Funcionário público aposentado coleciona centenas de esculturas que criou durante viagens pelo Brasil
Funcionário público por escolha, artista por natureza. Paulo Celestino do Vale, 69 anos, coleciona várias esculturas que produziu ao longo da vida. Com um instinto artístico, quando menino, já entalhava peças em madeira, e com um empurrãozinho de um professor, fez da arte protagonista de sua vida.
Embora não tenha conseguido viver de arte, grande parte do seu tempo sempre foi destinado a criação de peças, e agora que está aposentado, tem mais tempo para se dedicar às esculturas. Paulo retrata apenas figuras humanas, destaca a expressão, a angústia, a felicidade e a história de cada pessoa.
“Me inspiro no meu cotidiano, nas figuras humanas que encontro por aí. Eu saio na rua e de repente uma cena me chama atenção, aquilo vai e volta na minha cabeça e então eu coloco pra fora em forma de escultura”, conta o artista.
Suas técnicas favoritas utilizam a argila ou a cerâmica, materiais que compõem grande parte do seu acervo, entretanto ao longo dos anos foi experimentando outros materiais como o biscuit, papel machê e até cimento.
“Minha vida mudou muito, então por uma questão de comodidade não utilizo mais a argila e cerâmica, pois precisam de um forno apropriado para fazer a queima, mas crio com inúmeros outros materiais. Utilizo também massa corrida de parede, misturo com outras coisas e consigo modelar com facilidade”, aponta.
O funcionário público ingressou em uma faculdade de artes em São Paulo, no ano de 1980. Por estudar durante o dia e trabalhar de madrugada, não consegui manter a rotina por muito tempo e teve que interromper o curso. Então decidiu que a arte seria seu hobbie para a vida, em mente de que sempre seria sua vocação.
Natural de Bela Vista, fronteira com Paraguai, Paulo tinha o incentivo da família com suas esculturas, mas sempre o estimulando a seguir uma carreira que consideravam mais segura. “Eu decidi que a arte seria meu escape, minha ferramenta sublime. Não me arrependo”, comenta Paulo.
Durante toda sua vida, o escultor morou em diversos cantos do Brasil, de norte a sul, onde pôde retratar em suas obras a cultura plural do país. “Viajar me ajudou como artista e me ajudou a formar uma opinião sobre o que devo fazer e minhas possibilidades. Pude conhecer e retratar nosso povo: o índígena, o branco, o negro, o oriental, o nordestino, o gaúcho, uma infinidade de pessoas”, conta.
Suas obras são fruto de experiências cotidianas, das viagens e de seu dia-a-dia na Capital. “Uma vez vi um homem cadeirante na rua, ele me lembrou de um amigo meu, o ator Jorge Barros, que também é deficiente. Acabei me inspirando e criei uma mistura dessas duas pessoas, uma que conheço e outra que só vi passar”, destaca.
O artista destaca também que no seu trabalho, a cultura regional e acha importante homenagear personalidades locais. “Já esculpi um ervateiro, a dama da praça Ary Coelho, o fotojornalista Roberto Higa, o carreiro de carro de boi e tantas outras pessoas daqui que me marcaram”, aponta.
Paulo já trabalhou no Centro Cultural José Octávio Guizzo, onde teve contato com a comunidade artística local e pôde expor suas obras em vários cantos da cidade. Fala que suas obras viajaram o mundo, já vendeu esculturas que hoje estão no Japão, na Itália e outros tantos países que nem lembra mais.
Fico feliz que minha arte esteja por aí, ela representa na minha vida a minha missão. Eu faço para atender a mim mesmo, fico muito feliz pois tem muita gente que gosta e aprecia meu estilo. Tento mostrar sempre o movimento e a expressão, para que as pessoas possam olhar e sentir o sentimento”, conta Paulo.
Paulo não se arrepende de não ter seguido carreira nas artes, para ele, isso o deu independência e mais controle em todo o processo criativo, desde o tema até o tempo de produção. Comenta que isso faz com que o processo artístico seja tão natural que nem sabe de onde vem. “As peças já existem em algum lugar e elas costumam nascer através de mim, é uma coisa mágica”, finaliza.
Serviço
Para conhecer o trabalho de Paulo Celestino do Vale entre em contato pelo número (67) 9 8156-130
(Ellen Prudente)