Por que falam tanto dessa Rota Bioceânica?

Lisandra Lamoso - Foto: divulgação
Lisandra Lamoso - Foto: divulgação

Quem acompanha notícia em rádio, televisão, jornal ou nas redes sociais já se deparou com o assunto da Rota Bioceânica. Se ainda não, são várias as rotas, mas a que nos interessa é uma ligação formada por rodovias e pontes que corta o Brasil no sentido Leste – Oeste, de Porto no Oceano Atlântico (Santos-SP) até Porto no Oceano Pacífico (Iquique-Chile), passando pelo Estado de Mato Grosso do Sul. Entre as obras, está a ponte sobre o Rio Paraguai, na altura do município de Porto Murtinho, ligando com Carmelo Peralta (PY). Para a cadeia produtiva de grãos, o entusiasmo é justificado, pois estima-se uma redução em torno de milhares de quilômetros para chegar na China, principal mercado consumidor, com importante redução nas despesas com transportes.

Para que o barateamento do frete aconteça, a integração tem que ser completa: desde normas sanitárias, tributárias, legislação de trânsito, exigências quanto às condições dos veículos, peso, volume, tipo de carga, seguro e tantas outras que consomem tempo e paciência dos usuários que utilizam os serviços de transporte. Não é um desafio pequeno e é bom que as autoridades, principalmente a classe política, estejam motivados para isso. É uma infraestrutura importante? Sem dúvida! Há tantos anos sem grandes obras de integração regional, todo mundo precisando ganhar dinheiro, não há muitos motivos para ser do contra e nem é o meu caso.

Depois de vários anos estudando China, geoeconomia e participação do Brasil nas cadeias globais de valor, principalmente, o Mato Grosso do Sul, algumas questões chamam minha atenção. A primeira é sobre chineses e suas demandas. A China tem o maior parque de processamento de soja do mundo, está com oitocentos milhões de chineses na classe média, nenhum chinês abaixo da linha da pobreza, (segundo dados do próprio Banco Mundial). Vida melhorando, cresce a demanda por grãos e por proteína animal, mercadorias que Mato Grosso do Sul tem competitividade para exportar. Demanda gera investimento que, em tese, gera empregos, que refletem na arrecadação de impostos e todo mundo fica feliz.

Mas uma questão importante também precisa entrar na pauta: além das exportações, como aproveitar a Rota para desenvolvimento econômico e territorial? Como geógrafa, tenho algumas pistas. Os investimentos devem proporcionar maior fluidez na circulação do nosso mercado nacional, pois além de China, temos nosso mercado interno; precisamos de incentivos para integrar demanda e consumo das micro, pequenas e médias empresas, que igualmente merecem que suas redes de transporte usufruam as vantagens com menor burocracia, com bons serviços aos clientes, motoristas e operadores logísticos. A Rota não é só do Mato Grosso do Sul para China, também é do Mato Grosso do Sul para São Paulo, onde está o Porto de Santos, via de entrada e saída de toneladas e milhões de dólares em mercadoria de Mato Grosso do Sul. Um desenvolvimento territorial também precisa de tarifas de pedágios condizentes com o serviço oferecido; duplicação do trecho Bataguassu-Nova Alvorada (BR 267); conclusão da duplicação da BR 163 pela Motiva (ex-CCR), coisinhas básicas que fariam um bem danado para tornar a Rota Bioceânica um investimento importante para os sul-mato-grossenses.

Lisandra Lamoso é Professora nos cursos de Geografia e Relações Internacionais da UFGD e Bolsista do CNPq. E-mail: [email protected]

Este artigo é resultado da parceria entre o Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul e o FEFICH – Fórum Estadual de Filosofia e Ciências Humanas de MS.

 

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