Paulo Simões, Guilherme Rondon e Geraldo Espíndola falam sobre o ofício de compor
Compor é contar histórias, seja por meio da letra ou de belas melodias. Mato Grosso do Sul é nicho de grandes compositores, cantores e músicos talentosos, ao longo das gerações sempre bem representadas por ótimos artistas. Dando continuidade ao especial “Semana do Compositor”, o caderno Artes&Lazer foi buscar relatos de três dos maiores expoentes da nossa música regional. Gente que faz da poesia e da melodia o seu ofício: Paulo Simões, Guilherme Rondon e Geraldo Espíndola contam histórias e, claro, falam de música.
Ler para compor melhor
Paulo Simões tem uma biografia digna de virar filme. Entrevistá-lo é ter uma aula de cultura, além de boas risadas. O início de sua carreira já parece coisa de cinema. Em 1968, tocava com os “Bizarros, Fetos e Paraquedistas de Alfa Centauro”, grupo de rock que contava ainda com Geraldo Espíndola, Maurício Barros, Mário Márcio e João Vaca Louca. É nessa época que a amizade com Geraldo, com quem estudou na Escola Maria Constança de Barros Machado, torna-se sinônimo de parceria e composições que chegaram a contabilizar 500 músicas. Paulinho, como é carinhosamente chamado pelos amigos, é bom de prosa e conta como tudo começou. “Eu e o Geraldo compúnhamos dez canções por dia. O processo de composição na verdade era a conexão que tínhamos, às vezes eu iniciava uma música e o Geraldo terminava, assim como podia ocorrer o contrário, mas sempre saía algo novo”, comenta Simões.
Paulinho contabiliza oficialmente 250 canções no currículo, mas as letras escritas com Geraldo Espíndola vão além. “Eu ia juntando músicas, sejam gravadas em fitas, ou as letras escritas em folhas de papel. Certo dia Geraldo me pediu as músicas que eu tinha em casa e levou com ele. Passado um tempo ele me retorna com um fichário e com 500 letras de música datilografadas. Ele era o ‘homem fichário’”, brinca o compositor.
Em 1975 é composta a música “Trem do Pantanal”, de sua autoria com o parceiro Geraldo Roca. A música é um retrato emocional da sua geração e é considerada o hino não oficial de Mato Grosso do Sul. Dessa parceria, além de belas músicas e a saudade do amigo que faleceu em 25 de dezembro de 2015, permanece a eterna admiração de Paulo Simões. “Ele era genial, além de ser um músico que sempre estava estudando e na hora de compor era muito cerebral. Ele pensava a música, ele sabia como a música ia ficar pronta. Geraldo Roca era muito inteligente, gostava muito de ler e a gente sempre tinha o hábito de passar livros que líamos um para o outro e isso acrescentava muito na hora de escrever.”
(Confira mais na página C1 da versão digital do jornal O Estado)