Tempo em perspectiva: Espetáculo premiado ‘Três Mulheres Altas’ retrata a passagem do tempo pelo olhar feminino

O elenco: Helena Ranaldi, Ana Rosa e Fernanda Nobre estarão no palco do Teatro Glauce Rocha na sexta (3), no sábado (4) e domingo (5)
O elenco: Helena Ranaldi, Ana Rosa e Fernanda Nobre estarão no palco do Teatro Glauce Rocha na sexta (3), no sábado (4) e domingo (5)

Já imaginou poder encontrar e debater consigo mesmo, em diferentes fases da vida? Ali, no presente, no que já foi e no que te aguarda no futuro. Você seria compreensível consigo mesmo? Ou teria mágoas e cobranças para colocar na mesa? Esse é o conceito do espetáculo ‘Três Mulheres Altas’, que chega em Campo Grande nos dias 3, 4 e 5 de outubro, no Teatro Glauce Rocha.

Escrita por Edward Albee (1928-2016) no início da década de 90, ‘Três Mulheres Altas’ logo se tornou um clássico da dramaturgia contemporânea. Perversamente engraçada – como é a marca do autor – A peça recebeu o Prêmio Pulitzer e Tony Award, e ganhou bem-sucedidas montagens pelo mundo, ao trazer o embate de três mulheres em diferentes fases da vida: juventude, maturidade e velhice.

Sinopse

Em cena, as atrizes interpretam três mulheres, batizadas pelo autor apenas pelas letras A, B e C. A mais velha (Ana Rosa), que já passou dos 90, está doente e embaralha memórias e acontecimentos, enquanto repassa a sua vida para a personagem B (Helena Ranaldi), apresentada como uma espécie de cuidadora ou dama de companhia. A mais jovem, C (Fernanda Nobre), é uma advogada responsável por administrar os bens e recursos da idosa, que não consegue mais lidar com as questões financeiras e burocráticas.
Entre os muitos embates travados pelas três, a grande protagonista do espetáculo é a passagem do tempo e também a forma com que lidamos com o envelhecimento.

Transformações complexas do ser humano – nos corpos, nos pensamentos e nos comportamentos – são discutidas com lucidez ao longo da dramaturgia; abordando temas como amor, sexo, trabalho, dinheiro, perdão, família e maternidade, as personagens constroem um panorama da representação sobre a vida humana e, com delicadeza, relativiza assuntos considerados inquestionáveis na atual sociedade, como o tempo e a memória.

A nova versão da peça é dirigida por Fernando Philbert, passou por 13 cidades, conquistou mais de 70 mil espectadores, e traz no elenco nomes de peso do teatro e da TV: Ana Rosa, Helena Ranaldi e Fernanda Nobre, por meio da Lei Rouanet.

Vida, de tempos em tempos

Em entrevista exclusiva para o Jornal O Estado, a atriz Ana Rosa destacou como o texto original consegue, em cada ato, mostrar tanto as personagens em separado quanto juntas, representando a passagem de tempo.

“O que mais me chama atenção nesse texto é a inteligência, a carpintaria teatral do Albee, quando ele faz esse primeiro ato de uma forma em que são três pessoas distintas e que depois ele começa a esmiuçar a psique de cada uma delas. E que no terceiro ato vai mostrando, por exemplo, em cada idade, o que cada uma delas anseia, o que cada uma delas viveu, o que uma delas guarda de frustração, o que cada uma delas guarda de criação dos pais, aquela criação arcaica, antiga, preconceituosa. Então, a forma como ele costura esse texto, para mim, é assim, muito, muito inteligente. Eu amo fazer esse espetáculo e a cada vez, cada representação que eu faço, eu vou descobrindo novas nuances nessa personagem, que no fim acaba englobando a idade das outras duas”.

A atriz ainda rasga elogios ao diretor Fernando Philbert. “Ele é uma pessoa extremamente conhecedora da alma humana, de trato muito agradável, diretor de grande experiência. Fernando nos deixou muito à vontade nessa montagem para sugerir novos caminhos”, disse.

Com 60 anos de carreira e vencedora até mesmo de um Guinness Book como atriz que mais participou de novelas, Ana Rosa se vê muito em sua personagem – menos na memória, isso ela tem de sobra!

“Tem muita coisa, muita coincidência, muitos pontos em comum. Felizmente, o que não tenho em comum é a falta de memória, e agradeço a Deus por isso”. Mesmo com toda a sua trajetória, Ana comenta que o teatro é isso: uma incógnita.

“Fazer um novo trabalho é sempre um desafio, a gente ensaia, se esforça, se dedica, estuda e nunca sabe qual será o resultado, como será a aceitação do público. Nosso desafio após um trabalho é sempre ‘o que a vida nos trará?’, qual a surpresa, qual convite a gente deve ou não aceitar, ou qual projeto de dedicar. Esse é um dos pontos mais interessantes da nossa trajetória. A gente, às vezes, faz um trabalho lindo, maravilhoso, e depois, quando aquele acaba, a gente não tem certeza de um próximo convite”.

Campo Grande é a 14ª cidade a receber a montagem, e celebra como a peça conseguiu se desvincular do eixo Rio-São Paulo, dando a oportunidade de o público não só conhecer o texto como quem o interpreta.
“Apresentar a peça fora do eixo Rio–São Paulo tem um significado especial. O público dessas capitais está muito acostumado a encontrar artistas no dia a dia, seja na rua, em restaurantes ou até mesmo em frente a um estúdio de TV. Já em outras capitais e cidades do interior, esse contato é muito mais raro. Só quando chega um espetáculo é que as pessoas têm a chance de nos ver pessoalmente, seja no hotel, no teatro ou até na rua, e isso gera uma expectativa e uma alegria diferentes”, explicou.

“Falando de mim, da Helena e da Fernanda, o público já acompanha nossas trajetórias há muitos anos pela televisão. Isso cria uma empatia — às vezes até antipatia, dependendo do personagem —, mas faz com que sintam que nos conhecem de longa data. Então, quando acontece esse encontro presencial, é sempre uma demonstração muito forte de carinho, afeto e admiração, o que para nós é extremamente gratificante”, completa.

Ao falar sobre o que esperam que o público leve para casa depois de assistir a “Três Mulheres Altas”, a resposta é unânime: propor uma reflexão. “Não é só o que a gente espera, é o que as pessoas realmente comentam e falam após a peça: a reflexão sobre a vida, sobre como tudo passa muito rápido”, afirmou. A montagem provoca o público a revisitar diferentes fases da existência, da impetuosidade da juventude, quando se acredita poder abraçar o mundo, até a maturidade conquistada com os tombos, os obstáculos e as experiências do tempo. “A gente aprende que a vida é bonita em qualquer fase, em qualquer momento, e que devemos viver o hoje como se não houvesse amanhã, porque nunca sabemos a hora de partir”, finalizou.

Serviço: O espetáculo ‘Três Mulheres Altas’, com Ana Rosa, Helena Renaldi e Fernanda Nobre, será nos dias 3 e 4 de outubro, às 20h e domingo às 17h, No Teatro Glauce Rocha. Os ingressos estão disponíveis na plataforma Sympla.

 

Por Carolina Rampi

 

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