Tradicional Ballroom, chega com uma edição especial dos anos 80, trazendo música, dança e arte

Foto: Atreides Fetake Hands Up
Foto: Atreides Fetake Hands Up

Campo Grande entra no clima da resistência e celebração neste sábado (31), com a realização da Anos 80 Ball, um evento Ballroom que irá movimentar a cidade com arte, memória e representatividade. Organizada pela Coletiva Movimentú, a Ball acontece a partir das 19h na NON e tem como objetivo celebrar, acolher e revolucionar a comunidade preta e LGBTQIAPN+, com destaque para o protagonismo de pessoas trans e travestis que constroem a cena local em Mato Grosso do Sul.

Durante a Anos 80 Ball, o público poderá acompanhar uma série de categorias que traduzem toda a riqueza e diversidade da cultura Ballroom. Inspirada no ano de 1980, a Ball contará com categorias cuidadosamente pensadas para homenagear a história e exaltar a presença de corpos pretos e LGBTQIAPN+. Entre elas, está a Baby Vogue Old Way, voltada para quem está iniciando na dança dentro do estilo mais clássico do Vogue, com referências às lendárias houses Paris e Ninja. Outra categoria é o Lip Sync Performance, que convida os participantes a encarnarem grandes ícones da música dos anos 80 em batalhas de dublagem carregadas de emoção e teatralidade.

Foto: Komiyama Produções KPROD

Também haverá espaço para o desfile e a atitude na passarela com a Runway APT, categoria que valoriza o estilo, a presença e a elegância de quem caminha. No mesmo espírito de glamour e resistência, a categoria Best Dressed com o tema “Eleganza – vidas positivas” destaca aqueles que brilham com seus figurinos, trazendo à tona histórias de luta e superação. A Ball ainda abre espaço para a expressão das identidades transmasculinas na categoria Transmasc Realness, que celebra o orgulho de ser quem se é, em sua forma mais autêntica.

O tapete vermelho ganha vida na categoria Femme Queen Estrela de Cinema Realness, em que as participantes devem encarnar uma verdadeira estrela de cinema, com direito a brilho, charme e sofisticação. E para encerrar, a principal categoria da noite: Face Beleza Preta. Com o tema “Marrom é a cor mais quente”, ela celebra a beleza negra em sua plenitude, colocando os rostos pretos no centro do palco como símbolos de poder, ancestralidade e resistência.

A produção da Anos 80 Ball é responsabilidade de Kiara De Lá (MC), Ariska 007 (Chanter) e Baronesa 007 (Comentadora). Além delas, Afroqueer 007 será a DJ da Ball e Léo Le Cinq fará um DJ set. O Júri é composto por Luara 007, Gabs Golden 007 e LadyAfroo 007. No vocabulário Ballroom, 007 categoriza artistas que não pertencem a nenhuma “house”, ou seja, casa, mas estão sempre presentes nas celebrações.

 

Produção do Evento

A preparação para a Anos 80 Ball começou muito antes do que o público pode imaginar. Segundo uma das organizadoras, Kiara Kido para o Jornal O Estado, a primeira versão do evento foi formulada ainda em novembro do ano passado. Ao longo dos meses, o projeto passou por reformulações e só há cerca de três meses foi definido o formato atual da Ball.

A intenção, segundo ela, nunca foi somente promover uma festa com decoração temática, mas sim proporcionar uma verdadeira imersão nos anos 1980. “Desde o momento em que as pessoas entrarem no espaço, queremos que elas sintam que estão vivendo um baile dos anos 80. Não é só uma festinha com referências visuais, é uma experiência completa, com música da época e ambientação pensada nos mínimos detalhes”.

Para isso, uma curadoria coletiva foi responsável por pensar na estética e nas categorias da Ball. Cinco pessoas estiveram diretamente envolvidas com a curadoria da decoração, mas o número total de envolvidos na produção chega a cerca de 30 pessoas. Ela também enfatiza que grande parte da equipe está trabalhando voluntariamente, movida pelo desejo de fazer o evento acontecer, mesmo sem apoio financeiro.

“Isso é a tecnologia Ballroom: fazer acontecer, mesmo sem recurso. A maioria das pessoas está aqui por amor, por querer ver a Ball viva. Se contar todo mundo, é ainda mais gente. Tem pessoas que auxiliam nos bastidores. É um trabalho coletivo, comunitário, e isso é o que mais representa a Ballroom para gente”, destaca Kiara.

 

Mais do que arte

Condessa Afrodite Fetake Hands Up Ms é artista de dança, transformista e liderança da cena ballroom no Estado. Fundadora do coletivo Ballroom MS, ela também é produtora cultural, performer e mestre de cerimônias, abordando temas como gênero e saúde LGBTQIAPN+. Na cena ballroom, títulos como mãe, pai e imperador são dados em reconhecimento ao protagonismo. O título de Condessa foi atribuído a Afrodite pelas suas contribuições à cena, especialmente por sua habilidade em honrar o legado dos que vieram antes e por sua presença constante como mestre de cerimônias e mediadora de debates. Em 2025, ela passa a usar oficialmente o título, concedido pela Pioneer House of Hands Up, a primeira casa ballroom do Brasil, com a qual tem uma forte ligação.

Foto: Ana Laura Menegat

“Hoje, a cena ballroom tem muitas meninas transsexuais e travestis, algumas já consolidadas e outras chegando agora. O meu objetivo com a Ball MS é que, em eventos como ballrooms, haja uma presença maior de pessoas trans. Queremos crescer com mais representatividade trans, incluindo categorias exclusivas para trans masculinos como nesta edição. A ideia é fazer com que todos entendam que a cena é nossa. O foco é destacar a cultura, não só fora, mas especialmente aqui (no Estado), no nosso território, com eventos cheios de pessoas trans, travestis e pretas”, explica Condessa Afrodite.

Na cena ballroom, a moda é uma forma potente de expressão e resistência, especialmente para corpos trans e marginalizados. Para a costureira, figurinista e pedagoga Jessika Rabello, do Ajuberô Ateliê, a moda é cara não só financeiramente, mas politicamente por vestir corpos historicamente invisibilizados. Mulher cis gênero (pessoa que se identifica com o gênero atribuído a ela quando nasceu), preta e lésbica, Jessika vê seu trabalho como uma forma de reparação e acolhimento.

“Costurar para pessoas trans e pretas é celebrar esses corpos que a sociedade insiste em apagar. A conexão entre moda e Ballroom é de mudança de ponto de partida. Eu enquanto aliada cisgênera é minha forma de me reparar em relação a tudo que a sociedade e a cisgeneridade faz com as pessoas trans. Eu sei que não ameniza em nada o que as pessoas trans passam, mas posso garantir que a moda aqui dentro do meu ateliê é para acolher e celebrar”, explica Jessika.

Homenagem

A Ball MS vem como uma homenagem às figuras pioneiras de Mato Grosso do Sul que ajudaram a construir a cena ballroom no Estado, com um foco especial nas personalidades que criaram e fortaleceram esse legado. A principal homenageada da noite é Crystal LaBeija, fundadora da primeira house da história e referência mundial na cultura ballroom. No contexto local, serão celebradas a pioneira Eduarda Zona Zion Hands Up e as precursoras do MS: Mother Roger Pacheco Hands Up, Luara 007, Alice Sherman e Yara Maria Hands Up. “Quando se fala de ballroom, se fala de legado independente da situação atual das pessoas na cena, esse legado precisa ser respeitado e lembrado sempre”, finaliza a organizadora.

Serviço

Anos 80 Ball acontece neste sábado (31), a partir das 19h, no espaço NON, localizado na Rua Pimenta Bueno, 127. O evento celebra a cultura Ballroom com homenagens, performances e muita atitude na pista. O dresscode da noite é inspirado na moda dos anos 80, e a entrada custa R$ 20, disponíveis diretamente na portaria.

Por Amanda Ferreira

 

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