Segundo especialistas, Mato Grosso do Sul deverá se beneficiar dessas decisões
Nesta semana, o embaixador do Brasil na Espanha, Orlando Leite Ribeiro, comunicou ao Governo Federal que a decisão da União Europeia de aplicar uma tarifa de 25% sobre produtos americanos poderá incluir a soja dos Estados Unidos. Com essa medida, um dos países que poderá ser beneficiado com a compra do grão é o Brasil.
Em um documento enviado ao Ministério das Relações Exteriores, o embaixador menciona que quase 50% da soja importada pela Espanha é originária dos Estados Unidos. Atualmente, esse país europeu é o maior produtor de rações e carne suína da União Europeia, além de ocupar o segundo lugar na produção de carne de aves, ficando atrás apenas da Polônia. Em busca de um novo aliado comercial, o Brasil surge como forte candidato a novo parceiro econômico da Europa.
Segundo dados do Ministério da Agricultura, em 2024, o Brasil foi responsável por aproximadamente 55% das exportações mundiais de soja. O volume atingiu 101,86 milhões de toneladas, representando um aumento de 29,6% em relação a 2023. No ano passado, a soja se destacou como o principal produto das exportações brasileiras, totalizando US$ 52,3 bilhões, com um crescimento de 14,7% em comparação ao ano anterior. Os grãos corresponderam a cerca de 16% do total exportado pelo país em 2023. Dentre os países europeus, aquele que tende a se tornar mais suscetível à compra de soja brasileira é a Espanha.
Para o analista econômico da Aprosoja/MS, Mateus Meaurio Fernandes, a decisão de buscar a soja brasileira se deve a diversos fatores, que vão desde conflitos políticos entre países até questões relacionadas aos preços tarifários, o que abre uma brecha para o mercado brasileiro. “Existem diversos fatores de curto prazo e estruturais que fazem com que a Europa busque a soja brasileira. Com a guerra na Ucrânia e a redução da produção de grãos em vários países com os quais a Espanha mantinha relações comerciais mais estreitas, somadas à taxação americana, a Espanha e outros países europeus começam a procurar novas opções de mercado.”
Com a crescente demanda global por soja e as novas dinâmicas comerciais, Mateus destaca que o Brasil se mantém como referência no mercado internacional, especialmente em relação à Europa. “A soja brasileira é extremamente competitiva no mercado internacional, não só para a Europa. Devido à proximidade com outros países e aos custos de transação mais baixos, os países europeus preferem comercializar com nações do bloco sul-americano. Com a taxação americana, o mercado brasileiro passa a ser o foco principal dos importadores de soja, já que, com uma menor taxação, o impacto é reduzido. Com a expectativa de uma produção superior à da safra passada, a tendência é que os países europeus procurem o Brasil.”
Mato Grosso do Sul
Em relação a Mato Grosso do Sul, o analista da Aprosoja reforça que há grande possibilidade de o estado ser contemplado com compras de soja oriundas de países europeus. “A soja produzida em Mato Grosso do Sul preenche todos os requisitos exigidos pelos mercados internacionais. Apesar dos problemas climáticos enfrentados, a soja sul-mato-grossense apresenta certa estabilidade na produção, destacando-se como um dos maiores produtores da oleaginosa no Brasil. Produzimos com qualidade compatível com os padrões exigidos, especialmente para a produção de ração e biodiesel.”
Ele ressalta que, diante da imposição de tarifas, o estado se torna suscetível à oportunidade de expandir seus mercados e estreitar laços com novas nações. “Sempre que algum país impõe uma tarifa a produtos de outros países, o produto encarece, fazendo com que sua demanda diminua. A tendência natural é que os países busquem novos mercados para comercialização. Nesse cenário, a primeira opção é procurar parceiros confiáveis. Mato Grosso do Sul ainda tem uma certa dependência do mercado chinês, e o interesse de outros países pela soja do estado pode ajudar a estreitar laços com novos parceiros.”
Mateus finaliza destacando que o fato de o Brasil estar sujeito a uma menor taxação também contribui para torná-lo mais atrativo aos países mais afetados pelas tarifas, já que o produto brasileiro não perdeu tanto espaço em relação ao americano.
João Buchara
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