Raphael ocupava viaduto com música durante seu horário de almoço como pedreiro
Combinar sons ao silêncio é uma das características da música e, contrastar de outros sons e destacar-se mesmo em meio à barulheira dos carros é uma marca ainda mais forte dessa vertente artística, como bem exemplificou Raphael Clementino Martins, pedreiro e acadêmico da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, ao destacar-se na atmosfera de um viaduto com seu trombone enquanto praticava seu repertório letivo durante seu horário de almoço.
Acadêmico há dois anos ele explica: “minha rotina de estudo ela está baseada em executar os métodos que fazem parte da técnica, fortalecimento da embocadura e agilidade de braço na vara do instrumento, exercícios que faço diariamente e tem objetivos específicos, que me auxiliam nas músicas que estou estudando, no caso, é o meu repertório por semestre exigido no curso de música da UFMS”.
Raphael é pedreiro e utiliza de seu intervalo de 2 horas para estudar trombone, já que no período noturno se dedica às outras disciplinas. “Não basta estudar tudo num dia só, tem que ser um estudo continuo. Todos os dias o tempo que eu tenho é de 2 horas, tenho que me concentrar bastante porque o tempo é muito corrido em cada exercício dos métodos, exige muita concentração”.
Com melhor acústico debaixo do viaduto, ele comenta ainda que: “embora estudo na rua o som do trânsito não me atrapalha porque eu estou focado nos meus estudos diárias do Trombone”.
Cristão, Raphael aponta ser daí a inclinação e fascínio em relação às orquestras. Servo de Deus da Congregação Cristã no Brasil, o jovem de 26 anos começou na música dentro da igreja. “Desde criança, na igreja existia orquestra que é dividida por naipes de instrumentos, exemplo: cordas; madeiras e metais, todos tocam juntos e tem o canto que também soa tudo junto”.
“Comecei estudar música em 2009 na igreja Sis todas as três etapas e estou apto a tocar em todas as casas de oração do Brasil e do mundo sou músico oficializado da congregação cristã no Brasil”, revela ainda.
Sobre equilibrar as rotinas de estudo e serviço, ele conta que foi quase uma década depois: “só no ano de 2017 que fiz o ENEM tive uma boa nota ingressei no curso de música da UFMS no ano 2018 e já estou no sexto semestre graças a Deus” e com toda essa correria de trabalho e estudo até agora não peguei nenhuma uma DP”.
Raphael se forma no ano que vem, na academia toca o trombone de vara há um ano e meio, sendo que na igreja toca no trombone de pisto. Quando licenciado o músico sai do curso podendo fazer audição em orquestras, dar aulas e projetos e escolas, particulares ou públicas, desejo que carrega no coração. “Eu quero atuar a princípio nas escolas dando o pilar da música na matéria de arte, mas estou me preparando também para as audições de orquestras que surgirem em Campo Grande e no Brasil. E fazer concursos públicos também aeronáutica, exército, bandas militares, da Guarda Municipal e o que aparecer”.
Sobre ensinar os pequenos e os reflexos de aflorar neles essa veia artística ele ressalta que, na sua visão: “a música tem um peso fundamental na vida das crianças por quê ela ajuda a desenvolver ver a parte cognitiva sensório-motor do cérebro, crianças com deficit de atenção e concentração e também na educação tanto em cima do palco como também dentro da sala de aula e a música”.
“Pode ser uma fonte de renda no futuro para elas podendo de desenvolver habilidade mais rápido. Trazer alegria para vossa vida em poder tocar cantar instrumentos musicais. É muito importante ter a musicalização essa escolas públicas”, destaca ainda.
Efeitos da música
Sensível, Raphael diz que nesse momento de pandemia mundial é necessárias que as pessoas se ajudem da maneira que for possível. “E vejo a arte neste momento tão difícil como um pivô de apoio que pode levar alegria, paz, contentamento para alma das pessoas através da música”, completa.
“A música tem esse poder de sensibilizar, porque o som reproduzido se propaga através das ondas sonoras chegando então na pele das pessoas, penetrando essa sensação, de ondas sonoras que partem para o cérebro e ele filtra a música que desce para o coração e, só então, depois desse processo do som, que o ser racional se emociona de diversas maneiras com diversas expressões a respeito da música que seu ouvido ouve”, divaga Raphael.
Entre os reflexos dessa arte, para ele, ao ouvir música quem está triste fica alegre: “falo isso por diversos relatos, experiência própria que tive neste período estudando na rua, pelo número das pessoas que param seus carros e conversam comigo, se emocionam e se alegram com a arte que estou fazendo”.
Da relação com as pessoas, ele revela resultados positivos, como quando uma senhora parou o seu carro debaixo do viaduto da Avenida Ceará na Fernando Correia da Costa. “Ela se emocionou muito e me falou que o que eu estava fazendo naquele local era de muita importância, por conta de ser um local pesado aonde várias pessoas já tentaram suicídio e a música pode mandar esses espíritos de suicidas embora. Citou um exemplo do beija-flor tentando apagar o fogo da Floresta com uma gota de água no seu bico e os outros animais vendo o beija-flor fazendo a boa ação disseram para ele você não é capaz de conseguir apagar esse fogo o beija-flor respondeu estou fazendo a minha parte, por mais que seja pequeno de baixa estatura, não vou parar enquanto fogo não acabar”.
“Ela relatou isso para mim muito emocionada e disse para eu não desistir ir dos meus objetivos e sempre continuar lutando até o fim naquele dia pude ver a importância dar na minha vida chega até me emocionar em relembrar esse dia”, completa Raphael.
Mas Raphael também comenta que nem tudo são flores e que um morador inclusive chamou a polícia enquanto tocava, dizendo: “eu não sei se ele tem alguma influência com a polícia, por conta que a polícia entrou no condomínio e depois saiu, eles conversaram lá e depois saíram já vindo para cima de mim. Chegou pedindo para eu parar de tocar e parei. Começou a conversar comigo, perguntando o motivo de eu tocar ali, falei que era para Faculdade de Música e aproveitar o horário do almoço para estudar”.
Ao relatar o ocorrido Raphael lembra da afronta por quererem tirar ele do local e da ameaça que recebeu. “Ele falou que eu não poderia ficar tocando ali e respondia que a rua é pública. Ele pediu meu nome completo passei para ele habilitação, pegou meus dados lá e queriam me levar preso. Falou que se na quarta-feira eu tivesse ali tocando incomodando de novo, que ele chegaria e iria me prender”.
Sendo a saída que o músico possui para dar continuidade aos estudos ele confrontou: “Eu falei pode vir aqui amanhã 11 horas, eu estarei aqui tocando porque a única coisa que eu sei que eu posso estar errado de tocar aqui é em questão dos decibéis né, se eu extrapolar a altura dos decibéis por lei eu tenho que parar né. Não porque eu vou perturbar o estar tipo passando altura do som, o meu instrumento ele não ultrapassa os decibéis entendeu”. Sem levar um decibelímetro, Raphael conta que os policiais se resumiram em dizer que o jovem não conhece a lei e o mandaram estudar.
De seu anseio para o cenário cultural no Brasil, o músico aponta que quer crescer a cada dia: “porque a arte no Brasil tem uma história muito bonita que muita das pessoas não dão valor ao que temos. Quero coisas super boas, quero ser um ajudador neste momento e quero fazer história aqui mesmo em Campo Grande”.
Ele finaliza analisando o gênero em Campo Grande, dizendo que: “a música erudita, a clássica, pode ganhar mais espaço, é uma capital belíssima, eu amo viver aqui. Gostaria que as autoridades investissem mais na Cultura na educação infantil, trazendo investimento na formação musical na vida das crianças que é de suma importância para o seu crescimento”.
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(Texto: Leo Ribeiro)