Mato Grosso do Sul deve liderar o crescimento do PIB agropecuário em 2025 e consolida a gestão profissionalizada como diferencial competitivo
Quando se fala em força do agro, Mato Grosso do Sul tem conquistado um protagonismo cada vez maior no cenário nacional. O Estado desponta como líder em eficiência produtiva, sustentabilidade e inovação, reforçando a importância da gestão profissional para dar solidez e competitividade a um setor que responde por quase um terço do PIB estadual.
Dados recentes apontam que, em 2025, o Brasil deve ter um crescimento de 2,3% no PIB agropecuário. A expectativa, porém, é que Mato Grosso do Sul supere essa média, puxado por recordes de produção de soja, milho, etanol e celulose. Esse salto não se explica apenas pelas condições naturais ou pelos investimentos em tecnologia: a administração profissionalizada é o verdadeiro diferencial competitivo.
Gestão como virada de chave

Alex Sandro Richter Won Muhlen, vice-presidente do CRA-MS – Foto: divulgação
Para o vice-presidente do Conselho Regional de Administração de Mato Grosso do Sul (CRA-MS), Adm. Alex Sandro Richter Won Muhlen, o setor vive uma transformação profunda. “A gestão profissionalizada tem feito uma diferença enorme aqui no agronegócio sul-mato-grossense. Hoje a gente observa que tanto os produtores rurais como as cooperativas trabalham com um planejamento sólido, muitos já contam com conselhos de gestão e acesso mais diversificado a crédito. Isso traz eficiência financeira e capacidade de investir em tecnologia”, destaca.
Ele explica que a competitividade não se limita à porteira para dentro. “A logística virou estratégia de gestão. Melhorias na BR-163 e a futura rota bioceânica reduzem custos e aumentam a competitividade internacional. Isso mostra que administração e infraestrutura caminham juntas para consolidar o agro sul-mato-grossense como referência.”
A sustentabilidade, segundo Richter, deixou de ser apenas um discurso: “Programas como o MS Carbono Neutro e a certificação 100% das usinas de bioenergia no RenovaBio mostram que hoje a competitividade passa por métricas de emissões e crédito verde. Não é só plantar bem: é medir carbono, uso de água e energia. Isso gera credibilidade e abre mercado.”
Práticas estratégicas
Richter lista quatro pilares fundamentais da administração no campo: planejamento, governança, inovação e sustentabilidade. “Planejamento e gestão de risco são decisivos. O produtor não pode depender apenas do preço da saca; ele precisa se proteger de câmbio e clima, usando ferramentas como barter e CPR. A governança traz transparência e atrai crédito mais barato. A inovação, com integração lavoura-pecuária-floresta, aumenta a rentabilidade e reduz impacto ambiental. E a sustentabilidade hoje é mensurada e traz resultados concretos.”
Ele ressalta os gargalos do setor: “Apesar dos avanços, ainda temos desafios importantes. O custo logístico pesa, a gestão de dados precisa evoluir dentro da fazenda, e a sucessão familiar carece de protocolos claros. Como dizia Peter Drucker, ‘o que não pode ser medido não pode ser gerenciado’. O produtor precisa medir custo por talhão, produtividade por hectare e margem por atividade.”
Sobre a sucessão familiar, o administrador é enfático: “A sucessão só dá certo quando está conectada à gestão profissional. Não é apenas passar a fazenda para os filhos: é planejar a sociedade, ter acordo de sócios, conselhos consultivos, papéis bem definidos. Quando a família traz profissionalização para a governança, garante continuidade, reduz conflitos e facilita acesso a crédito.”

Agronegócio se fortalece com gestão profissionalizada, inovação e sustentabilidade – Foto: divulgação
Alex resume quatro práticas estratégicas que hoje sustentam a competitividade do setor:
– Planejamento e gestão de risco: ferramentas de proteção contra câmbio, clima e preços.
– Governança: transparência que atrai crédito mais barato.
– Inovação: integração lavoura-pecuária-floresta, que melhora rentabilidade e reduz impactos ambientais.
– Sustentabilidade: indicadores de carbono, uso eficiente de água e energia.
A voz do campo
Se no discurso institucional a gestão aparece como estratégia, na prática ela transforma vidas. Jerry Cambuhy, administrador e produtor rural em Maracaju, é exemplo disso. À frente de uma holding familiar com quatro fazendas, ele aposta em tecnologia, irrigação e organização para aumentar produtividade.

Foto: Imagem ilustrativa/gerada por IA
Jerry lembra que conciliar estudos e vida no campo foi seu primeiro grande desafio. “Foi difícil fazer faculdade morando a 36 km da cidade, em estrada de chão, muitas vezes debaixo de chuva, e ainda cuidar dos filhos pequenos. Mas consegui acompanhar as aulas, fazia resumos para estudar quando sobrava tempo e aplicava no dia a dia. Essa superação moldou minha trajetória.”
A virada administrativa veio com organização interna. “Houve um antes e depois quando começamos a trabalhar com planejamento detalhado. Passamos a controlar funções, encaminhar tarefas por equipes treinadas e medir resultados. Isso aumentou a eficiência e melhorou a produção.”
Para Jerry, gestão é rotina e aprendizado contínuo: “No campo, as tarefas se repetem ano a ano. O segredo é corrigir erros, baixar custos, acompanhar tecnologia e treinar a equipe. Essa é a receita para resultados positivos com qualidade e segurança.”
A profissionalização trouxe ainda apoio especializado. “Hoje existem softwares para aplicação de defensivos, coleta de produtividade, controle fiscal e contábil. Mas a peça fundamental é a equipe abastecer os dados. É isso que transforma informação em decisão estratégica. Nós contamos, sim, com empresas especializadas para auxiliar.”
E sobre o futuro do agro, ele reforça: “O nosso estado tem enorme potencial. O clima permite até três culturas no ano, a celulose está entrando forte, temos rios para irrigação e o governo investe em estradas para escoamento. Maracaju está se precavendo contra variações climáticas com correção de solo e variedades mais resistentes. Só falta incentivo financeiro para acelerar esse processo.
Conectando gestão, inovação e sustentabilidade
Apesar do potencial, a falta de profissionais qualificados no agronegócio preocupa a especialista Admª. Vanessa Chiamulera, consultora e pesquisadora da Nuffield Internacional. “E o que essa governança corporativa traz? Gestão de compras, gestão de insumos, estoques, inúmeras coisas. Precisamos traduzir o G do ESG, participar do dia a dia do produtor, criar confiança, para que ele entenda e nós possamos ajudar. É preciso educar esses líderes que criaram o campo”, afirma.
Os principais gargalos e desafios são:
– Logística, cujo custo ainda pesa no resultado final.
– Gestão de dados, já que muitos produtores não têm cultura de indicadores de custos e produtividade.
– Sucessão familiar, sem protocolos claros de transição em muitas propriedades.
– Diversificação de mercados e certificações, para reduzir a dependência do mercado spot.
No mesmo sentido, a CEO do Instituto Seiva Brasil, Admª. Gracita Hortência Barbosa, defende que a governança do agro é para profissionais de Administração. Especialista em ESG e atuante em agendas da ONU, ela ressalta a importância de leis que garantem segurança jurídica para transformar ecossistemas em ativos econômicos e mudanças na matriz energética para neutralizar emissões.
“Políticas públicas do MS integram produtividade e preservação. A meta estadual é neutralidade de carbono até 2030. Além disso, o empreendedorismo através de ativos ambientais gerados por quem conserva – os chamados créditos ecossistêmicos – transforma água, solo e clima em ativos de valor econômico”, explica Gracita.
“O crédito de carbono é apenas um dos itens dos créditos ambientais. Ele mostra como gestão, inovação e sustentabilidade podem andar juntas no agro sul-mato-grossense”, completa.
Mato Grosso do Sul como vitrine

Foto: Imagem ilustrativa/gerada por IA
Na avaliação de Richter, a experiência sul-mato-grossense serve de modelo para o Brasil. “Outras regiões podem aprender com três cases do MS: políticas públicas de sustentabilidade, como o Carbono Neutro 2030; a integração logística da BR-163 e da rota bioceânica; e o cooperativismo, que aqui vai além da comercialização, funcionando também como plataforma de crédito e assistência. Isso fortalece o produtor na ponta.”
Ele ainda ressalta a importância da bioenergia. “Todas as usinas de etanol do Estado são certificadas pelo RenovaBio. Isso mostra que sustentabilidade pode virar receita e vantagem competitiva. Esse é o tipo de experiência que coloca o agro de Mato Grosso do Sul em outro patamar.”
Administração: pilar do agro e da economia
Em 2025, o Brasil celebra o Jubileu de Diamante da Administração, 60 anos da regulamentação da profissão. O agronegócio sul-mato-grossense reflete esse papel: do planejamento financeiro ao uso de indicadores de sustentabilidade, da governança familiar à integração logística.

Foto: divulgação
Para o Sistema CFA/CRAs, a data é mais do que uma celebração: é a reafirmação de que a Administração é agente transformador e indispensável para o progresso do Brasil.
Outras regiões do país podem aprender com três grandes cases de MS:
– Política pública de sustentabilidade: MS Carbono Neutro 2030.
– Integração logística: BR-163 e rota bioceânica, que conectará o estado ao Pacífico.
– Cooperativismo: que em MS vai além da comercialização e inclui crédito, assistência e governança.
Além disso, todas as usinas de bioenergia do estado são certificadas pelo RenovaBio, mostrando que sustentabilidade pode se converter em receita e competitividade internacional.
Competitivo, humano, inovador e sustentável, o campo do futuro será resultado de planejamento estratégico, governança eficaz, inovação tecnológica e respeito à natureza – pilares que já colocam Mato Grosso do Sul como referência nacional.
Por Suelen Morales
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