Sepultura ‘celebra’ a morte e a vida na Capital

(Foto: Amanda Ferreira )
(Foto: Amanda Ferreira )

Fãs devotos a banda vão à loucura com aturnê de despedida “Celebrating Life Through Death”.

A turnê final do Sepultura, intitulada “Celebrating Life Through Death”, desembarcou em Campo Grande no Ginásio Guanandizão no último sábado (17), marcando o encerramento de um capítulo significativo para a banda de metal. Anunciada no final de 2023, a turnê comemora os 40 anos de carreira do grupo, que não se apresentava em Campo Grande desde 2004, quando tocaram no Estádio Lúdio Martins Coelho. A banda anunciou que encerrará suas atividades de forma planejada e consciente, refletindo sobre a vida e o legado que construíram.

Os portões abriram às 18h e o show começou com apresentações das bandas regionais Tonelada, Haze e Nature New Blood, todas de Mato Grosso do Sul. Às 23h, o Sepultura subiu ao palco, abrindo o espetáculo com “Refuse/Resist”, seguido por “Territory” e “Propaganda”. Com duração de duas horas e meia, o show foi repleto de momentos memoráveis, incluindo exibições da bandeira do Brasil e interpretação em Libras.

O espetáculo destacou-se pelos riffs pesados e pela interação emocional dos integrantes, que expressaram sua saudade de Campo Grande e prestaram homenagens a Silvio Santos. A banda também expressou seu amor pelos fãs, agradecendo pelo apoio incondicional. Entre os destaques da noite, estiveram a performance dos integrantes tocando tambores e a participação de artistas indígenas apresentando música Kaiowá.

Os shows

A abertura da festa ficou por conta da banda de Trash Metal Haze. Livia, Bruna, Aline e Klaus apresentaram um show coeso e empolgante. A cozinha matadora de Bruna e Klaus era porrada garantida. Livia é muito segura nos vocais e Aline consolida-se como uma das guitarristas mais talentosas aqui das terras guaranís.

Na sequência a banda douradense Tonelada mandou bem com vocal enérgico e letras de protesto em português. Dá para ver as influências de Sepultura, Pantera em Slayer. A rapaziada interagiu bem com a platéia, que retribuiu no melhor estilo headbanger. Depois a grata surpresa. Formada por Vitor Rodrigues (vocais), Aldo Assada (baixo), Ricardo Daniel (guitarra), e Matheus Mattos (bateria), a banda Native Blood entregou um show vigoroso e certeiro. A presença de palco de Vitor Rodrigues e o power trio Ricardo, Aldo e Matheus esbanjaram virtuosismo. Showzaço.

Chegada a hora do Sepultura. Luzes se apagam. Andreas Kisser, Derrick Green, Paulo Xisto e o baterista Greyson Nekrutman tomam conta do palco. É só o prelúdio para um show grandioso que dificilmente os campo-grandenses irão esquecer. Ficou fácil entender a devoção que os fãs do Sepultura cultivam. É certo o fim da banda, que anunciou sua turnê de despedida, mas é certo que, quem esteve no Ginásio Guanandizão assistiu a um espetáculo que ficará para sempre na memória. Falando em Guanandizão, o problema de acústica do ginásio continua. Mas não tirou a grandiosidade desse evento único.

Fãs

Em meio a uma imensidão de roupas pretas, moshers e muita bateção de cabeça, o show do Sepultura foi um verdadeiro evento para fãs não apenas em Campo Grande, mas de diversas partes da América do Sul. A presença de fãs da Bolívia e do Paraguai fez da despedida no Guanandizão um evento que ultrapassou a capacidade do local, mostrando a magnitude da maior banda de metal do Brasil.

Com uma base sólida e consolidada há mais de 40 anos, o Sepultura atraiu pessoas de todas as idades no último domingo. As bandas de abertura prepararam o público para a grande noite, enquanto casais de longa data reforçaram sua paixão pela banda, que transcendeu o simples namoro. Zaira e Jorge Lopes, ambos professores acadêmicos, estavam presentes e conheceram a banda através do filho mais velho.

“Somos fãs há muito tempo, desde os primeiros álbuns, e sempre acompanhamos a evolução do rock. Apesar das mudanças no cenário musical, como o surgimento do funk e outras tendências, continuamos admirando o Sepultura. A banda tem uma forte presença internacional, especialmente na Europa, onde são muito populares. Estamos muito animados para o show de hoje e com uma expectativa alta, mesmo que a banda tenha mais sucesso fora do Brasil,” explicou Jorge.

O grupo de amigos composto por Alexandro Mendes Felipe, vigilante e pedagogo; Yuri Uriel da Silva Mendes, servidor público; e Igor Mendes, também servidor público, se reuniu para assistir ao show. Eles são fãs de Sepultura desde o início e estiveram presentes no show da banda em Campo Grande em 2004.

“Estamos muito felizes, especialmente porque é a primeira vez que eles voltam a Campo Grande em muitos anos. A última vez que vieram foi há cerca de 20 anos, para um evento de Motorock. A notícia da despedida da banda foi uma grande surpresa e nos deixou tristes, mas também honrados por poder ver o encerramento da turnê deles aqui. A banda sempre fez parte das nossas vidas desde a juventude, e é uma honra estar presente neste momento especial,” detalhou o grupo, que estava animado para o show.

De Dourados para Campo Grande, um grupo de fãs viajou de ônibus alugado para prestigiar o show do Sepultura, chegando à capital uma hora antes da abertura dos portões. Apesar do cansaço da viagem, a empolgação do grupo não diminuiu. Envolvidos no processo de venda de ingressos com a produtora oficial do Sepultura em Dourados, eles foram alguns dos primeiros a saber que a turnê passaria por Campo Grande.

Ruth Tavares dos Santos, assistente e coordenadora pedagógica, expressou sua expectativa e entusiasmo. “ O Sepultura fez parte da minha vida desde jovem, e a importância da banda no cenário do rock é imensa, muito além de qualquer descrição simples. Eu costumava ouvir falar da banda e achava que era algo ruim, mas logo percebi ser uma banda extraordinária, com uma energia única e letras poderosas. A ideia de trazê-los para Dourados foi considerada anteriormente, mas não deu certo. Porém, foi uma surpresa maravilhosa descobrir que a produção conseguiu agendar uma data”

Felipe Lino, estudante de História pela UFMS, ficou empolgado com o anúncio do show do Sepultura em Campo Grande, especialmente porque não esperava que a banda incluísse a capital em sua turnê. O acadêmico estava ansioso para ouvir tanto as músicas clássicas quanto as novas do grupo. Para ele, a presença no show significava mais do que apenas uma paixão pela banda; era também uma homenagem ao tio que faleceu no ano passado e que lhe apresentou o Sepultura.

“‘Territory’ é uma das minhas músicas favoritas. Embora eu aprecie muito as músicas da fase Cavalera, também sou fã do material mais recente da banda, que sigo há muito tempo. O Sepultura sempre teve um significado especial para mim; meu tio, que era um grande fã, apresentou a banda ao meu pai, e eu passava horas ouvindo Sepultura durante as viagens de caminhão com ele. A memória dele está muito presente para mim hoje,” detalhou Felipe.

Felipe já antecipava a aposentadoria da banda, mas reconhece a imensidão do legado que o Sepultura deixou. Para ele, é natural que chegue o momento de descansar e aproveitar o legado construído ao longo dos anos.

“Foi uma honra assistir a um show deles, mesmo com a nova formação. Embora eu tivesse desejado ver Eloy Casagrande, o ex-baterista que é um verdadeiro herói nacional, o que realmente importa é a marca e a história que a banda construiu. O nome Sepultura vai além das pessoas que passaram por ela; é uma banda com um impacto profundo e significativo. Como estudante de História, entendo a importância da trajetória da banda e reconheço o legado que deixaram”, finalizou Felipe.

Sepultura

O Sepultura, formado em 1984 pelos irmãos Max e Igor Cavalera em Belo Horizonte, é uma das bandas de heavy metal mais influentes do Brasil, com uma trajetória que inclui a venda de 20 milhões de discos e uma importância duradoura no metal. Seu estilo único, que mistura death metal, thrash metal e elementos de música tribal, ajudou a quebrar barreiras no cenário global do rock, especialmente nos anos 1990 com álbuns como Roots, Arise e Chaos A.D. A banda deixa um legado que transcende o gênero e influencia novas gerações de músicos.

Por Amanda Ferreira e Marcelo Rezende

 

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