Santa Casa fecha pronto-socorro, enquanto força-tarefa de vacinação coloca MS no topo da proteção
Na segunda-feira (26), Campo Grande completa um mês desde que a Prefeitura decretou estado de emergência em saúde pública devido ao aumento expressivo dos casos de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave). Mesmo com a medida, o cenário continua preocupante. Nas últimas quatro semanas, foram registrados 441 novos casos da doença, dos quais 59 são positivos para Influenza A, vírus que tem pressionado o sistema de saúde e causado mortes na Capital.
De acordo com o boletim epidemiológico da SES (Secretaria de Estado de Saúde), só em 2025, Campo Grande acumula 1.560 casos de SRAG, número que já representa quase a metade dos 3.330 casos registrados em todo o ano de 2024. Desse total, 272 foram confirmados para Influenza A. O número de óbitos também é alarmante, foram contabilizadas 127 mortes, 45 delas atribuídas diretamente à Influenza A.
O cenário epidemiológico reflete a intensa circulação de vírus respiratórios na cidade, incluindo Influenza, VSR (Vírus Sincicial Respiratório), que atinge especialmente crianças, e também casos ativos de Covid-19. A situação preocupa não só pela quantidade de casos, mas pela gravidade deles, que tem levado a internações e mortes.
“Estamos observando uma desaceleração do vírus sincicial respiratório, que impactou muito nossas crianças, com casos graves e até óbitos. No entanto, no que diz respeito à Influenza A, especialmente em adultos e idosos, ainda estamos em uma curva de crescimento expressivo, que deve se manter nas próximas quatro semanas”, explicou a secretária municipal de Saúde, Rosana Leite de Melo.
Rede de saúde sob pressão
A declaração de emergência permitiu que o município ativasse seu plano de contingência, que inclui reforço nas unidades de saúde e ampliação de leitos. As UPAs Coronel Antonino e Universitária passaram a contar com pediatras 24 horas, além de equipes multidisciplinares, como fisioterapeutas e especialistas, para atender casos mais graves. O Pronto Atendimento Infantil também foi estruturado com suporte semelhante a uma UTI, equipado com ventiladores mecânicos.
No entanto, apesar dos esforços, os hospitais da cidade não conseguiram ampliar a oferta de leitos pediátricos. Segundo Rosana, o Hospital Regional prevê a expansão desse tipo de atendimento em até 20 dias, mas ainda enfrenta dificuldades na contratação de profissionais. Para adultos, a situação é um pouco diferente, a Prefeitura conseguiu abrir 12 novos leitos no Hospital São Julião, 30 no Hospital do Pênfigo e está finalizando a contratação de mais 20 leitos no Hospital do Câncer, totalizando 62 leitos a mais.
“Essa ampliação vai ajudar, especialmente agora que os casos estão crescendo entre os adultos. Mas o cenário exige atenção constante, principalmente porque muitos casos poderiam ser evitados com a vacinação”, reforça a secretária.
Entre as ações estruturantes a médio e longo prazo, estão a construção do Hospital Municipal de Campo Grande, prevista para os próximos três anos, e a ampliação do Hospital Regional. Até lá, a estratégia é continuar ampliando leitos na rede privada, firmando contratos emergenciais e, principalmente, aumentar a cobertura vacinal da população.
“O enfrentamento às síndromes respiratórias depende muito da prevenção. Vacinar, usar máscara quando estiver gripado, lavar as mãos, cuidar de si e do próximo. A saúde pública se faz com compromisso coletivo”, finaliza a secretária.
Pacientes nos corredores
A Santa Casa de Campo Grande confirmou na quinta-feira (22) o bloqueio do pronto-socorro adulto e infantil. Atualmente, cerca de 20 pacientes ocupam os leitos da área vermelha adulta, que dispõe de apenas seis vagas disponíveis. Na área vermelha pediátrica, há três leitos disponíveis, mas no momento seis pacientes estão internados, sendo cinco deles conectados a respiradores, necessitando de balas de oxigênio devido à insuficiência estrutural.
A unidade hospitalar esclareceu que os leitos da ala adulta e pediátrica são contratados pelo município, e que, desta forma, a instituição está operando acima da capacidade estabelecida no contrato. Mesmo diante desse cenário e devido às restrições físicas, tornou-se impossível manter condições mínimas para o atendimento adequado. Dessa forma, o bloqueio foi necessário, sendo permitidos apenas os casos de emergência, que serão avaliados pelo Núcleo Interno de Regulação, junto à Regulação Municipal e ao SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), para definir quais atendimentos ainda poderão ser realizados.
Mesmo assim, reforçou que as condições atuais não garantem um atendimento seguro e adequado.

Foto: divulgação
Liderança da vacinação
A mobilização conjunta entre estado e municípios já contabiliza aproximadamente 600 mil pessoas imunizadas, colocando Mato Grosso do Sul na liderança do ranking nacional de vacinação contra a Influenza com cobertura de 38,93%. De acordo com a RNDS (Rede Nacional de Dados em Saúde) do Ministério da Saúde, até o dia 21 de maio foram 596.575 doses aplicadas no Estado.
Campo Grande também se destaca entre as capitais e tem 40,11% de cobertura vacinal no público-alvo. De acordo com balanço divulgado pela Sesau já foram aplicadas 220.991 doses desde o início da campanha, sendo 89.898 válidas para a cobertura dos grupos prioritários — idosos, crianças e gestantes — que somam uma população estimada em 238.016 pessoas.
Os números mostram que a campanha de vacinação contra a gripe segue avançando, mas ainda longe da meta estabelecida. “Apesar de todas as ações, como vacinação em supermercados, shoppings, praças e escolas, a adesão ainda está muito baixa. A vacina é fundamental para proteger a população, principalmente contra a Influenza A, que é altamente prevenível”, alerta Rosana.
A superintendente de Vigilância em Saúde e Ambiental da Sesau, Veruska Lahdo, reforça o apelo. “Estamos em um período de intensa circulação de vírus respiratórios, e a vacinação é nossa principal estratégia de proteção. A vacina é segura, eficaz e salva vidas. Vacinar é um ato de amor e responsabilidade coletiva”, disse.
Além da vacinação, as autoridades reforçam a importância das medidas preventivas, como uso de máscaras em caso de sintomas gripais, higienização frequente das mãos e etiqueta respiratória. “Infelizmente, ainda não temos essa cultura consolidada na população, e isso dificulta o controle da disseminação dos vírus respiratórios”, lamenta Rosana.
Busca por soluções em São Paulo
Diante desse cenário desafiador, a prefeita Adriane Lopes esteve em São Paulo nesta quinta-feira (22) para buscar soluções inovadoras na área da saúde. Ela se reuniu com o secretário municipal de Saúde de São Paulo, Luiz Carlos Zamarco, para conhecer modelos de gestão, estratégias de ampliação de leitos, financiamento e uso de tecnologia na saúde pública.
“Estamos em busca de soluções que possam ser implementadas em Campo Grande, sempre pensando na melhoria do atendimento à nossa população. Conhecemos projetos como prontuário eletrônico, agendamento online de consultas e até um programa de saúde mental voltado para servidores. Nosso compromisso é buscar o que há de melhor para nossa cidade”, destacou Adriane.
São Paulo, que possui a maior rede pública de saúde da América Latina, é referência no uso de tecnologia e inovação no setor. A prefeita também manteve agenda com executivos do Banco Safra para discutir linhas de crédito e soluções financeiras que viabilizem novos investimentos para Campo Grande.
“Hoje a Prefeitura já investe 33% de seu orçamento na saúde, mais que o dobro do mínimo constitucional, que é de 15%. Mas os recursos são finitos. Por isso, estamos buscando alternativas, como São Paulo fez em 2019, ao contratar empréstimos internacionais que garantiram robustez ao sistema até hoje”, explicou Rosana Leite, destacando a importância da viagem.
Plantão de imunização
Neste sábado (24), a vacinação estará disponível na USF Tiradentes a partir das 7h30 às 16h45, no Shopping Norte Sul Plaza das 10h às 17h e no Parque das Nações Indígenas (entrada Guarany) das 11h às 17h. No domingo (25), a aplicação permanecerá na USF Tiradentes das 7h30 às 16h45 e no Norte Sul Plaza das 11h às 17h.
Por Inez Nazira
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