Deficientes visuais pedem atualização de aplicativo de acessibilidade para terem autonomia no transporte coletivo

Foto: Roberta Martins
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Presidente do Comitê Com Todos afirma que, apesar da existência do aplicativo, o uso não é efetivo, porque falta investimento e treinamento dos motoristas

 

Entre as reivindicações dos usuários do transporte coletivo de Campo Grande durante a audiência pública realizada na Câmara Municipal, que integra a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Transporte Público, a presidente do Comitê Com Todos, Edivanda Diniz Aires, usou a oportunidade para pedir apoio ao Consórcio Guaicurus para que o aplicativo “Todos no Ônibus” volte a funcionar de forma adequada e que os motoristas sejam treinados para auxiliarem as pessoas com deficiência, especialmente aquelas que dependem do software para terem mais autonomia na hora de andar de ônibus.

“Esse aplicativo é muito importante para nós, porque ele tem o objetivo de dar autonomia para a pessoa com deficiência. Com ele, a gente pode estar no ponto de ônibus e embarcar sem precisar do auxílio de outras pessoas. A gente ouve e sabe que ele está vindo, mas não sabemos qual é a linha, então, como vamos embarcar sem precisar ficar perguntando para outras pessoas?”, questionou Edivanda.

O aplicativo existe desde 2014, quando foi desenvolvido por alunos do ISMAC (Instituto Sul Matogrossense para Cegos Florivaldo Vargas), justamente como forma de dar mais independência a quem mais precisa e, com o apoio da Agetec (Agência Municipal de Tecnologia da Informação e Inovação de Campo Grande), chegou para os usuários e foi inserido no sistema de transporte público da Capital, ficando em funcionamento até 2018.

Foto: Roberta Martins

A ideia é bem simples e o funcionamento também: as linhas ficam disponíveis como em qualquer aplicativo de transporte público, então, o usuário precisa escolher em qual linha quer embarcar. Assim que selecionar o ônibus que pretende pegar, o motorista recebe uma mensagem diretamente no sistema do celular que usa dentro do veículo. Ele será informado do nome e deficiência do passageiro, tendo ferramentas que podem facilitar na hora do embarque.

Ao chegar no ponto onde a pessoa aguarda o ônibus, o motorista pergunta o nome do passageiro para verificação e confirma o número da linha para que o usuário possa tomar a condução de forma segura e tranquila, sempre pensando na autonomia que isso gera.

Edivanda ainda explica que o aplicativo também serve para pessoas que tem deficiência física, principalmente para cadeirantes, que acionam o ônibus em que querem embarcar e, dessa forma, o motorista sabe que naquele ponto ele vai precisar descer do veículo para acionar o elevador, ou, também, pode informar caso não haja espaço vago para cadeirantes naquele carro, já que nem todos os ônibus dispõe de duas vagas para cadeira de rodas.

“Com o aplicativo o próprio motorista pode se preparar. Se é um cadeirante, ele sabe que terá que baixar a rampa, responder se tem ou não tem vaga, porque tem ônibus que só tem uma vaga para cadeira de rodas. Sem o aplicativo, a pessoa pode ficar horas esperando no ponto e o ônibus chegar e não ter espaço para ela. Então, o próprio cadeirante já sabe qual é o momento que vai ter vaga ou não. Sem isso, muitos motoristas passam e deixam a pessoa com deficiência visual ou cadeirante no ponto, e quando a pessoa não enxerga ela nem sabe o porquê que o ônibus não parou”, explicou Edvanda, reforçando a importância do Consórcio oferecer treinamento para os motoristas saberem usar o aplicativo e lidarem com pessoas com deficiência.

Por fim, a presidente do comitê apela para que o Executivo e o Consórcio Guaicurus auxiliem a renovar a tecnologia usada para que o aplicativo fique melhor e atualizado para que chegue a mais pessoas.

“Essa foi a forma que encontramos para ter mais acessibilidade e dar autonomia para as pessoas com deficiência visual, que podem ter baixa visão, assim como eu, ou cegueira total, sendo que serve também para os cadeirantes”, finalizou, explicando que para o usar o aplicativo, os deficientes visuais usam outro aplicativo sobreposto para comando de voz, algo que já se popularizou entre a população cega.

Atualmente, o aplicativo está disponível, mesmo com a defasagem da tecnologia, contudo, a falta de conhecimento e treinamento por parte dos motoristas dificulta a aplicação dessa ferramenta de acessibilidade no dia a dia, já que nem todos conhecem a ferramenta ou o tem instalado nos celulares por onde comandam o veículo.

Mais reivindicações

Na mesma audiência pública, a Câmara Municipal foi à Praça Ary Coelho, no Centro de Campo Grande para colher o depoimento dos usuários que não puderam comparecer à Casa de Leis.

Uma das principais reclamações vindas dos cadeirantes entrevistados foi a respeito dos elevadores dos veículos, que muitas vezes não funcionam ou tem defeitos, o que impede a entrada de pessoas com deficiência no ônibus. Além disso, também houve reclamações sobre as campainhas instaladas no espaço dedicado à cadeiras de rodas, que muitas vezes não funcionam e os cadeirantes não conseguem desembarcar no ponto pretendido, bem como há falta de cintos de segurança para estabilizar as cadeiras no local adequado.

Apesar das recorrentes reclamações, o REMID (Relatório de Monitoramento de Índices de Desempenho), que avaliou diversos aspectos do serviço prestado pelo Consórcio Guaicurus, classificou como excelente a acessibilidade oferecida pela empresa. Em depoimento à CPI, técnicos afirmaram que essa classificação diz respeito apenas se o veículo é ou não é equipado com elevadores, mas não avalia se estão em funcionamento ou não.

 

Por Ana Clara Santos

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