Manicômio ficou conhecido por meio do livro ‘Holocausto Brasileiro’
Sem dúvida, uma das histórias de maior descaso no Brasil começa no ano de 1903 e se estende por décadas no “Colônia”, como ficou conhecido o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena, localizado em Minas Gerais, que funcionou até 1996. Por conta do desprezo do estado, dos médicos e da sociedade, deixou o saldo de mais de 60 mil mortos e inúmeras vidas marcadas para sempre.
Esta narrativa ficou conhecida pelos brasileiros no livro-reportagem “Holocausto Brasileiro” e no documentário “Em Nome da Razão”. Ambas as obras inspiraram o diretor e produtor Juliano Candia Pedrozo a criar o projeto “Crônico Social”.
Foi por meio da dança, área de atuação de Juliano, que algumas das realidades vividas no Colônia são interpretadas. A partir de uma apresentação artística gravada, “Crônico Social” será lançado no próximo sábado (19), às 20h. Mais informações estão disponíveis nas redes sociais do diretor (@julianocandiapedrozo) ou no link direto https://www.youtube.com/ watch?v=Vewu4jnBa5Y
Os bailarinos Mayara Matoso, Elinei Morais, Douglas Dutra e Danilo Nogueira usam seus corpos para dar vida às trágicas histórias de quem viveu essa triste realidade. “Desde que recebi o convite do Juliano para compor o espetáculo, demonstrei um grande interesse por conta do currículo dele como diretor e pela proposta que ele queria trazer. A ideia passa longe de tudo que a gente costuma ver na cena artística da dança e um assunto importante e esquecido ou muitas vezes desconhecido por grande parte da população”, conta Danilo Nogueira.
Dedicação intensa
De acordo com Elinei Morais, o processo para este espetáculo difere de todos os outros já feitos por ele. “Tem uma coisa que eu gosto muito que é a parte cênica e, neste projeto em específico, temos a mistura da dança com o segmento teatral. É um desafio porque temos que representar algo inconsciente e ao mesmo tempo uma coisa que agrade a produção do projeto, tem me permitido viajar em possibilidades”, discorre ele.
Mayara Matoso relembra como foi intenso o período de ensaio e gravação. “Saí totalmente da minha zona de conforto com este projeto. Entendi que teria de estudar mais do que o normal e entender mais o processo. Tivemos pouco tempo para ensaiar e a gravação foi bem intensa”, pontua.
Douglas vai além e diz ter se questionado muito a respeito da dualidade entre loucura e sanidade. “Este projeto nos fez ensaiar demais, questionar muita coisa e pesquisar. Me fez ter contato com muitas sensações. Bastante tristeza eu senti em ver a situação, tudo que foi feito naquele lugar. Mas acima de qualquer coisa, com certeza, este projeto me fez refletir. Parece um caso isolado, muito discrepante, entretanto quanto mais você se aproxima da loucura mais se questiona sobre o que consideramos normal na sociedade”, diz.
De acordo com Juliano, o que ocorreu no Colônia não é uma realidade isolada. “O hospício em questão se reproduz em vários outros lugares, às vezes com pequenas diferenças e nomes sofisticados. Esta obra é um depósito de improdutivos de uma maneira geral, de inadaptados, de indesejáveis e de desafetos, todos aqueles que por um ou outro caminho se desviam daquilo que chamamos de normalidade. Aqui ele é confinado para sempre e recebe um rótulo, crônico social”, pontua.
O espetáculo de dança “Crônico Social” recebeu recursos da Lei Aldir Blanc, por meio da Fundação de Cultura do governo do Estado. Acessível, o projeto pode ser assistido por todos pois conta com o trabalho da intérprete de libras Claudia Ester Soares Candia. Assista à obra no YouTube por meio do link https://www.youtube. com/watch?v=Vewu4jnBa5Y.
(Marcelo Rezende com assessoria)