Conseguir a produção e gravação de um CD próprio é o desejo de muitos que decidem se aventurar e sentir o mundo da música mais a fundo, entretanto esse caminho mostra ainda mais resistência em se concretizar quando o artista ou a banda pertencem à cena underground. Vindo para celebrar a conquista, neste sábado as bandas de punks de Campo Grande “Mundo Lixo” e “Crime Ritual” fazem um show apresentando ao público um pouco das guitarras pesadas que podem ser conferidas em suas Demos CDr.
“Acho que atualmente, com as mídias e fontes digitais saltando em nossas vistas constantemente, é mais uma forma de insistência em manter algo real e palpável, meio que na contramão disso tudo. Não que a gente faça muita questão disso, mas é legal ter um registro físico de um projeto e um momento que é relevante pra gente”, explica o vocalista da Mundo Lixo, Marreco.
O músico destaca ainda que foi a vontade do “fazer musical”, do subir ao palco e estar tocando em banda, que fez com que esse sentimento e a banda perdurassem. “Fomos mais despreocupados e sem pretensão, montamos a banda por diversão, tocando o que a gente gosta e sem querer agradar ou ‘vender’. E seguimos assim”, pontua Marreco.
“Acho que os rolês de punk rock ainda se mantêm livres de censura pra gente poder falar sobre o que está acontecendo e sempre aconteceu na política do Brasil e do mundo. Algo que em outros eventos já não tem acontecido, recentemente. Por isso é importante manter essa cena ativa e segura”, aponta ainda.
Surgindo da união da Resista! Discos; “Terror Rock Shop”, aliados a “Noise Mesmo Records” (Selo de propriedade do Enrique, vocalista da Dor de Ouvido) o evento intitulado “Lixo Ritual” promete ainda o som das bandas “Intervenção” e “Dor de Ouvido”.
“Acho que o punk, uma parada massa dele é que, como movimento, ele politiza muito bem as pessoas, principalmente a juventude. Eu mesmo fui me entender como agente político com, sei lá 12, 13 anos de idade, porque tive meu primeiro disco de punk. Na conjuntura atual é importantíssimo, ainda mais pra juventude, ir, curtir, se apaixonar e querer fazer parte do rolê, ainda mais em Campo Grande, que é uma cidade incrivelmente conservadora, paraísos latifundiários, nosso Estado mata indígena todo dia, então assim… não dá pra passar pano para essas coisas e o punk felizmente consegue ajudar nessa parte”, explica Felipe (“Fepo”) Zottos, vocalista da Crime Ritual.
Quanto ao que o movimento representa, Fepo ainda destaca: “A Crime Ritual por si mesma não tem letras politizadas, mas fazemos parte da cena daqui e todos os membros são politizados de certa forma, todos antifascistas… então mesmo que a gente não seja tão politizado nas letras, é importantíssimo que essa cena continue – ela nunca parou, mas que ela continue – porque o punk em si na sua origem é uma música de protesto, é um movimento de protesto”.
“E na nossa conjuntura atual, qualquer manifestação que tenha qualquer cunho antifascista; combativo, qualquer coisa é válida e importante. Acabar ela nunca vai acabar porque sempre terá os loucos que irão querer fazer o som, mandar a mensagem e frisar o que quiser”, finaliza Fepo.
Serviço: “Lixo Ritual!” acontece sábado, no Bar Trem Mineiro, na Rua Heitor Laburu, 341, com entrada a R$ 5,00, às 19h. (Leo Ribeiro)