** Pedro Chaves
Sou muito agradecido a Deus e aos meus pais por andar de cabeça erguida por um caminho alicerçado na cultura de paz e respeito à pluralidade desde a minha infância.
Nasci numa família pobre e migrante, que veio para o Brasil com o objetivo de participar da construção deste país. Sei muito bem como é prejudicial qualquer forma de discriminação. Absolutamente nada justifica alguém ser criticado pela cor da sua pele ou por suas ideias. Nas minhas instituições educativas, nunca aceitei nenhum tipo de preconceito.
Conheço a história do racismo no Brasil e no mundo. Ele é marcado por muita dor e sofrimento. Homens e mulheres eram arrancados dos seus países para serem vendidos como escravos nos mercados escravistas do Ocidente. O Brasil adotou formalmente a mão de obra escrava por quase 400 anos. O negro era apenas uma mercadoria. A sociedade brasileira e outras têm imensas dividas com eles.
As consequências da escravidão estão fortemente presentes nos dias de hoje. Estudos indicam claramente que as populações negras continuam enfrentando dificuldades enormes nas mais diversas esferas da atividade humana. A fome, as doenças, a precária educação formal e a falta de perspectivas rondam a vida desses irmãos.
O processo de emancipação dos escravos não foi acompanhado de um programa que oferecesse oportunidades para eles se integrarem socialmente e economicamente aos avanços da sociedade de cada tempo histórico. Apenas houve a substituição do trabalho escravo pelo trabalho livre. Foi um avanço, claro, mais deixou lacunas que continuam atrapalhando a vida das novas gerações.
Esse não é um drama apenas do Brasil. Outras nações, infelizmente, continuam discriminando os negros. É um problema estrutural que se retroalimenta na ausência de um Estado capaz de proteger concretamente a vida dessas comunidades.
Um exemplo do que estamos falando são os Estados Unidos da América, o país mais rico e desenvolvido do planeta. A nação tem um histórico de democracia e respeito aos direitos dos seus cidadãos, entretanto, não conseguiu resolver a situação dos seus negros. Eles continuam sendo humilhados e discriminados. O chamado racismo estrutural continua forte e causando novas vítimas todos os dias.
O caso do negro americano, George Floyd, é muito sintomático. Policiais brancos o torturaram até a morte, como se vidas negras não tivessem a menor importância. Uma parte da população se revoltou contra as ofensas aos negros. As manifestações ganharam força com a onda de desemprego e a crise sanitária provocada pela covid-19, que grassa naquele país. O resultado é algo imprevisível. O povo continua nas ruas das principais cidades norte-americanas, lutando por uma causa justa, como reconheceu Barack Obama.
No Brasil, também há uma cultura de violência contra as comunidades negras. A morte do garoto negro, João Pedro, 14 anos, no Rio de Janeiro, é parte dessa escalada de violência que atinge a todos, mas, em especial, os negros e os mais vulneráveis economicamente.
Em tempo de pandemia, as coisas ficam ainda mais complicadas para as comunidades afrodescendentes. O vírus atinge brancos e negros, ricos e pobres, mas a estrutura sanitária e médica do Brasil e do mundo não está disponível em grau de igualdade para todos. Lamentavelmente, o número de vítimas dos estratos sociais mais vulneráveis é imensamente superior ao dos demais.
Desejo e trabalho para que o mundo pós-covid-19 crie condições para que homens e mulheres possam viver na pluralidade, na solidariedade e na comunhão.
*Economista, educador, empresário e Secretário de Governo do Estado de Mato Grosso do Sul.