Formação Acadêmica: Música, Sociedade e Conhecimento Científico

Eliéverson Guerchi Gonzales (esquerda) é Doutor em Educação para a Ciência, Professor e Pesquisador na Uniderp.  Leandro Guimarães Bais Martins (direita) é Doutor em Ciências com ênfase em Hidráulica e Saneamento e Professor da Uniderp.
Eliéverson Guerchi Gonzales (esquerda) é Doutor em Educação para a Ciência, Professor e Pesquisador na Uniderp. Leandro Guimarães Bais Martins (direita) é Doutor em Ciências com ênfase em Hidráulica e Saneamento e Professor da Uniderp.

O papel contemporâneo da Universidade deveria estar além da simples transmissão de conteúdos técnicos e disciplinares. No mundo atual, movido por crescentes mecanismos de informação, é fundamental a formação de profissionais que integre as fundamentações científicas, a sensibilidade das artes e a consciência crítica. A educação não pode se satisfazer com o mínimo, pelo contrário, o seu papel deveria estimular o intelecto, o espírito criativo e o senso de pertencimento social.

Dessa maneira, o ambiente universitário poderia contribuir para a sociedade com a formação acadêmica a partir do repertório sociocultural. A música, ao longo dos anos, tem buscado espaços para sinalizar as conquistas, as angústias e os desafios da sociedade. No campo da educação, conforme ouvimos em “Another Brick in the Wall”, de Pink Floyd, um modelo de ensino que não incentive o pensamento crítico, a curiosidade e a capacidade de aprender a aprender, tende a formar continuamente pessoas que estarão preocupadas em apenas cumprir as suas metas produtivas, enriquecer o seu Currículo Lattes, adquirir o diploma sem compromisso com a aprendizagem e focar somente na conquista capital econômico.

No cenário nacional, também encontramos música popular brasileira, que possui um importante papel nesse contexto. Ao longo das décadas, compositores brasileiros incorporaram em suas letras os grandes debates científicos e tecnológicos que emergiram na sociedade, traduzindo conceitos complexos em linguagem poética, acessível e, muitas vezes, crítica. Nesse sentido, as canções tornaram-se uma espécie de senso coletivo cantado, refletindo tanto os encantamentos quanto os receios provocados pelos avanços das Ciências.

As canções “Admirável Chip Novo”, de Pitty, e “Admirável Gado Novo”, de Zé Ramalho, criticam o comportamento das massas e a passividade da sociedade, em relação ao que é posto. Um exemplo são as enxurradas de informações que são difundidas, dificultando ao receptor, o entendimento do que é relevante. Sob essa óptica, esses desdobramentos aparecem no canto de Gilberto Gil “queremos notícias mais sérias, sobre a descoberta da antimatéria e suas implicações”.

Músicas como “Cérebro Eletrônico” e “Queremos Saber” revelam, de modos distintos, a ambivalência social diante do avanço científico e tecnológico. Essas canções expressam tanto o fascínio e o receio frente às máquinas pensantes quanto a desconfiança em relação ao uso do conhecimento para fins de dominação ou destruição.

Um outro olhar pode ser direcionado às expansões das telecomunicações e da informatização. Esse olhar crítico se estende à experiência da conectividade global, registrada em canções como “Pela Internet” e “Parabolicamará”, que captam o impacto inicial da internet ao mesclar otimismo, curiosidade e ironia, evidenciando uma ciência cada vez mais presente nas relações humanas, no trabalho e na cultura.

A revolução digital e a inundação de informações nos colocam novas urgências. A Universidade já não é um mosteiro do conhecimento. Dessa maneira, pensamos que a formação a nível superior deve ser um espaço para se discutir as bases científicas e tecnológicas, mas não pode esquecer seus propósitos éticos e humanistas, mantendo assim, a vanguarda na proposição de pautas que interessem à formação acadêmica nas esferas do conhecimento científico e social.

A repetição e a obediência cega funcionam como alertas simbólicos para esse empobrecimento formativo. Esse pulso que resiste é o mesmo que deve animar as nossas Universidades a tornarem-se Instituições pulsantes, que vivenciam, confrontam e propõem soluções aos problemas dos nossos tempos, sem se distanciarem da ontologia humana.

* Este artigo é resultado da parceria entre o Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul e o FEFICH – Fórum Estadual de Filosofia e Ciências Humanas de MS.

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