Com falta de eletricidade por três dias, moradores do Taboco buscam responsabilizar concessionária

Foto: arquivo pessoal
Foto: arquivo pessoal

Para evitar maiores prejuízos, produtores rurais precisaram distribuir carnes entre propriedades próximas

Insatisfeitos com o serviço prestado pela concessionária de energia elétrica Energisa, alguns moradores do distrito de Taboco, na zona rural de Corguinho, a cerca de 98 km de Campo Grande, pretendem mover uma ação coletiva de indenização contra a empresa. O grupo alega falta de energia e assistência precária, que os fez somar prejuízo de milhares de reais pela perda da produção de leite e carne nos últimos dias, já que os produtos estragaram e não puderam ser comercializados, além de causar diversos transtornos.

Em conversa com o jornal O Estado, a advogada Elenice Carille, , afirma que está à frente do grupo e pretende organizar a ação para que todos possam ser reparados pela perda da produção. Elenice narra que a falta de energia já aconteceu algumas vezes nas fazendas e chácaras do Taboco, sendo que a mais recente foi registrada neste final de semana, quando a energia caiu no domingo, às 19h, e retornou apenas ontem, por volta das 8h. Quando acionada pelos moradores, a Energisa afirmou que a previsão inicial era de que a eletricidade fosse restabelecida dentro de 12h.

“Neste fim de semana tinha uns 10 vizinhos sem luz. A da minha casa tinha acabado em outra semana, mas eu perdi uma quantia de carne, porque tinha acabado de carnear. Vim para Campo Grande e me ligaram avisando que não tinha luz. Tive que jogar fora o que estava comigo e meu funcionário também precisou jogar fora a que ficou com dele.

A moradora e produtora rural da região, Elenice ainda afirma que, muito além de pedir por uma reparação financeira, a ação pretende demonstrar as melhorias que os consumidores esperam por parte da concessionária, especialmente quanto à assistência prestada aos moradores, que acionaram a empresa pedindo o retorno da luz.

“Tentaram entender o que estava acontecendo e, no fim, comunicaram à chefia que às 11h30 já estava resolvido o problema, o que é uma mentira, porque ficamos sem luz até hoje de manhã. Então, muito mais que indenização, queremos que a Energisa passe a agir de maneira correta com a gente”, afirmou a advogada.

Nas cerca de 36 horas que ficaram sem o abastecimento de eletricidade, o prejuízo foi apenas aumentando e se acumulando com os transtornos pessoais. Proprietário de uma leiteria, Edir Camilo de Mesquita, perdeu cerca de R$ 700 na produção de leite de um dia, além de somar perdas com carnes e itens da família que estavam na geladeira.

De acordo com a filha do produtor rural, Mariane Mesquita, foram realizados diversos chamados, tanto pelo aplicativo da concessionária quanto por telefonemas por todos os moradores, mas não houve nenhuma solução concreta. Ainda de acordo com ela, em sua família tem uma criança que necessita de alimentação especial, que foi perdida pela falta de energia.

“Além do leite, nós perdemos quase 30 quilos de carne, porque carneamos no domingo, por volta das 16h, mas a energia acabou logo em seguida. Abri diversos chamados e disseram que voltava na segunda-feira, até às 11h, mas voltou só hoje. Neste tempo também perdemos os mantimentos da geladeira. Aqui moram três crianças e, além de tudo, ainda perdemos o remédio de uma e tivemos o transtorno do calor”, conta a funcionária pública, que mora na propriedade há 7 anos.

O problema da falta de energia também atingiu o casal de idosos Maria de Fátima Lacerda, de 62 anos, e Rommel Lacerda, de 77. A moradora do Taboco conta que, além das perdas materiais, ainda encontra dificuldades com o sistema de atendimento da empresa, que é feito por meio de robôs, o que dificulta chegar a uma resolução.

“Eu liguei lá e é difícil conseguir falar com o atendente, porque tem aquelas mensagens automáticas e não sei se eles não gravam as informações. Como ainda não tinha voltado a energia na minha casa hoje de manhã, liguei novamente para fazer outra reclamação e a informação que tinha era que o problema foi resolvido no dia 29, sendo que ainda estava sem luz”, desabafou, reforçando que as informações repassadas aos clientes estavam desencontradas.

Segundo ela, ficar sem energia também é uma questão de segurança, já que o casal é monitorado pelos filhos à distância por câmeras de segurança, que ficam inoperantes sem eletricidade.

“Meu esposo não gosta da cidade, então, moramos aqui, mas sem energia meus filhos não conseguem ver a câmara de segurança e ficamos sem celular pra poder falar também. Fora o que estava no freezer e perdemos, inclusive o que a gente carneou para o Natal, só não perdemos mais, porque a drª Elenice nos ofereceu o freezer dela”, relatou.

Quem também pretende entrar para o grupo e processar a Energisa é o professor e arquiteto aposentado Wilson Verde Selva da Silva, que hoje se dedica exclusivamente à propriedade que tem na região do Taboco.

Wilson aponta que a falta de energia já é rotineira, mas as quedas costumam durar, no máximo 2 horas, no entanto, desta vez, foram cerca de 36 horas seguidas, período em que muitos vizinhos também entraram em contato com a concessionária solicitando a retomada da eletricidade.

“Não posso mais deixar aqui na fazendo os medicamentos que uso no gado. Levo tudo para Campo Grande para armazenar. Aqui já cansamos de perder carne, parei de carnear vaca para o consumo da minha família justamente por isso. Sei que meus funcionários carneiam, mas também já tiveram perda por falta de energia”, contou.

Ainda segundo o arquiteto, além dos prejuízos materiais, ainda há a dificuldade com o atendimento prestado ao consumidor pela empresa.

“ Para falar com alguém também é uma tragédia, porque a gente fica brigando com aquelas gravações, até a ligação cair e voltar para o início. Até conseguir falar com alguém é um sacrifício”, pontuou.
A concessionária de energia foi contactada pela reportagem, que afirmou que iria verificar a situação.

Por Ana Clara Julião

 

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