O rock é delas! No Dia Mundial do Rock, as garotas dão o tom

Elora Tuane - Foto: Elora Tuane Isabella Bertuol Makeny Duo Sul Fotografia/Divulgação Ale Carvalho/Divulgação Acervo pessoal da artista Acervo pessoal da artista
Elora Tuane - Foto: Elora Tuane Isabella Bertuol Makeny Duo Sul Fotografia/Divulgação Ale Carvalho/Divulgação Acervo pessoal da artista Acervo pessoal da artista

Neste domingo (13) é celebrado o Dia Mundial do Rock, e o jornal O Estado conversou com quatro artistas para entender um pouco da cena

‘I love rock ‘n roll / So put another dime in the jukebox, baby’. De Joan Jett a Janis Joplin (conhecida como a Rainha do Rock and Roll); de Hayley Williams a Amy Lee e Taylor Monsem, que fazem história como vocalistas femininas em bandas apenas com homens; de Rita Lee a Pitty no Brasil; e de Sister Rosetta Tharpe, mulher negra considerada a pioneira do rock a estrela em ascensão Emilly Armstrong, que assume de forma poderosa os vocais da banda Linkin Park: o rock sempre foi lugar delas. E nada melhor do que comemorar o Dia Mundial do Rock do que dar destaque as mulheres que seguem fazendo o gênero, só que aqui em terras pantaneiras.

Do heavy metal ao pop rock, Ellora Tuanne é vocalista das bandas Mullets (flashback), Spellmans (pop rock) e Hellora (heavy metal). Para ela, o rock começou pertinho, no meio familiar. “Tive muita influência da minha mãe e meu tio, que ouviam muito pop e rock das décadas de 70/80/90 em casa. Eles moldaram o meu gosto”, relembra em entrevista ao jornal O Estado. “Me encontrei na música quando estava morando sozinha com minha filha, foi um momento bem difícil na minha vida. Um amigo que já me viu cantando em participações de shows, me indicou para a banda Monsters, onde fiquei por mais ou menos 3 anos sendo vocalista”.

Dos clássicos ao rock dos anos 90, Isabella Bertuol, atual vocalista da banda Monsters, também começou o contato com o gênero na infância e adolescência.
“Eu cresci ouvindo rock. Meu pai gostava bastante dos clássicos como Bee Gees e
Beatles, mas o que eu gostava mesmo era das músicas que meu irmão ouvia: Offspring,
Guns, AC/CD, System of a Down, Charlie Brown”, comenta.

Méri Oliveira – Foto: Acervo pessoal da artista

No sangue

Assim como acontece de profissões passarem de pais para filhos, a música também pode seguir esse caminho, de uma forma ou de outra, como nos casos da jornalista e cantora, também da banda Mullets, Méri Oliveira, e da cantora de metal MAKENY.

“Minha relação com a música começou aos quatro anos, com meu pai, que também é músico, me ensinando técnicas vocais como ‘brincadeira de criança’: um dia, ao ouvi-lo tocar (teclado), comecei a cantar junto, ele gostou, me chamou mais para perto, me pediu para continuar cantando. A partir daí, o canto entrou na minha vida. Estudei canto lírico por 10 anos, cantei em grupos de canto coral por mais de 20 anos, cantei em banda de baile, em grupos de música para casamento (cerimônia), tive banda de blues, cantei em banda de rock”, explica Méri.

“Canto desde que aprendi a falar, praticamente. Tenho músicos na família, o que ajudou a me ambientar, mas nenhum ligado ao rock. Eu sabia que amava cantar, mas ainda não havia encontrado o gênero musical ideal para me expressar. Então, o rock/metal veio a partir da adolescência, ao passo que, quase sozinha, fui conhecendo bandas e gostando do som. Senti que ali eu tinha um lugar para ser sincera sobre o que sou e o que sinto, sem me preocupar em manter um padrão de imagem que, muitas vezes, é imposto ao artista em outros gêneros. Eu amo minha liberdade e sinto que o rock amplifica ela”, destaca Makeny.

Em MS

Makeny – Foto: Ale Carvalho/Divulgação

Nas terras do sertanejo, onde o Agro é ‘Pop’, como é fazer rock? Para as artistas, há desafios, mas o gênero está ganhando mais espaço do que muitos imaginam.

“Acredito que, apesar do peso que o sertanejo tem no mercado, a galera que vai em um
show de rock, vai para ouvir a música de fato. Mesmo com um público menor, a conexão
é sempre massa. Eu acredito que, em menor proporção, existe espaço, sim, lógico que
depende de onde você quer chegar e o objetivo do seu trampo”, diz Isabella.

“Existe espaço para o rock no MS, temos músicos excepcionais, existem fãs, mas é um espaço menor. É preciso resistência, criatividade e presença digital de acordo com seu objetivo. No meu caso, uso as redes sociais para divulgar meus trabalhos e funciona bem”, opina Makeny.

Méri e Ellora destacam o crescimento dos locais voltados para o rock e repertório. “Apesar da hegemonia do sertanejo, Campo Grande tem, hoje, mais de 20 estabelecimentos onde há espaço para o rock, ou que sejam voltados especificamente ao gênero. Mas sempre que digo que sou cantora, me perguntam se canto sertanejo; quando respondo que sou do blues, rock, jazz, é visível a surpresa. Acho engraçado”, comenta Méri.

“Acho que aqui tem mais espaço para o rock do que pensam, tem muitas casas abrindo e crescendo na cidade. Só sinto que o público às vezes não se abre para músicas novas, e pedem quase sempre o mesmo repertório”, diz Ellora.

Isabella Bertuo – Foto: Duo Sul Fotografia/Divulgação

União?

Entre ensaios, shows independentes e parcerias, o rock em Mato Grosso do Sul pulsa em meio aos desafios. Para a artista, há sinais de amadurecimento na cena local, com maior abertura do público e fortalecimento dos laços entre músicos.

“Estamos voltando a fazer música boa, com bandas mexendo em música autoral. Sempre que eu troco ideia com outros artistas sobre o assunto, o pessoal é bem aberto, trocamos experiência e rola uma parceria sim. Sinto que o público está mais aberto também, inclusive alcançando diferentes pessoas e não apenas o ‘rockeiro clássico’. Mas penso que para o meio de música autoral ainda é mais difícil de inserir”, acredita Isabella.

“A cena de rock do MS é guerreira. Ela resiste em meio às suas dificuldades. Existe um público fiel que mantém uma presença constante nos shows e cada vez mais vejo rostos novos nos eventos, principalmente de jovens. Quanto à rede de apoio entre artistas, eu diria que nós nos ajudamos criando eventos colaborativos, dividindo palcos e instrumentos. É o que vejo, mas claro que esse apoio varia de indivíduo”, expressa Makeny.

Já na opinião de Ellora e Méri, a recepção tanto do público quanto do próprio meio são relativos. “O rock tem espaço aqui, tem lugar para todo mundo, mas, em termos de rede de apoio, não tenho conhecimento. Entretanto, o público está aberto, gosta e quer mais e mais rock”, conta Méri.

“Ainda vejo uma certa ‘panelinha’ entre alguns artistas, às vezes o ego fala mais alto, e isso abala o que deveria ser uma rede de apoio entre artistas. Com relação ao público, ainda sinto que eles estão fechados a conhecer músicas até de seus artistas preferidos. Tem muita coisa boa fora do mainstream a ser explorada”, revela Ellora.

Insistir para ocupar

Qualquer pessoa que escute música sabe que, o rock é predominantemente um espaço masculino – mesmo que na história, a já citada Sister Rosetta Tharpe foi, na verdade, a fonte de inspiração para nomes como Elvis Presley, o Rei ‘fajuto’ do Rock’. Cada passo na cena é uma conquista, uma batalha e um conhecimento deixado para as próximas artistas.

“Dizer que não há barreiras seria me fazer de cega. Apesar de sutis, elas existem, e passam mais por situações de menosprezo por eu ‘só’ cantar, e já lidei com colegas de profissão que me trataram como iniciante ou amadora pelo simples fato de eu não ser instrumentista. Outra coisa é achar que, porque sou mulher, não posso ter voz ativa na banda, nem participar de decisões, dar sugestões. Tudo isso eu já vivenciei no passado e não quero mais para mim. Acho falta de respeito, já que, de música – apenas profissionalmente falando – tenho 30 anos de atuação, então, isso precisa ser levado em consideração”, afirma Méri.

“O rock em MS está crescendo e evoluindo. Tenho percebido uma força crescente entre artistas mulheres, que estão ocupando espaços e fazendo ‘barulho’, e isso não tem preço. Porém, ainda falta muito para chegarmos onde gostaríamos, apesar de não ser impossível”, complementa a veterana.

“Já senti que alguns contratantes preferem tratar de shows com homens, mas isso vem acontecendo bem menos de um tempo para cá. Vejo também que o número de bandas com mulheres nos vocais vem crescendo cada vez mais”, diz Ellora.

“Historicamente o rock foi muito masculino e como mulher há barreiras. Já enfrentei e vou continuar enfrentando, pois isso faz parte de qualquer meio. Quero, através do meu trabalho, incentivar outras mulheres a acreditarem em si mesmas e serem maiores que essas barreiras. O rock sempre teve um papel de contestação e liberdade de expressão. O Dia Mundial Do Rock é um lembrete desses valores e uma oportunidade para fãs e músicos fortalecerem a cultura do rock e suas vertentes”, expressa Makeny.

Sobre o Dia do Rock, Isabella complementa muito bem: “Representa a liberdade de expressão. É um dia a ser celebrado em grande estilo! Enquanto eu puder, vou representar o rock sul-mato-grossense por onde eu for!”.

 

Por Carolina Rampi

 

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