Data é marcada por formações profissionais e produções premiadas
No feriado de Corpus Christi, celebrado em 19 de junho, também se comemora o Dia Nacional do Cinema Brasileiro, data que homenageia a origem da sétima arte no país. A celebração marca o momento em que o ítalo-brasileiro Afonso Segreto, considerado o primeiro cinegrafista e diretor do Brasil, registrou as primeiras imagens em movimento em solo nacional. A filmagem foi realizada em 1898, na entrada da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, a bordo do navio francês Brésil.
Mais de um século depois, o cinema brasileiro segue escrevendo sua história com conquistas expressivas. Em janeiro de 2024, os filmes nacionais alcançaram um público de 3 milhões de espectadores, representando 31,3% das sessões de cinema programadas no país. Para efeito de comparação, no mesmo período de 2023, esse número era de apenas 114 mil pessoas.
Os dados da Ancine (Agência Nacional de Cinema) também revelam que a bilheteria dos filmes brasileiros ultrapassou R$ 59 milhões só no primeiro mês de 2024, o equivalente a 80% de toda a arrecadação do cinema nacional ao longo de 2023. Os números apontam para uma retomada significativa do setor, com mais público, mais receita e maior valorização da produção audiovisual brasileira.
Cinema do MS
Falar sobre cinema no Brasil também exige olhar para o cinema regional, que muitas vezes ainda é uma lacuna nas estatísticas sobre a produção e o consumo audiovisual no país. Um exemplo marcante dessa força regional é o filme Do Sul, a Vingança, uma produção 100% sul-mato-grossense, realizada com um orçamento de R$ 397 mil e a participação de cerca de 90 profissionais locais, sendo o primeiro longa do Estado a ir às telonas nacionais.
Além disso, a crescente rede de cineclubes no estado, como o Transcine, Cine da Boca, Cine Marco, Cine Sesc, Cine Três Lagoas, entre outros, destaca o movimento do Audiovisual que atravessa Mato Grosso do Sul. Esses projetos, espalhados por diversas cidades, mostram como o amor pelo cinema e o profissionalismo dos realizadores regionais contribuem para o fortalecimento do audiovisual brasileiro.
O ator Espedito Di Montebranco, que integra o elenco de Do Sul, a Vingança, destaca a importância simbólica e cultural do longa: “Fico feliz em vários sentidos com esse filme. Primeiro, por valorizar a geografia e as histórias de Mato Grosso do Sul. Quem assistir vai sentir orgulho de pertencimento, vai se identificar em algum momento com algo retratado. É um filme de ficção, com elementos de bang-bang e muito humor”, explica.
Espedito também ressalta o impacto positivo da produção na imagem do Estado: “Levar o nome de MS para o mundo de forma positiva é algo muito significativo. Geralmente, quando somos mencionados, é por notícias negativas — feminicídios, o Pantanal queimando, apreensões de drogas, ataques de animais. Mas sabemos que nosso Estado é lindo, com águas cristalinas em Bonito, o Pantanal, cachoeiras, furnas, serras… Temos uma diversidade de cenários em um único território, e isso precisa ser mais valorizado e divulgado”, conclui o artista.

Foto: Reprodução
Mulheres no cinema
Nada mais revolucionário do que uma mulher com uma câmera nas mãos. Ao longo da história, o cinema brasileiro tem sido marcado pela força de mulheres que ousam contar, através da lente, a realidade feminina em suas múltiplas camadas. No entanto, esse movimento transformador ainda enfrenta grandes barreiras, especialmente na ocupação de cargos essenciais nos bastidores, como direção, produção e direção de fotografia — áreas onde o desequilíbrio de gênero é evidente e persistente.
A cineasta e pesquisadora Marinete Pinheiro, referência no audiovisual sul-mato-grossense, reforça a importância de ampliar o protagonismo feminino no setor. “Acredito no poder do coletivo e na importância de termos mais mulheres na direção e na produção de filmes. O olhar feminino traz uma sensibilidade fundamental para narrar as histórias do nosso estado”, afirma.
Segundo Marinete, embora haja avanços, a presença de mulheres ainda é reduzida em funções-chave do audiovisual, especialmente na direção de fotografia. “A expectativa é que cada vez mais mulheres ocupem esses espaços e contribuam para o crescimento e a diversificação do audiovisual em Mato Grosso do Sul. A luta das mulheres no cinema é contínua e necessária para garantir igualdade e representatividade real”, completa.
NPD
O MIS ganhou em 2024 um presente simbólico e concreto para o fortalecimento de sua produção audiovisual: a inauguração do NPD (Núcleo de Produção Digital), em Campo Grande e tem como missão democratizar o acesso à produção de conteúdos audiovisuais independentes e não comerciais, além de qualificar jovens e adultos por meio de cursos, oficinas, mostras e palestras
Entre suas principais ações, estão a produção de documentários, vinhetas, animações e filmes de curta, média e longa-metragem em todo o estado, com incentivo à formação de parcerias estratégicas e à elaboração de editais que garantam o acesso a equipamentos e infraestrutura técnica.
O secretário de Estado de Turismo, Esporte, Cultura e Cidadania, Marcelo Miranda, destacou que a criação do NPD representa mais do que um investimento em cultura, é uma ferramenta de transformação. “Apesar de Mato Grosso do Sul já contar com produtores audiovisuais talentosos, o desafio é expandir e consolidar essas iniciativas. O NPD tem um papel fundamental nesse processo: fortalecer a produção local e atrair novos agentes para o setor, inclusive no interior do Estado”, afirmou.
Futuro
Desde 2019, a UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) conta com o primeiro curso de Audiovisual do Estado, que já vem contribuindo significativamente para a produção cinematográfica no estado com curtas, médias e longas-metragens reconhecidos em festivais, além de promover eventos como o Festival de Cinema Universitário Desver.
A cineasta Marinete Pinheiro destaca a importância da formação nesse processo: “As primeiras turmas ainda são recentes, mas já vemos uma qualificação muito mais sólida. Isso impacta diretamente na qualidade das produções e na formação de equipes técnicas preparadas para o mercado”.
O presidente da Fundação de Cultura de MS, Eduardo Mendes, finaliza e reforça o potencial do setor: “Mato Grosso do Sul produz cinema de qualidade. Queremos transformar isso em geração de emprego e renda, com editais de fomento, ativação da Film Commission e eventos como o Pantanal Film Fest e Bonito CineSur. São ações que podem colocar o Estado no mapa do cinema nacional, tanto como produtor quanto como cenário”.
(Com informações da Fundação de Cultura).
Amanda Ferreira
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