Grupo formado por entidades de apoio e Executivo de MS visa fomentar o ensino de crianças de 4 a 5 anos
Como resultado de um esforço coletivo para fortalecer a educação infantil em Mato Grosso do Sul, a Fundação Bracell, junto com diversas entidades sem fins lucrativos, está articulada com o Governo do Estado para realização de uma coalizão a favor da educação na primeira infância, com o objetivo de promover melhorias significativas na formação dos professores de pré-escolas e no aprendizado das crianças de 4 a 5 anos.
A informação foi divulgada durante o 2º Simpósio Internacional de Educação Infantil, realizado em 7 de outubro, no Centro de Integração Internacional da USP (Universidade de São Paulo), em São Paulo. De acordo com o presidente da Fundação, Eduardo Queiroz, Mato Grosso do Sul será um dos primeiros a receber as políticas pensadas pela Fundação para o aperfeiçoamento da educação na primeira infância.
“Queremos usar Mato Grosso do Sul e o Piauí como exemplo desse trabalho. Estamos no Estado com a MS Florestal, onde vamos abrir uma fábrica, então, investiremos na Educação para que MS tenha cada vez mais sucesso. Vamos fazer um regime de colaboração com o governo e trabalhar com os municípios para promover uma mudança sistêmica na Educação”, destacou.
O diretor-presidente da Bracell ainda enfatizou que, apesar de não ser obrigação do Estado cuidar da educação infantil, sendo essa uma responsabilidade da municipalidade, Eduardo Riedel concordou em fazer parte da coalizão, justamente pelo caráter municipalista da iniciativa.
“Como vimos durante as falas do simpósio, sem a ajuda do Estado os municípios não vão conseguir fazer com que a educação infantil tenha qualidade, porque, muitas vezes, as cidades são pequenas, às vezes não tem recurso financeiro ou técnico e o Estado pode conseguir isso”, disse.

Foto: Divulgação
E completou: “Fizemos uma reunião ótima com ele [Eduardo Riedel] e ele disse que tem o maior interesse, justamente por ter uma gestão municipalista e também porque tem muita vontade de apoiar os municípios na educação infantil”.
Com a construção da fábrica da MS Florestal, que se junta a mais quatro outras indústrias de celulose já existentes no interior de MS, a Bracell vai investir R$ 4,6 bilhões em MS, o que, segundo Queiroz, já é motivo de sobra para que a Fundação invista também na qualidade da educação no Estado.
“O Estado precisa crescer e a Educação Infantil é essencial para o desenvolvimento, inclusive, tem estudos que mostram que uma criança que passa pela pré-escola tem possibilidades de ganhar um salário 36% maior do que aquele que não teve essa educação na primeira infância. É como construir uma casa: precisa ter uma base sólida para que seja construído o restante depois”,afirmou.
Os trabalhos da coalizão já começaram e, até o momento, foram realizadas reuniões para alinhamento dos entes envolvidos. O próximo passo é realizar uma pesquisa de diagnósticos para que se tenha um raio-x de qual é a real situação das escolas e do ensino oferecido para as crianças de 4 a 5 anos.
Logo depois, a organização Roda Educativa, que é uma das parceiras na coalizão, irá montar um modelo de governança para implementar as mudanças necessárias para o melhoramento da Educação infantil.
“Então, se a gente tiver uma noção de como é que está o currículo, modelo pedagógico, infraestrutura, tudo isso, vamos conseguir ter uma linha de base. Com esse diagnóstico, vamos começar a trabalhar ano que vem. É um trabalho que vai demorar dois ou três anos, mas que a gente tem muito interesse em fazer com que isso aconteça”, finalizou.
VOZES DA EDUCAÇÃO DE MS
Mato Grosso do Sul também esteve representado no simpósio com a presença da ex-secretária de Educação e atual presidente da Fabed (Fundação de Apoio e Desenvolvimento à Educação Básica), Maria Cecília Motta, e da presidente do Conselho Estadual de Educação, Celi Corrêa Neres. Ambas destacaram o papel do Estado e das instituições parceiras na consolidação da primeira infância como prioridade educacional.
Para Maria Cecília Motta, a coalizão entre Fundação Bracell, Governo do Estado e entidades do terceiro setor representa uma oportunidade de estruturar políticas de longo prazo para o desenvolvimento infantil.
“A Fabed está atuando como fundação de apoio técnico ao governo, fazendo a ponte entre as instituições. Estamos trabalhando junto à LEPS para que o Estado possa pensar legislações específicas que atendam a educação infantil. O primeiro passo será o diagnóstico da realidade, para entender quantidade e qualidade do atendimento nas redes municipais”, explicou.
Segundo ela, a fundação também executa projetos complementares voltados à formação docente e à valorização da aprendizagem desde a pré-escola.
“Temos o projeto Mentalidades Matemáticas, em parceria com o Itaú Social e o Instituto Sidarta, que já alcança 13 municípios e pretende expandir. A proposta é desmistificar o ensino da matemática desde a educação infantil, por meio de brincadeiras com intencionalidade. Queremos formar professores que amem ensinar matemática e ajudem as crianças a compreender o mundo de forma lógica desde cedo”, destacou.
Maria Cecília lembrou que o trabalho da Fabed também se estende à gestão escolar, com programas de capacitação para diretores e coordenadores pedagógicos.
“Trabalhamos com gestão educacional, com uso de inteligência artificial, e apoiamos municípios em várias frentes — da alfabetização à inclusão digital. Acreditamos que fortalecer os primeiros anos é a chave para toda a trajetória escolar”, afirmou.
Com 53 anos de carreira na educação, a ex-secretária reforçou que o país precisa “transformar evidências em ação”, citando a necessidade de priorizar o financiamento da educação infantil.
“Temos uma montanha de evidências sobre a importância da primeira infância, mas o que falta é atitude. É preciso empoderar os secretários de Educação, garantir que os recursos sejam geridos por quem entende do pedagógico e colocar a creche e a pré-escola como prioridade nacional”, defendeu.
Por sua vez, a presidente do Conselho Estadual de Educação, Celi Corrêa Neres, explicou que o fortalecimento da educação infantil passa por um “regime efetivo de colaboração” entre União, Estado e municípios.
“O regime de colaboração está previsto no artigo 211 da Constituição Federal e estabelece que os entes federados devem atuar de forma integrada. No caso da educação infantil, os Conselhos Estaduais e Municipais trabalham juntos na normatização, regulação e acompanhamento das políticas públicas”, afirmou.
Segundo Celi, Mato Grosso do Sul se destaca no cenário nacional por já ter normatizado as diretrizes curriculares e os parâmetros de equidade e qualidade para a educação infantil — sendo o primeiro estado do país a fazê-lo.
“Nós elaboramos um parecer orientativo baseado nos parâmetros nacionais, que serve de referência para todas as escolas estaduais, municipais sem conselho próprio e também para as instituições privadas de educação infantil. Essa articulação garante unidade e qualidade na oferta do ensino”, detalhou.
A presidente do CEE ainda ressaltou que, em parceria com a Undime e a UNCME, o Estado realiza encontros periódicos com secretarias municipais e conselhos locais para alinhar as práticas educacionais.
“O objetivo é assegurar que o direito à educação infantil seja efetivado em todos os territórios, com acompanhamento técnico e pedagógico contínuo”, concluiu.
O Simpósio
2º Simpósio Internacional de Educação Infantil organizado em parceria pela Fundação Bracell, o Ministério da Educação, o UNICEF, a Cátedra Sérgio Henrique Ferreira do IEA/ USP, a Fundação Van Leer, o Itaú Social, e o David Rockfeller Center for Latin American Studies de Harvard em São Paulo. O evento reuniu especialistas nacionais e internacionais de referência no debate sobre políticas públicas voltadas à Primeira Infância.
Entre os palestrantes e debatedores estiveram Dana McCoy, professora associada de Desenvolvimento Humano e Educação Urbana e co-presidente do Programa de Desenvolvimento Humano e Educação (HDE) da Harvard Graduate School of Education, e Susan Fuhrman, professora Emérita da Universidade de Columbia; além de especialistas e representantes do MEC, UNICEF, Inep, Todos Pela Educação, Fundação Bracell, entre outros.
Por Ana Clara Julião e Suelen Morales
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