“Um divertido passeio pelo mundo da dislexia”

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Peça teatral chega a escolas públicas da Capital, e traz o tema da dislexia de forma sensível para crianças e responsáveis

Preguiçoso, desatento, desinteressado e indisciplinado. Esses são alguns rótulos pejorativos distribuídos pela sociedade atual para crianças e adolescentes com dislexia. Com objetivo de desmistificar o transtorno e inserir a comunidade escolar e parental, o Grupo teatral Teatrinhos apresentará a peça ‘Um divertido passeio pelo mundo da dislexia’ em cinco escolas públicas de Campo Grande, entre os dias 17 e 21 de junho.

Com entretenimento, educação e informação sobre a dislexia, a peça musical propõe uma delicada reflexão sobre o quão desafiador é deparar-se com crianças portadoras de dislexia, sem o devido conhecimento. De forma leve e lúdica, ela traz informações sobre o transtorno neurobiológico, destacando a importância da participação familiar na vida escolar das crianças.

Um dos objetivos é desmitificar a dislexia, condição que é muitas vezes incompreendida, que pode causar impactos na vida de quem é diagnosticado com a síndrome, desde a educação até as relações pessoais.

A inspiração para a peça veio da própria vivência do diretor e ator Ricardo Mondenezzi. Educador de língua portuguesa há mais de 20 anos, ele se deparou com um aluno com dislexia, transtorno que até então ele não conhecia. Sem saber como criar um plano de aprendizagem adequado, a escola apenas o orientou que não se preocupasse em transmitir saberes para a criança.

“Eu fiquei perplexo, porque independente se é escola particular ou pública, os pais depositam a confiança na instituição para que a escola possa ser um facilitador e condicionar oportunidades para que a criança possa desenvolver sua capacidade cognitiva de alfabetização, de compreensão de texto, além de outros quesitos pertinentes dentro do âmbito educacional. Uma vez que eu desconhecia sobre o assunto, eu procurei pesquisar e eu descobri a Associação Brasileira de Dislexia em São Paulo, onde eu fiz um curso de especialização e compreendi o quão difícil é para uma criança que tem esse transtorno neurobiológico”, relembrou Mondenezzi em entrevista ao jornal O Estado.

Foto: Divulgação

Por meio de um filme que retratava a educação para uma criança disléxica, o educador também compreendeu ainda mais a importância dos responsáveis na participação da vida escolar de crianças e adolescentes. “Para podermos ter um êxito pleno da educação, da evolução dos saberes, é necessário ter esse empenho de participação dos pais, da escola, e quando, uma vez que se determina que a criança passa por um processo de anamnese junto a uma equipe multidisciplinar, com fonoaudiólogo, neurologista, psicopedagogo, e obtém-se realmente o laudo de que ele possa ser disléxico ou que tenha TDAH (Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade) ou qualquer outra comorbidade dentro do âmbito de transtorno de aprendizagem, é importante também ter esse apoio contínuo, constante”, explicou.

Assim nasceu a peça, que busca de forma leve e lúdica abordar a questão da dislexia, destacando aspectos como a importância da família, bullying, empatia e respeito.

Desafios

Para Mondenezzi, um dos desafios na confecção da peça, é a simplificação de termos técnicos, que precisam ser apresentados de forma compreensível para crianças e até mesmo para professores.

“Se nós trabalharmos uma linguagem lúdica de fácil compreensão, a criança, independente se ela tem ou não dislexia, ou qualquer outra comorbidade, ela vai entender que aquele amiguinho que está com dificuldade de poder acompanhar o aprendizado, ele não é ‘burro’, ela tem a mesma capacidade cognitiva, porém ela tem outra forma de entendimento que precisa passar por uma adaptação”.

Ainda segundo o diretor, cada personagem foi desenvolvido para que o público se identificasse. “Do pai que se demonstra ausente, acreditando que educar um filho basta levar o dinheiro para casa e delega educação a mãe. A professora que, às vezes, precisa também aprimorar o seu olhar diante daquela criança que tem a dificuldade. Todos os personagens terão o propósito de resgatar a autoestima e colocar em forma lúdica que aquela dificuldade que ele tem em entender as palavras, se ele trabalhar sua perseverança, dedicação, ele vai poder vencer aqueles desafios”.

Foto: Divulgação

O espetáculo

A obra traz um mundo de diversão e aprendizado, onde é contada a história de Pedrinho, um menino tímido e introspectivo, que tem o sonho de se tornar um grande dançarino, porém, sofre de dislexia e sofre rejeição e incompreensão das pessoas com as quais convive, devido a sua dificuldade com a leitura e a escrita. No decorrer da obra teatral, o personagem faz amizade com Bentinho Valente e Guto Simpatia, dois bonecos encantadores e responsáveis por levarem Pedrinho a salvar o Mundo da Dislexia, onde habitam a Malvada Glenda, um personagem que representa o lado sombrio da questão, o Arlequim, um personagem alegre e brincalhão, e o Mágico Kandak. Na sua trajetória divertida, esses personagens “do bem” se afeiçoam à Pedrinho, e vivem juntos uma trama de diversão, aventura e muitas emoções, enquanto informa, conscientiza e discute delicadamente a questão.

“Na peça nós pontuamos que o cérebro não é um órgão imutável, ele é plástico, ele se molda diante das situações, então o Pedrinho, embora ele tenha essa dificuldade em decodificar as letras, ele tem talento pela música, pela dança, e é isso que faz com que ele busca, através da música, da dança, em superar as suas dificuldades”, reforçou o diretor.

“Eu acredito que a música é a linguagem do amor, e quando associada a um texto lúdico, a melodia toca o coração. E quando essa melodia vem acompanhada de uma letra elaborada em que as crianças, os pais se identificam, o processo de compreensão aumenta, e de uma forma muito harmoniosa, a gente quer provocar emoção e reflexão. Hoje, aqui no Brasil, o índice de disléxicos gira em torno de 5 a 10% da população, então é um número muito preocupante, então precisamos utilizar as artes cênicas para trazer informação”, finalizou Mondenezzi,

Confira a programação:

Segunda-feira (17): E.M. Gonçalina Faustina de Oliveira (R. Delamare, 42 – Conjunto Residencial – Jardim Taruma)

Manhã: 9h15
Tarde: 15h15

Terça-feira (18): E.M. Irmã Edith Coelho Neto (Paranapebas, 179 – Jardim Columbia)

Manhã: 9h10
Tarde: 15h10

Quarta-feira (19): E.M. Senador Rachid Saldanha Derzi (R. Dois Irmãos, 291 – Jardim Noroeste)

Manhã: 9h10
Tarde: 15h10

Quinta-feira (20): E.M. Desembargador Carlos Garcia Queiroz (R. Itaporanga, s/n – Jardim Ze Pereira)

Manhã: 9h10
Tarde: 15h10

Sexta-feira (21): E.M. Domingos Gonçalves Gomes (R. Barão de Limeira, 599 – Jardim Colonial)

Manhã: 9h10
Tarde: 15h10

 

Por Carolina Rampi

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