“The Handmaid’s Tale” é um das séries mais importantes da atualidade. Traz uma história muito surpreendente e inevitável. Depois de um ano de hiato por conta da pandemia, ela volta com tudo em sua quarta temporada, que promete grandes reviravoltas já que a história já caminhou mais que o livro no qual é baseada.
O Conto da Aia, livro escrito por Margaret Atwood e lançado em 1985, traz um futuro distópico onde algumas mulheres não conseguem mais engravidar. Eis que os mais jovens, que ainda são férteis, vão para famílias mais abastadas e são postas numa espécie de casta subserviente e chamadas de ‘Aias’. Posteriormente, vão gerar os filhos para essas pessoas. Como se viver sob essas condições não fosse ruim o suficiente, ainda têm que ser capazes de suportar todo tipo de tortura psicológica, física e colocadas numa espécie de seita contra a própria vontade.
Acompanhamos todo o desenrolar dessa história pela ótica de June (Elisabeth Moss). Ela vive com a família do comandante Fred Waterford. Uma das regras é assumir parte do sobrenome de seu senhor junto com a palavra “off”, ficando Offred. Assim, pertence de corpo e alma à causa.
Tudo soa como um grande absurdo quando começamos a acompanhar a série e entender como tudo aquilo é custoso e insuportável. Todos mantêm um tipo de ódio festivo, onde alguns sorrisos falsos calam a triste realidade de viver em Gilliard. Toda essa realidade mostrada aqui é uma forma de contar como o ser humano aceita algo que, na prática, é inaceitável e vil, mas como a história certa não só cai bem como é amplamente difundido por todos os EUA, onde a série a série é ambientada.
Margaret ao compor esse brilhante enredo não poderia imaginar o quanto o mundo real poderia chegar perto de seu universo fictício, no qual as mulheres sofrem com esse tipo de imposição mesmo que sutilmente e socialmente seja aceito subjugar.
Se refletirmos, no momento em que estamos hoje no Brasil, os níveis de feminicídio são muito elevados. As séries para TV, desde o fim dos anos de 1990, ganharam essa cara mais realista. Cada produção que surgia e revolucionava dava lugar a outra com temas cada vez mais complexos. Hoje em dia, é mais que necessário que haja uma série feita por mulheres que tragam temas tão relevantes como solidão, depressão, machismo, feminicídio e trate de uma maneira tão crua que, na primeira impressão, chegue a causar espanto.
Aqui no Brasil, a série é conhecida como “O Conto da Aia” e está sendo distribuída pela GloboPlay, que chegou a exibir as temporadas na TV aberta. Vale mais do que uma visita seguida de reflexão.
(Texto: Filipe Gonçalves)