Sesc Teatro Prosa recebe hoje o espetáculo “Ecos do Silêncio” com integrantes 60+

O elenco é formado por participantes do projeto TSPI (Trabalho Social com a Pessoa Idosa) - Foto:  Maice Pereira
O elenco é formado por participantes do projeto TSPI (Trabalho Social com a Pessoa Idosa) - Foto: Maice Pereira

Apresentação aborda tema sobre violência doméstica por meio de musical e performances cênicas, com entrada franca

O Teatro Sesc Cultura Prosa recebe nesta segunda-feira (13) duas sessões do musical “Ecos do Silêncio”, às 17h e às 19h. O espetáculo é protagonizado por integrantes do grupo Sesc 60+, formado por participantes do projeto TSPI (Trabalho Social com a Pessoa Idosa), desenvolvido no Sesc Camillo Boni. A entrada é gratuita e a classificação indicativa é de 12 anos.

A montagem aborda de forma sensível e simbólica a violência de gênero, com foco nas marcas deixadas pela violência doméstica. A narrativa gira em torno de Dona Maria, personagem que representa mulheres da periferia que foram silenciadas pelo medo e pela opressão. Ao longo do espetáculo, o público é conduzido por um percurso que vai da dor ao despertar, do silêncio à libertação, tudo isso por meio da música, da poesia e da performance cênica.

O musical é fruto da criação conjunta de Maice Parreira, instrutora de recreação do Sesc Camillo Boni, e Rafael Gonçalves, aluno do Sesc Lageado. Ambos assinam a direção e a produção da peça, além de atuarem diretamente na construção do roteiro e da encenação.
A regência vocal do coral, inicialmente conduzida pelo professor Rafael, evoluiu este ano com a participação de Rayssa Aranda, monitora do Sesc Lageado.

O acompanhamento musical, com instrumentos como teclado e violoncelo, também é feito por Rafael Gonçalves e o instrumentista Kauã Romão, enquanto o figurino e a direção-geral ficam a cargo de Maice e Rafael. A peça contará ainda com duas narradoras Thalita Dias e solista Iasmim Lorayne, todas colaboradoras do Sesc Lageado, que adicionam um toque especial à apresentação.

Como gesto solidário, o público poderá doar, de forma opcional, dois novelos de lã. As doações serão destinadas ao projeto Quadradinho da Amizade, que utiliza o material em ações sociais.

Público 60+

Para a reportagem, Maice Parreira, instrutora de recreação do Sesc Camillo Boni, conta sua experiência com o grupo Sesc 60+ que existe a mais de 20 anos, destacando os desafios e aprendizados ao longo dessa trajetória. Quando foi convidada para assumir o grupo, ela confessa que não tinha experiência prévia com o público 60+, mas já havia feito alguns estudos na faculdade sobre o tema.

“Trabalhar com elas tem sido um desafio pessoal diário. Quando meu gerente, Arthur, me chamou e perguntou sobre minha experiência, eu disse ‘nenhuma’, mas estava disposta a aceitar o desafio,” afirma Maice. Esse desafio envolvia não somente a adaptação ao novo espaço, o Sesc Camillo Boni, mas também a resistência inicial do grupo, que sentia falta da professora anterior. Com o tempo, Maice introduziu novas atividades, como o Quadradinho da Amizade e o coral, e também implementou uma rotina de aulas mais diversificada.

Para este ano, o projeto foi reformulado, acontecendo de segunda a sexta-feira, com atividades variadas, como aulas de artesanato, poesia e memória, teatro, gincanas e desenvolvimento cognitivo. A cada dia, o grupo se fortalece, explorando novas possibilidades de aprendizado e convivência.

“Nossas atividades incluem bingo, palestras e outras ações voltadas ao público 60+, como oficinas e encontros comemorativos. O grupo tem como objetivo promover a autonomia, desenvolvimento motor e intelectual, e o protagonismo da terceira idade na sociedade, favorecendo um envelhecimento ativo. Algumas participantes estão com a gente desde o início e já fizeram apresentações anteriores, como a peça A Noviça Rebelde. Já estamos planejando o próximo espetáculo e, caso o público goste de Ecos do Silêncio”, explica Maice.

Ecos do Silêncio

Foto: Maice Pereira

Os ensaios para a apresentação de Ecos do Silêncio estão sendo conduzidos de forma estruturada, com etapas organizadas para garantir que cada cena e interação seja cuidadosamente trabalhada. O espetáculo, que mistura música e diálogo, aborda um tema delicado e intenso, o que gera momentos de grande emotividade durante os ensaios. Para este projeto, foi realizada a união das turmas de teatro e coral do grupo Sesc 60+, permitindo um desenvolvimento conjunto das habilidades cênicas e musicais.

“Essas mulheres têm capacidades que muitas vezes nem elas mesmas imaginam. No início foi bem difícil a expressão de dor e sentimentos através da atuação, e isso hoje evoluiu durante os ensaios e vocês poderão conferir na peça. Estamos ensaiando desde o ano passado, pois achávamos que seria apresentado no ano passado, porém resolvemos acrescentar informações e dramaticamente ao conjunto e chegamos no resultado e estamos hoje”, comenta Maice.

O processo de criação de Ecos do Silêncio foi natural e colaborativo entre Maice Parreira e Rafael Gonçalves. A ideia surgiu de uma aula de desenvolvimento cognitivo com o grupo Sesc 60+, destinada a estimular a memória. “Era para ser uma atividade leve, onde elas lembrariam da infância e juventude”, explica Maice. No entanto, a aula revelou histórias de dor e sofrimento, especialmente de uma aluna que, após se casar muito jovem, sofreu abusos dentro de casa por décadas. Foi nesse momento que Maice percebeu o quanto a violência doméstica afetava as vidas dessas mulheres, muitas das quais escondiam suas experiências dolorosas.

“Percebi que, por trás de suas alegrias, elas escondiam dor e não sabiam a quem recorrer, por medo e vergonha. Decidi, então, propor a peça de teatro. No começo, estavam receosas, mas ao longo das aulas, falei sobre violência, sororidade e o feminismo. Elas ficaram maravilhadas, e assim nasceu Ecos do Silêncio. Uma delas ainda disse: ‘Tenho pessoas na minha família que precisam assistir para entender que sofrem violência e nem sabem”, afirma a instrutora.

A peça Ecos do Silêncio não é apenas uma obra artística, mas também um poderoso ato de denúncia e um pedido urgente por mudança. Através da arte, vítimas e sobreviventes da violência de gênero podem expressar suas vivências de maneira segura e simbólica. Pinturas, música, teatro, poesia e dança tornam visíveis sentimentos profundos que muitas vezes são difíceis de verbalizar, rompendo o silêncio imposto pela cultura do medo e da vergonha. O espetáculo vai além do entretenimento, sendo uma ferramenta de educação e conscientização, com o objetivo de sensibilizar o público para as diversas formas de violência de gênero ísica, psicológica, sexual, patrimonial e simbólica.

“Esperamos que nossa peça auxilie no resgate da autoestima de quem viveu a violência. A arte tem um poder terapêutico, criando um espaço de acolhimento e fortalecimento para as participantes. Muitas vezes ouvimos frases como ‘quem apanha, gosta’ ou ‘se não estivesse com ele, não sofreria’, mas quem vive essa realidade sabe que a violência vai muito além da segurança física. A arte permite que histórias de dor e superação sejam contadas de forma simbólica e impactante”.

Maice finaliza, destacando a importância de uma mobilização social e política por políticas públicas voltadas ao enfrentamento da violência de gênero. Ela acredita que a arte, como forma de protesto, pode chamar a atenção para a urgência dessa causa. “Com atos acontecendo ao redor do mundo, as mulheres 60+ também farão parte desse movimento, através do projeto TSPI do Sesc. A arte desempenha um papel essencial na construção de novas narrativas, despertando no público a cultura de paz e equidade, por meio da voz das nossas senhoras”, conclui.

Serviço: O espetáculo “Ecos do Silêncio” acontecerá hoje (13), com sessões às 17h e 19h, no Sesc Teatro Prosa, localizado na Rua Anhanduí, 200, no Centro. A entrada é gratuita, com classificação indicativa de 12 anos, mas é necessário retirar os ingressos previamente através da plataforma Sympla. Para denunciar casos de violência doméstica, ligue para o 180. As chamadas são gratuitas e anônimas.

 

Amanda Ferreira

 

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