Por Ana Carolina de Deus
Há quase um mês que você não vem. Nos primeiros dias, sendo sincera, não senti sua falta. Era bom ficar sem cortar a grama com frequência. Era bom não me preocupar com a capa de chuva. A ausência não foi árdua na primeira semana: esquecia-me de regar o pé de jabuticaba, algo que você não se esquecia nunca, retirava a roupa do varal quando estava de saída, as nuvens vislumbrantes refletindo na janela, você veio mesmo do céu para mim.
Passando os dias, Querida, o pé de jabuticaba se enxugou, pois ninguém havia regado. O relato de sua partida chegou aos bocados: disfunções nas vias respiratórias, lamúrias pela falta que você fazia, esperança de sua volta. Todo o quintal tornou-se um corredor deserto, até os pingos de ouro murcharam. Para não dar parte de fraca, oh, minha Querida, enchi minha garrafa térmica com gelo e fui para a cachoeira do Ceuzinho com os amigos. Até lá eu senti sua falta, me lembrei de quando você tornava aquele lugar mais belo.
Eu até sinto falta de quando você me pegava desprevenida e eu ficava raivosa; fico torcendo para isso acontecer de novo. Seria cômico se não fosse trágico. Sinto falta de quando você beijava meu rosto e eu fugia. Porventura seja saudade, Querida. Ouvi um barulho no telhado de zinco do vizinho, será que era você? Não… eram só pombos. A samambaia não foi regada por dois dias seguidos. Até o cacto que comprei precisou de água.
Aqui já não é tudo como antes, sem você é tudo acinzentado, o sol mudou de cor, por consequência das ações humanas, isso dói. Eu sinto muito, sinto muito não termos dado o valor que você merecia. Não podemos sobreviver sem você. Nenhum de nós sabe como dar vida como você. Volte para casa, por favor, Querida Chuva!
* Escritora, estudante de Letras e da equipe de revisão do Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul