Projeto ‘O Caminho das Seis Cordas’ busca difundir música erudita entre estudantes e comunidade
Com a proposta de valorizar o violão como instrumento solista e difundir a música erudita entre jovens estudantes, o violonista e pesquisador Evandro Dotto realiza o projeto ‘O Caminho das Seis Cordas’, que apresentará concerto didático no Centro Catequético de São Gabriel do Oeste, sua cidade natal, nesta segunda-feira (28), às 19h, com entrada franca.
A ideia do projeto nasceu do desejo pessoal do músico em retornar às suas origens e apresentar o violão de concerto ao público onde ele mesmo iniciou sua trajetória artística. “Infelizmente tenho poucas oportunidades de fazer um concerto solo na cidade onde cresci e lecionei por anos. Com esse projeto, quero compartilhar esse caminho que trilhei junto ao violão”, explica Evandro. “Em 2023 eu havia realizado um concerto na cidade, e, embora tenha sido com outros artistas, foi especial, pois pude sentir o público abraçando realmente o meu trabalho e me recebendo muito bem. Fiquei muito grato por isso, principalmente por poder mostrar minha evolução técnica e profissional dentro dessa área, que infelizmente ainda não é tão valorizada”, complementou.
Mais do que apresentações musicais, os concertos são experiências educativas. Em formato didático, eles percorrem a história do violão desde seus antecessores, como a guitarra latina e o alaúde, passando pelo período áureo do instrumento até os compositores contemporâneos. As obras escolhidas fazem parte do cânone do violão solo e são apresentadas com comentários que contextualizam e ajudam o público a criar uma escuta mais atenta.
“Essa é uma ideia antiga que eu tenho, baseada em projetos anteriores, e que, na verdade, é uma reformulação de uma proposta antiga. Nela, eu traço um panorama do repertório do violão ao longo da sua história, ou seja, apresento quais foram os primeiros repertórios compostos para violão solo e quem são os seus herdeiros. A ideia é contar a história do instrumento através das performances. Para isso, toco músicas antigas, do período da Renascença, compostas para os antecessores do violão, como a guitarra latina, o alaúde e a vihuela. Começo com essas obras e, em seguida, percorro períodos em que o violão atingiu seu apogeu. O repertório serve para contextualizar o público sobre o instrumento e relacionar as performances com a história do violão”.
Contexto histórico
O projeto também realizou uma oficina sobre a história do violão na Escola Fabiano de Cristo, voltada para crianças que já participam de projetos musicais. Com recursos visuais e exemplos sonoros, a atividade visou aproximar os estudantes do universo da música erudita e ampliar sua visão sobre o instrumento.
“No concerto eu toco músicas e as contextualizo dentro da história: explico em que período do violão elas foram compostas, se era uma fase próspera para o instrumento ou se o repertório foi herdado de seus antecessores. Dessa forma, deixo a apresentação mais didática e interessante para os ouvintes. A oficina seguiu essa mesma linha, mas com exemplos visuais e sem as minhas performances; a ideia é que os participantes entendam um pouco mais sobre esse instrumento popular. Espero que eles saiam da oficina percebendo que o violão não é apenas um instrumento de acompanhamento, mas também um verdadeiro precursor”, destaca.
Com foco em estudantes adolescentes e entusiastas do violão, os concertos têm duração de uma hora e serão realizados em espaços acessíveis à comunidade, mostrando que não precisamos necessariamente de uma sala de concerto ou teatro para esta atividade. Para Evandro, levar esse tipo de repertório à escola é uma forma de democratizar o acesso à arte e valorizar os estudantes: “Essas atividades podem abrir portas. A escola é um espaço de aprendizado e vivência, e mostrar que o violão também é um instrumento de concerto pode transformar a relação deles com a música”.
Compartilhando sempre o conhecimento
Evandro já realizou ações semelhantes anteriormente, como o projeto “Música Erudita nas Escolas e Universidades”, também viabilizado por recursos públicos. Segundo ele, o retorno dos alunos é sempre de admiração e surpresa: “Eles entram em contato com obras e instrumentos que nunca viram antes. Essa experiência pode ser uma semente que, no futuro, fará toda a diferença”, opina. “Escutar uma hora de música que você nunca ouviu pode ser cansativo, mas quando colocamos ela dentro de um contexto, o ouvinte cria uma referência”, afirma o violonista.
Segundo ele, contextualizar as músicas durante o concerto é fundamental, especialmente em locais onde o público não tem o hábito de assistir a esse tipo de apresentação. “Acho que isso vem do fato de as pessoas não estarem habituadas a assistir a concertos. Se fosse em algum lugar onde esse hábito já existisse, talvez eu não me preocupasse tanto em contextualizar. Mas como estou me apresentando em locais onde concertos são raros, considero importante dar esse suporte para que o público possa entender melhor. Explico de onde veio aquela música, em que contexto ela foi composta, e isso ajuda a criar referências para as pessoas. Assim, elas conseguem se localizar melhor na história e, quem sabe, até despertar um novo interesse por obras que nunca tinham ouvido antes”, explica.
Mais do que formar plateias, Evandro acredita que iniciativas como essa ensinam os jovens a escutar com atenção, respeitar o momento da performance e buscar repertórios além do que a mídia oferece. “É uma forma de mostrar que a música pode ser contemplada, apreciada. Que ela exige escuta, presença e curiosidade”, conclui.
O projeto conta com incentivo da Lei Paulo Gustavo, do MinC (Ministério da Cultura), por meio de edital da Secretaria Municipal de Cultura e Desporto de São Gabriel do Oeste.
Por Amanda Ferreira e Carolina Rampi
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