de MS). Neste ano, porém, o Estado informou que não conseguiria efetuar o pagamento em dezembro, propondo o parcelamento do valor entre janeiro e março de 2026.

Greve e impacto nos atendimentos

Durante entrevista coletiva, Arli reconheceu a legitimidade do movimento dos trabalhadores, mas alertou para os impactos da paralisação. Segundo ela, a Santa Casa é o único hospital da Capital integrado à rede de urgência e emergência, o que obriga a instituição a manter atendimentos mesmo em cenário de crise. Cirurgias eletivas foram suspensas para preservar insumos destinados a casos graves.

A presidente também negou informações sobre falta de água no hospital e afirmou que a gestão adotou medidas de controle para evitar a escassez de medicamentos e materiais.

“A Santa Casa nunca deixou de atender ninguém. O que existe é uma gestão rigorosa dos insumos para garantir que não falte nada para quem corre risco de morte”, afirmou.

Foto: Juliana Aguiar

Pressão sindical e cobrança ao governo

Após a fala da presidente, o presidente do Siems (Sindicato dos Trabalhadores na Área de Enfermagem de MS), Lázaro Santana, afirmou que recebeu do secretário estadual de Saúde, Maurício Corrêa, a sinalização de que o recurso poderia ser repassado até o dia 25 de janeiro.

“Se há possibilidade de antecipar para janeiro, é porque existe dinheiro”, disse, sob aplausos dos manifestantes. Segundo ele, o movimento paredista será mantido até que o pagamento seja realizado.

Representantes sindicais destacaram ainda o histórico de atrasos salariais e a sobrecarga enfrentada pelos profissionais da saúde, com déficit de pessoal e aumento de afastamentos por adoecimento. A mobilização, segundo os líderes do movimento, busca sensibilizar o governador Eduardo Riedel e demais autoridades para uma solução definitiva.

Arli Terra reforçou que a Santa Casa continuará tentando viabilizar o empréstimo, embora reconheça a dificuldade diante do desequilíbrio contratual, que afasta bancos interessados. Segundo ela, o déficit mensal da instituição gira em torno de R$ 12 milhões, e o passivo acumulado ao longo dos anos chega a cerca de R$ 100 milhões.

“O que precisamos é resolver de vez o equilíbrio econômico-financeiro do contrato, para que essa situação não volte a se repetir”, concluiu.

A prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes (PP) aformou que os repasses do município em relação à Santa Casa estão em dia. “No mesmo formato que a gente foi semana passada informando toda a população de Campo Grande, em relação a Santa Casa também está em dia”, afirmou.

 

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