Escolha de horários, regiões e gravação das viagens em vídeo fazem parte das estratégias adotadas pelos profissionais
Com três ocorrências de assaltos em um intervalo de 20 dias, motoristas de aplicativo de Campo Grande precisam estar atentos a todo momento para evitar serem alvos dos criminosos. Recusar corridas, não ir à determinadas regiões, saber quais os horários mais seguros para trabalhar e analisar o perfil do passageiro antes de aceitar buscá-lo são algumas formas que os profissionais encontraram para se sentirem mais seguros enquanto rodam pelas ruas da Capital.
A insegurança constante faz parte da rotina de quem trabalha neste ramo e, mesmo após anos de experiência, ainda é preciso recorrer à esses e outros macetes para retornar para casa sem prejuízos após um dia todo de viagem.
Esse dia a dia é vivido há 2 anos por um motorista, de 39 anos, que preferiu não se identificar por motivos de segurança. O auxiliar contábil, que trabalha de motorista no contraturno do emprego formal como forma de complementar a renda mensal, relata que, além de todas as precauções conhecidas pelos motoristas, ainda evita aceitar corridas que são para terceiras pessoas:
“Nestes 2 anos nunca aconteceu nada, mas acho que muito se deve pelo filtro que eu tenho antes de receber o chamado de corrida. Por exemplo, se eu desconfio da corrida, paro o carro um pouco antes e analiso, porque, pode ser para terceiro e é nessas horas que acontecem a maioria dos assaltos. Em um dia bom são 20 a 30 corridas, então, a chance de ser assaltado é bem grande”, disse.
Ainda de acordo com ele, algo que o ajudou bastante a aprender como proceder enquanto motorista foram as conversas com outros profissionais, que geralmente mantém canais de comunicação entre eles.
“Muitos desses canais me ajudaram a ter algumas posturas e posicionamentos para poder me proteger, porque os próprios aplicativos não dispõem disso, eles visam totalmente o lucro. Às vezes, até pela questão de segurança, muitas das vezes a gente filtra o bairro que você não vai, por não se sentir tão seguro.
Os mesmos cuidados são tomados por Vinícius Masseli Dias, de 36 anos. Atualmente, ele trabalha em três plataformas diferentes e, de acordo com sua análise, elas são bem distintas quando a questão é a segurança do motorista, tendo recursos diferentes e, consequentemente, sendo mais ou menos seguranças para trabalhar.
“Tem dois aplicativos que dão a opção de verificar o passageiro pelo CPF e saber se há ocorrências policiais no nome dele. Há outros onde podemos pegar qualquer tipo de pessoa, estando sujeito à ter passageiros de má-fé. Também tem um recurso que mostra locais com prováveis riscos, então, cabe ao motorista aceitar ou não a corrida”, afirmou.
Além dos recursos do próprio aplicativo, Vinícius também usa a estratégia de verificar o local de partida e de chegada antes de aceitar o pedido de corrida e entender quais os tipos de público que ele poderá encontrar em cada horário ou dia de trabalho.
“Os horários mais seguros são de manhã e à tarde, e os mais arriscados são de noite e, principalmente, de madrugada. Cada horário tem um público específico. Esses dias peguei umas pessoas que pareciam bem suspeitas, fiquei atento e apreensivo o todo trajeto, mas só pude compartilhar a corrida e não via a hora de terminar logo”, afirmou.
A insegurança não se restringe apenas aos aplicativos de corrida, mas também afeta quem trabalha como entregador autônomo, sendo que um dos principais riscos também são os assaltos.
No entanto, neste caso, o modus operandi é diferente. De acordo com Lucas Rezende Machado, de 31 anos, uma das formas que os assaltantes encontraram para praticar crimes é solicitar entregas de comida, por exemplo, para atrair o trabalhador e realizar o assalto.
“Casos de assalto acontecem mais quando ‘clientes’ fazem pedidos. Eles pedem, o motoboy chega no local da entrega, ,mas é surpreendido e assaltado, contou.
E completou: “Com certeza, dependendo do endereço que eu vou, sinto medo, mas não tem muito o que fazer, porque trabalhar com entrega e motorista de aplicativo é correr risco o tempo todo, porque nunca sabemos quem está do outro lado”.
Para o especialista em segurança pública, Coronel da Polícia Militar Alírio Villasanti, o mais importante é não reagir caso aconteçam assaltos ou crimes parecidos. Por outro lado, para evitar casos assim, é importante que o motorista sempre transporte passageiros que pedem corridas por meio de um aplicativo e, assim como muitos fazem, evitar buscar ou levar pessoas em locais ou horários em que a incidência de crimes é alta.
“Se for abordado entregue o que for pedido e vá embora,pois a vida é mais importante que qualquer bem material. É bom que sejam criados esses canais de comunicação, porque, em caso de dúvida, é possível avisar o grupo onde está indo e outros dados da chamada”, reforçou.
FALSA COMUNICAÇÃO DE CRIME
A DEFURV (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Furto e Roubo de Veículos), da Polícia Civil, informou, nesta terça-feira (21) que, após esclarecimentos, comprovou que uma suposta ocorrência de roubo de veículo, na verdade, se tratava de uma falsa comunicação de crime.
De acordo com o boletim de ocorrência, registrado na última quinta-feira (16) o veículo pertencia a um motorista de aplicativo e teria sido roubado por duas pessoas armadas, no Portal Caiobá.
Após o veículo ter sido recuperado o homem, que teria sido vítima do crime, confirmou que inventou a história. De acordo com ele, o carro foi empenhado em uma negociação particular como forma de garantia de um empréstimo e, ao perder o contato com o credor, tentou reaver o veículo, registrando o falso boletim de ocorrência.
A Defurv reforça que a falsa comunicação de crime é prevista no Código Penal e prejudica o andamento de investigações legítimas, por mobilizar agentes e recursos que deveriam ser empregados para solucionar casos verídicos e na mobilização efetivo ao combate da criminalidade.
Por Ana Clara Julião